O
tratamento humanizado faz parte dos processos para melhorar a qualidade de vida
e vai muito além de um bom atendimento clínico
“O paciente não é só a doença
que ele tem”. De forma bem resumida, a radio-oncologista Bruna Bonaccorsi,
diretora clínica do Instituto de Radioterapia São Francisco, explica que o
olhar do médico para o paciente precisa ir muito além da doença que ele
apresenta. Segundo a médica, no caso da oncologia, os pacientes precisam de um
acolhimento muito mais intenso, que envolve ações para melhorar não apenas a
saúde, como também a qualidade de vida.
Entende-se por qualidade
de vida um conjunto de fatores que inclui saúde física e mental; nível de
independência para fazer tarefas cotidianas e características ambientais e
sociais. “Saber se o paciente está conseguindo fazer tarefas cotidianas é uma
questão simples que, para ele, significa tudo”, diz a médica. “O atendimento
humanizado não se refere somente a ser bom. Olhar no olho, tocar e ouvir o
paciente é o mínimo!”, exclama.
Diversos estudos já
demonstraram que pacientes com maior suporte familiar apresentaram melhor
qualidade de vida que os demais. “O paciente precisa sentir que a outra pessoa
está pensando nele, fazendo de tudo para deixá-lo confortável, percebendo o que
o afeta, resolvendo o problema”, comenta Bruna.
Segundo a médica, além do
suporte familiar, algumas atitudes mínimas do médico durante o atendimento
podem auxiliar o paciente de forma importante. “Além das perguntas de praxe, eu
tenho sempre o costume de perguntar o que o está incomodando. Às vezes, a
resposta é algo completamente diferente do que eu esperava”, afirma.
Estudos de alternativas
para melhorar qualidade de vida
Um artigo publicado pela Sociedade
Americana de Oncologia Clínica levantou três efeitos colaterais do tratamento
oncológico que afetam a qualidade de vida do paciente: fadiga, perda de peso e
neuropatia periférica causada por alguns quimioterápicos. “É importante
identificar esses sintomas pois a ação do médico para melhorá-los irá afetar a
vida do paciente de forma positiva”, diz Bruna.
A fadiga será relatada por
até 65% dos pacientes em algum momento do tratamento, até mesmo algum tempo
depois. Entre as causas, estão alterações no metabolismo muscular e distúrbio
do ritmo circadiano. Especialistas estudam o uso de soluções farmacológicas e
não farmacológicas para esse sintoma, algumas diretrizes apontam o exercício
físico moderado como alternativa, por exemplo.
Outro efeito é a perda de
peso, que afeta não só a qualidade de vida como também os efeitos do tratamento
e pode trazer risco de complicações. Nesse caso, os cuidados com a nutrição dos
pacientes precisam estar relacionados à identificação precoce dos pacientes em
risco. “Às vezes se faz necessário ser enfático em relação ao uso de sondas
para a alimentação, por exemplo, mas o paciente tem a palavra final, e não
podemos obrigá-lo a isso”, diz a médica. “Alguns insistem até o final em não
colocar sonda, e isso só prejudica o desfecho do tratamento e, em algumas
vezes, até a relação médico-paciente”, comenta. É necessário também
atenção ao diagnóstico cuidadoso de deficiências relevantes, realizado por
especialistas; e aos cuidados individualizados.
Já a neuropatia periférica
é um dos problemas mais comuns em pacientes que recebem quimioterapia. Os
sintomas podem incluir dor, formigamento, dormência e aumento da sensibilidade
à temperatura. Segundo o artigo, vários estudos avaliaram a acupuntura como uma
opção não farmacológica, mas ainda não há evidências científicas do benefício.
“A atenção à qualidade de
vida significa, além do atendimento, a indicação de medicação, a indicação de
métodos alternativos, como o exercício físico e acupuntura citados, mas também
o acompanhamento após o tratamento. E, às vezes, apenas respeitar a vontade do
paciente”, conclui Bruna Bonaccorsi.
IRS
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