Recentemente mais uma família brasileira foi impedida de ingressar no território americano. Em termos exatos não se tratou de uma deportação, mas as consequências são semelhantes. É importante retratar a situação de forma mais simples, assim todos podem compreender o que de fato pode acontecer.
No final de maio, uma família me contatou buscando
entender o motivo do impedimento da entrada nos Estados Unidos. Durante o
relato, explicaram que passaram aproximadamente 14 horas em uma pequena sala no
aeroporto sendo interrogados com uma grande pressão das autoridades e não
tiveram qualquer informação a respeito do ocorrido. Devido a situação, eles
cancelaram o visto de turismo e voltaram ao Brasil com a documentação
fornecida pelos agentes da imigração.
Para contextualizar, a família saiu de Brasília no
dia 30 de março de 2021 a caminho de São Paulo e em seguida para Cancun, no dia
2 de abril de 2021. Eles permaneceram no México até o dia 17 de abril, quando
realizaram o teste de Covid-19 e viajaram para Boston, nos EUA. Os documentos
enviados pela imigração relatam que o casal possuía aproximadamente US$ 9 mil
dólares em espécie, estadia em hotel por 22 dias, assim como aluguel de carro e
passagem de retorno para o dia 10 de julho de 2021.
A intenção era fazer parecer que seriam férias em
família de aproximadamente dois meses, mas na verdade o intuito era permanecer
no hotel até conseguir estabelecer uma residência fixa no país. No momento da
entrevista alfandegária, os agentes pediram mais detalhes e aprovaram a entrada,
mas durante a segunda inspeção, após o escaneamento das malas, a tratativa foi
diferente.
O agente os levou até a sala de entrevistas e fez
uma série de perguntas e nesse período, também pediu que eles digitassem
determinados números de telefone em seus celulares, para saber se eram
reconhecidos, e de fato eram. Isso porque o casal fazia parte de um grupo sobre
Boston com informações sobre moradia, empregos, vivências, etc.
Essas informações e até mesmo os prints
destas ligações constam no FOIA (Freedom of Information Act, documento
que relata todos os passos de quem visita os Estados Unidos) do visto da
família. Embora o grupo de WhatsApp já não estivesse mais no celular,
informações como números de celulares podem permanecer intactos na nuvem. Essa
situação fez com que todos tivessem que voltar ao Brasil.
Portanto, essa história é uma forma de ressaltar
que a imigração dos Estados Unidos tem muito mais informações do que as pessoas
imaginam. Existe sim um monitoramento de aplicantes de visto. Mas especialmente,
esse caso é parecido com o último que comentei e me parece que a “malha fina” é
fruto de outra entrevista do mesmo tipo em que os telefones do grupo em questão
foram salvos pelos agentes imigratórios.
De fato, a família estava planejando permanecer nos
Estados Unidos, mas no FOIA enviado pela imigração não existe nenhuma
informação sobre irregularidades, afinal, o visto de turismo já era utilizado
por eles desde 2018 e não existia uma suspeita inicial.
Com isto, como sempre recomendo, é essencial assumir
que os agentes sabem de tudo, por isso não adianta tentar ir aos Estados Unidos
com um visto de estudante ou de turismo e tentar outras formas de ficar no país
por mais tempo. Existem diversas maneiras de imigrar legalmente, mas muitos
ainda acreditam que outras plataformas, mais baratas ou mais fáceis, garantem o
mesmo resultado e não é assim que acontece. A família em questão, por exemplo,
recebeu um “gancho” de cinco anos e por esse período não vai conseguir um novo
visto.
Daniel
Toledo - advogado da Toledo e Advogados Associados
especializado em Direito Internacional, consultor de negócios internacionais,
palestrante e sócio da LeeToledo LLC. Para mais informações, acesse: http://www.toledoeassociados.com.br.
Toledo também possui um canal no YouTube com quase 110 mil seguidores https://www.youtube.com/danieltoledoeassociados
com dicas para quem deseja morar, trabalhar ou empreender internacionalmente.
Ele também é membro efetivo da Comissão de Relações Internacionais da OAB São
Paulo e Membro da Comissão de Direito Internacional da OAB Santos.
Toledo e Advogados Associados
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Lee
Toledo Law
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