Na vida, “a gente quer ter voz ativa \ no nosso destino mandar \ mas eis que chega a roda-viva \ e carrega o
Na vida, “a
gente quer ter voz ativa \ no nosso destino mandar \ mas eis que chega a
roda-viva \ e carrega o destino pra lá”. E aí “roda mundo, roda-gigante \
rodamoinho, roda pião \ o tempo rodou num instante \ nas voltas do meu
coração”.
Pronto, a vida acabou. Vida
de conveniências ou de revolução. Todo mundo dançou. “Foi tudo ilusão
passageira \ que a brisa primeira levou \ no peito saudade cativa \ faz força
pro tempo parar” (Fragmentos de Roda Viva, Chico Buarque).
O tempo não para \ Cansado
de correr \ sem pódio de chegada \ mas se você achar \ que eu tô derrotado \
saiba que ainda estão rolando os dados \ porque o tempo, o tempo não para
(Fragmentos de O Tempo Não Para, Cazuza).
No fim de contas, em que
ficamos? Lamento e me advirto: ao fim e ao cabo, nada. Não ficamos. A vida é o
meio. A vida é caminho. “Penso que cumprir a vida \ seja simplesmente \
compreender a marcha \ e ir tocando em frente.
Eu vou tocando os dias \
pela longa estrada, eu vou \ Estrada eu sou \ Cada um de nós compõe a sua
história \ Cada ser em si \ Carrega o dom de ser capaz \ E de ser feliz”
(Fragmentos de Tocando Em Frente, Almir Sater).
Mas, “caminhante, não há
caminho \ se faz caminho ao andar \ ao andar se faz caminho \ e ao voltar a
vista atrás \ se vê a senda que nunca se há de voltar a pisar” (Fragmentos de
Caminhante, Antônio Machado).
O caminho são teus passos,
caminhante. Teus erros e teus acertos são tuas pegadas. Nada mais há. E então,
se tiveres que recomeçar? Refarias teus passos? Pisarias nas tuas mesmas
pegadas? A indagação é de Friedrich Nietzsche.
O eterno retorno: Se te
dissessem que eternamente reviverias, como a viveste, a tua própria vida? Tu
rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasse assim? Ou
considerarias que jamais ouviste algo mais divino?
Se esse pensamento tivesse
o poder de fazer efeito sobre ti, diante de tudo e de cada coisa, tu quererias
repetir a tua vida uma e inúmeras vezes? Ou a tua vida, como a vives, seria um
pesado fardo, se a tivesses que repetir?
Se pudesses repeti-los, tu
reconduzirias teus passos por sobre as mesmas pegadas que deixaste no caminhar
pela vida? Senão, que refarias do teu existir para que o eternamente repeti-lo
te fosse eternamente prazeroso?
A resposta é de Friedrich
Nietzsche: a vida como obra de arte. A construção de uma ética no processo de
subjetivação de certos valores e de exclusão de outros, a qual propicie um modo
de viver que favoreça a existência do sujeito.
Estética da existência:
crítica dos valores generalizantes, que condicionam aos critérios supostamente
universais e pretensamente verdadeiros as infinitas possibilidades de
experimentar a vida, empobrecendo-a.
Marca da Modernidade, o
Discurso sobre o método para bem conduzir a razão na busca da verdade dentro da
ciência: Descartes duvida sistematicamente de tudo, sejam entendimentos que
vigoram por mera repetição, sejam as próprias concepções.
As “notas” da composição
individual, contudo, não estão em outro lugar senão no entorno do indivíduo,
onde a vida concreta acontece. Sartre acode: se a existência precede a
essência, importam as condições de existir.
Ortega y Gasset: “Eu sou eu
e minhas circunstâncias, se não cuido delas, não cuido de mim”. Sou
indissociável da realidade. Quando decido sobre mim mesmo faço-o nas condições
de possibilidade do meu momento e do meu lugar.
Caminhante, o caminho se
faz ao caminhar. Certo, o teu caminho muito particular tu o fazes ao andar
mesmo. Mas, e quanto ao sítio de tuas caminhadas? Que paisagens tu imaginas que
oferecerás a ti mesmo, no teu caminho?
A paisagem da tua estrada é
a tua companhia, é o teu lugar. Estamos condenados a dadas ou buscadas
circunstâncias e a fazer escolhas. As minhas circunstâncias dão sentido a mim;
eu dou sentido às minhas circunstâncias.
Ao cabo, é de saber:
repetirias a tua vida exatamente como a viveste? Se sim, fizeste dela uma obra
de arte. Te compuseste bem a ti mesmo e serás eternamente assim. Mas tu e tua
excelência de ser não viverão só.
Nós viveremos no Brasil
(Que País é Este?, Legião Urbana), num derredor que não está nada bem. Se não
cuido das circunstâncias, não cuido de mim. O tempo não para. Caminhante, ,. no caminho haverá eleição.
Léo Rosa de Andrade
Doutor em Direito pela UFSC.
Psicanalista e Jornalista.
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