Foto (Verkko- Instagram e Annie Spratt) |
A
moda sempre foi um instrumento que diferenciou classes e grupos sociais. Ao
estudá-la a fundo, é possível considerar que ela é uma das principais formas de
expressão humana, já que com ela é possível que as pessoas revelarem seus
estilos e opiniões sem emitir uma única palavra.
Quando se fala em moda, vale lembrar que ela é construída a partir das identificações e experiências das pessoas e está em constante evolução, sendo movida pelas tendências. “Com ela é possível perceber as evoluções e mudanças nos tempos, na sociedade, nas relações e nas evidências das diferenças sociais”, destaca a influenciadora digital Juliana Cunha.
Quando
se observa as mulheres negras do Brasil no século XXI, é possível entender como
o Brasil, um país repleto de referências e costumes culturais, sofreu
influência das diversas culturas que vieram durante o período de colonização, e
impactaram diretamente na moda atual. “Os escravos influenciaram nossos hábitos
e costumes, alimentação e a moda, tendo referências até hoje”. Juliana ressalta
que, “apesar de não haver documentos específicos sobre o assunto, é possível
analisar as imagens de época e ver como a cultura
afro até hoje se faz presente na moda”.
Juliana
Cunha revela que a moda com essas referências ganhou força a partir dos anos
90, quando surgiram meios de comunicação voltada para esse público e sua
história passou a ter destaque. “Esta moda foi construída baseada em nosso
clima tropical e tem grande atuação nas periferias, baseada nos gostos do povo
preto, mas também sendo possível ser usada por povos de diferentes
etnias. É importante considerar que a cultura africana é marcada pelo uso
de variadas cores, estampas e produtos feitos a mão, e isto é fácil de se em
nossa moda”.
Alguns
itens tão comuns na moda brasileira atualmente tiveram origem com a cultura
africana, e por hoje serem tão comuns, a população em geral não sabe de sua
origem tão importante para este cenário.
Foto (Luzinete
Martinez-Flicker e Martha Medeiros-Instagram) |
Para se ter ideia, durante o período
escravocrata, os negros produziam suas próprias roupas e com o passar do tempo
essas roupas foram também usadas pelo colono. Juliana explica que “o produto
que eles tinham acesso era um algodão grosso, que não passava pelo processo de
tingimento e, a partir de estudos, foi percebido que neste período iniciamos a
produção em massa, já que existiam moldes de diferentes tamanhos para fazer as
peças. Para se ter uma ideia, atualmente, a camiseta branca com calça de linho
é um look que atrai muitos usuários”, revela.
Uma outra curiosidade é sobre as miçangas. Na
cultura africana, elas sempre foram muito utilizadas como adorno, apontadas
como um símbolo de beleza, riqueza e proteção. “Além das peças com significado
como figas, búzios e moedas, por exemplo, é possível observar que na umbanda,
religião que nasceu no Brasil, as miçangas são utilizadas como forma de
proteção. Esta é uma tendência no âmbito dos acessórios que, desde 2019, vem
crescendo e tendo cada vez mais adeptos no mercado brasileiro”, detalha a
influenciadora.
Outro
costume tão usado pelas mulheres brasileiras, mas pouco explicado, é o de usar
renda branca em eventos. “As mulheres baianas participantes da umbanda usam
vestidos de renda branca como uma maneira de barrar energias negativas em dias
de trabalho, e é apenas em dias de trabalhos mediúnicos em que elas podem usar
essas peças como uma maneira de fazer a separação entre o sagrado e o profano.
Observando nossa cultura atual, podemos ver como adaptamos esta cultura e temos
o hábito de usar roupas de renda branca em momentos festivos”, destaca Juliana.
Foto Nataly Neri e Pinterest (e livro Escravos brasileiros do século XIX) |
Falando em cores, a cultura africana utiliza as estampas como símbolos de identidade e prosperidade do grupo. Ao associar este elemento com o clima tropical brasileiro, esta prática passou a ser adotada pela moda brasileira. “Usar as cores fortes, estampas geométricas é a tendência mais evidente da influência africana na nossa moda.”
“Como
pode-se ver, a moda afro-brasileira é forte em diversas maneiras, mas, ainda é
pouco retratada nas coleções de estilistas, além de não termos estilistas
negros em destaque no mercado. Diante disso, o ideal seria valorizar nossas
referências e história para que a cultura do nosso país seja cada vez mais
forte e reconhecida nacional e internacionalmente”, completa Juliana Cunha.
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