Pesquisadores
da Universidade de Florença registraram aumento de 188% ao longo de 2020
Segundo
endocrinologista, isolamento social cria ambiente propício para pico de
puberdade precoce
Após um ano de isolamento social contra o novo
coronavírus, foi observado um aumento significativo de casos de puberdade
precoce, segundo estudo italiano publicado pela revista Italian Journal of
Pediatrics¹. Este aumento hormonal antes do período regular que vem
acontecendo entre os jovens possui diversos fatores, dentre eles, o
sedentarismo, o sobrepeso e o uso desenfreado de aparelhos eletrônicos,
problemas muito comuns na pandemia, devido a restrição de espaços e interação
humana.
O crescimento incomum de casos de maturação
sexual antes dos oito anos foi identificado pelos pesquisadores da Universidade
de Florença, na Itália, ao compararem o número médio de casos de puberdade
precoce registrados durante a pandemia, em 2020, com os últimos cinco anos do
departamento de pediatria do hospital universitário. Foram excluídas as causas
orgânicas de puberdade precoce, como tumores ou lesões no sistema nervoso
central, e descobriram um salto expressivo no número, de cerca de 17 para 49
casos no período avaliado, representando aumento de 188%.
De acordo com Wallace Miranda, médico
endocrinologista formado pela Universidade Federal do Piauí e membro da Doctoralia, maior plataforma de saúde do mundo, o sobrepeso e a
obesidade são uns dos principais responsáveis para esse salto na puberdade
precoce. "O tecido gorduroso produz um hormônio chamado leptina, que tem
como principais funções controlar o apetite, reduzir a ingestão de alimentos e
regular o gasto energético, permitindo manter o peso corporal ou não, e atuando
diretamente na ativação da puberdade." Essa evidência é vista comumente em
meninas, uma vez que o aumento de peso nos meninos desencadeia um processo
retardatário da puberdade.
Naturalmente, o sexo feminino tende a entrar no
processo de maturação mais cedo e os primeiros sinais da puberdade são o
aparecimento do broto mamário e o crescimento dos pelos pubianos e axilares. Em
seguida, chega a primeira menstruação. Já nos meninos, ocorre aumento do volume
testicular, desenvolvimento peniano, além da aparição dos pelos pubianos,
axilares e faciais. Outra característica típica é a mudança da voz, assim como
a aceleração do crescimento. Embora a puberdade precoce seja mais comum entre
as meninas, o quadro também pode afetar os meninos, o que prova a importância
de ficar atento aos sintomas e não deixar de realizar o acompanhamento médico
frequente.
Diagnóstico
Ainda segundo o especialista, "o
sedentarismo, as mudanças nos hábitos alimentares e o uso excessivo de
eletrônicos que a pandemia trouxe, criaram um ambiente propício para o aumento
súbito de diagnósticos da condição". É o que apontam os registros da Doctoralia Lab, plataforma para agendamento online de exames, com
crescimento de 324% nas marcações de Ultrassonografias feitas por pais e/ou
responsáveis, entre agosto e dezembro de 2020. "O processo fundamental
para a confirmação da condição consiste em uma avaliação clínica, exames
laboratoriais para a área hormonal e exames de imagem, como raio-x para
identificar a idade óssea e ultrassonografia pélvica exclusivamente em
meninas."
Segundo Dr. Wallace, as crianças que apresentam
os sinais da puberdade precoce, correm o risco de sofrer alterações no
crescimento, levando à diminuição de sua estatura final, além de ter mais
chances de desenvolver futuramente obesidade, hipertensão, diabetes tipo 2,
infarto e acidente vascular cerebral (AVC). "Outros riscos relacionados à
puberdade precoce são os transtornos psicológicos e emocionais ligados a mudanças
de comportamento, provocados pelas alterações hormonais. Por isso, é
interessante que os jovens tenham acesso ao acompanhamento de um
psicólogo", completa.
Para desacelerar o processo da puberdade, é
necessário que o jovem procure por um médico endocrinologista de confiança para
entender o tratamento mais adequado. "Cada quadro será avaliado
individualmente, mas costumamos trabalhar com um tratamento muito comum, com
medicamentos que atuam no bloqueio no eixo da hipófise e do hipotálamo,
responsáveis pela produção e liberação de hormônios, adiando a puberdade para
um momento mais apropriado para a criança", finaliza o endocrinologista.
Doctoralia
Referências Bibliográficas
1 Increased incidence
of precocious and accelerated puberty in females during and after the Italian
lockdown for the coronavirus 2019 (COVID-19) pandemic. Stefano Stagi, Salvatore
De Masi, Erica Bencini, Stefania Losi, Silvia Paci, Maria Parpagnoli, Franco
Ricci, Daniele Ciofi & Chiara Azzari. Nov/2020.
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