Após meio ano de confinamento e escolas fechadas no Brasil, algumas cidades experimentam a reabertura e o debate sobre a necessidade de retomar as aulas presenciais ganha força. Os argumentos são fortes - entre eles, o fato que se restaurantes, bares, shoppings, academias e todo tipo de comércio estão abertos, por que a educação tem que ser deixada por último? A educação tem que ser prioridade no país. Em países desenvolvidos como Noruega, Dinamarca e França, as escolas foram abertas na primeira onda de flexibilização. Na Alemanha, as escolas ficaram fechadas por 68 dias. E nós já estamos há mais de 200 dias sem aulas presenciais.
Mas não podemos comparar maçã com laranja. Somos o
segundo país em mortes pela Covid-19 e o número de novas contaminações ainda
são altos por aqui. O retorno seguro tem ocorrido em regiões com queda na taxa
de transmissibilidade ao longo de quatro semanas e alguns estados começaram a
abertura pelas redes particulares de ensino. Onde todos querem chegar é no
ponto de equilíbrio em que os riscos de contaminação não sejam maior que os
prejuízos do isolamento para as crianças e adolescentes.
Também não podemos pensar a educação brasileira
pelo prisma das escolas particulares, que investiram milhões para proporcionar
as melhores aulas remotas, sistemas avançados de avaliação digital dos alunos,
treinamento de professores e pesquisas pedagógicas para conseguir o melhor
aproveitamento dos estudantes que estão no conforto de suas casas, com seus
computadores, smartphones e tablets. É importante pensarmos na parcela da
população que não tem internet, nos estudantes de periferia que se preparam
para o Enem e sequer possuem um gadget para receber as aulas remotas, nos pais
que já precisam voltar ao trabalho e ainda estão com as crianças em casa. Ou
seja, não seria mais prudente as aulas presenciais retornarem com as crianças e
adolescentes que estão com maior dificuldade com o ensino remoto? A equação
deveria considerar apenas aspectos sociais, de saúde e educação, no entanto,
cada vez mais perto das eleições municipais, tem sido contaminada pelo cálculo
político-eleitoral.
Estamos realizando uma pesquisa com mais de 10 mil
pais e responsáveis pelos nossos alunos e resultados preliminares revelam que
eles se mostram muito divididos quando o assunto é o retorno às aulas
presenciais: mais de 50% ainda não se sentem seguros em mandar seus filhos para
a escola e mais de 80% estão satisfeitos com o ensino on-line. Entendemos que
essa decisão passa pela família, que precisa ser co-responsável por essa
definição. Mas em vez de ficar discutindo qual a data da reabertura, as escolas
e municípios devem estar preparando os protocolos. Como será
feito o isolamento das turmas, o controle da contaminação, como serão os
protocolos de higiene, a divisão pedagógica entre o presencial e o on-line,
como garantir a parceria com as famílias para que todas as medidas sejam
cumpridas, além de um planejamento capaz de dar conta das demandas pedagógicas
e psicológicas de estudantes, professores e demais profissionais da educação.
Estamos prontos para o retorno. Mas isso não
significa que devemos retornar. Em nossas escolas, a Secretaria
Estadual da Saúde é quem definirá quando as aulas presenciais
serão retomadas. Enquanto estamos fechados, não estamos parados. Pelo contrário
– estamos repensando a escola e as práticas pedagógicas o tempo todo.
Evoluímos, inovamos, tornamos o aprendizado mais inclusivo, democrático e
personalizado de acordo com as potencialidades de cada indivíduo. E quando
voltarmos, temos certeza que a escola nunca mais será como era antes.
Celso Hartmann -diretor
geral do Colégio Positivo
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