Desenvolvimento de
senso crítico e da capacidade de analisar situações complexas são fundamentais
para que novas gerações consigam reconhecer mentiras e combater a desinformação
e o discurso de ódio
Com as pessoas consumindo e compartilhando
livremente um número cada vez maior de informação originada em todos os cantos,
o fenômeno das fake news cresce a cada dia de forma acelerada, e combatê-lo
já se tornou um dos grandes desafios da vida moderna. Segundo estudo publicado
no American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, em 2020, o fenômeno das fake news
já matou mais que a Covid-19. Um levantamento feito no início de maio pela Rede
Globo revelou que nove entre cada dez brasileiros com acesso à internet já
haviam recebido pelo menos um conteúdo falso ou desinformação sobre o
coronavírus, por exemplo. Desses dez brasileiros, sete acreditaram no que
leram.
A alta taxa de analfabetismo no Brasil (11,5
milhões de pessoas, segundo o IBGE) faz com que as pessoas estejam suscetíveis
a receber uma informação, não compreendê-la corretamente e repassá-la (mesmo
podendo ser falsa) apenas por não saber interpretar um texto. De acordo com a
empresa de cibersegurança Kaspersky, 16% dos brasileiros desconhecem
completamente o termo fake news e 62% da população não sabe
reconhecer uma notícia falsa. Os últimos números do Programa Internacional de
Avaliação de Estudantes, (Pisa, na sigla em inglês) mostram ainda que apenas 2%
dos estudantes brasileiros são capazes de compreender textos longos, lidar com
conceitos abstratos e estabelecer distinções entre fato e opinião, com base em
pistas implícitas relativas ao conteúdo ou fonte das informações.
Mas afinal, como diferenciar uma informação falsa
de outra verdadeira? Como saber identificar que o discurso, apesar de atraente,
pode ser mentiroso? De acordo com especialistas no tema, isso só é possível com
o desenvolvimento de uma análise crítica, que as pessoas só têm condições de
exercitar a partir do domínio de competências e habilidades de leitura e
escrita que estão no cerne da formação de leitores críticos e, portanto, mais
preparados para discernir as armadilhas das fake news. Prevista na nova BNCC (Base
Nacional Comum Curricular), a Educação Midiática é a abordagem que permite a
construção dessa aprendizagem sobre o que é e como se produz a informação, com
o objetivo de combater a desinformação.
E não é só no Brasil que a Educação Midiática vem
sendo a aposta da sociedade contra as fake news. Inúmeras pesquisas em todo o
mundo atestam que a Educação de qualidade está diretamente relacionada à
disposição para não acreditar em fake news. Um estudo realizado em 2016
por um grupo de pesquisadores de psicologia social na Holanda constatou que
pessoas adequadamente educadas estão menos suscetíveis às teorias
conspiratórias. Para a coordenadora editorial do Sistema Positivo de Ensino,
Milena dos Passos Lima, um dos principais objetivos da escola atualmente deve
ser oferecer uma preparação que permita ao aluno analisar situações complexas,
que desenvolva nesse aluno a capacidade de olhar uma informação e fazer uma
interpretação correta, de enxergar o que está por trás dessa notícia, o que ela
reflete, qual a influência do contexto, da cultura local e a quem ela
interessa. "Um dos desafios da Educação como um todo é garantir que o
aluno adquira a capacidade de ter diferentes olhares sobre um mesmo assunto e,
para isso, precisamos envolver todas as áreas do conhecimento: Linguagens,
Matemática, Ciências da Natureza e Ciências Humanas e Sociais. A Educação
Midiática é um caminho tão importante para a escola percorrer com os alunos
porque ela faz parte da vida do aluno o tempo todo", destaca Milena.
E para que a Educação consiga formar cidadãos com
independência e senso crítico para decidir sobre o consumo de qualquer tipo de
informação, Milena defende que isso precisa começar desde cedo, já na infância.
"A Educação Midiática deve ser introduzida nas escolas já nos níveis
iniciais de ensino. O ideal é trabalhar essa abordagem em todos os níveis do
ensino, promovendo uma construção - permeada tanto pela análise dos meios de
comunicação, das diferentes mídias, como também por um aprendizado mediado pela
tecnologia."
A coordenadora acredita que a reforma do Ensino
Médio vai permitir que todo esse trabalho seja ampliado e aprofundado.
"Com a legislação que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional e estabelece uma mudança na estrutura do Ensino Médio, é possível
fazer um trabalho ainda mais aprofundado. O Novo Ensino Médio amplia o tempo
mínimo do estudante na escola de 800 horas para 1.000 horas anuais e define uma
nova organização curricular, mais flexível, com uma Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) e ainda a oferta de diferentes possibilidades de escolhas aos
estudantes, os Itinerários Formativos, com foco nas áreas de conhecimento e na
formação técnica e profissional. Teremos um espaço fértil para esse tipo de
trabalho nos Itinerários Formativos, que passam a compor a grade curricular a
partir do ano que vem nas mais de 1.800 escolas conveniadas ao Sistema Positivo
de Ensino. Vamos poder trabalhar gráficos e fake news em Matemática, realizar
trabalhos em paralelo com Língua Portuguesa e com as Ciências da Natureza, para
atestar, por exemplo, o quanto de ciência há por trás das fake news
e como elas são construídas, muitas vezes se aproveitando de elementos
científicos para conferir credibilidade", enfatiza Milena.
Sistema Positivo de Ensino
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