Psicóloga Alethéa
Vollmer aponta que a pandemia tem sido uma oportunidade de autoconhecimento.
Muitas pessoas passaram a se olhar como são e a gostar do que veem, enquanto
outras tiveram a oportunidade de se transformar para isso.
“A mulher nunca chega no ponto de se aceitar como é
naturalmente, porque as pessoas não têm um naturalmente”, ressalta a psicóloga
especialista em inteligência emocional, que atua há mais de 20 anos com
atendimento clínico no Brasil e em Portugal. Ela explica que as mulheres, em
especial, estão baseadas em um conceito de identidade que ancora o psicológico
a partir do reconhecimento pelo mundo externo. Um exemplo disso é moda da
transição capilar, uma prática libertadora proporcionada pelo confinamento.
Nos últimos seis meses, as redes sociais de muitas
famosas foram tomadas por imagens de cabelos se transformando por falta de
procedimentos de beleza, revelando a possibilidade de autocuidado a ponto de
inspirar o universo feminino a aceitar com as madeixas brancas, os cachos e os
estilos próprios que cada cabelo passou a ter.
“O Eu verdadeiro, a despeito de colocado na sua
essência, sempre precisará do olhar do outro para dizer que ele pode existir. É
uma questão de constituição. Eu me constituo a partir deste discurso e as
pessoas me olham e veem desta forma. Não adianta eu dizer que meu cabelo é
lindo e o outro dizer que não. Acabo criando uma dissociação em mim e o
discurso do outro tem um peso tão grande que, ou eu me escondo, ou eu começo a
brigar com o outro pela aceitação”, explica a psicóloga Alethéa.
E quando as pessoas conseguem se olhar no espelho e
se verem da forma que estão, a gostarem deste “novo” cabelo, elas passam a se
aprovarem para si mesmas e para o mundo. “Elas relaxam um pouco mais. Conseguem
distinguir que o outro tem um cabelo diferente, mas não melhor ou pior,
aprendem a lidar com diversidade. Até parece bobagem, mas a ‘simples’ aceitação
por um cabelo é capaz de interferir em escolhas de vida importantes, como
profissões, parcerias sexuais e a forma como existir no mundo”, analisa a
especialista em inteligência emocional.
Alethéa lembra que durante muito tempo o cabelo
crespo, sobretudo o negro, era um cabelo chamado de ‘cabelo duro’, que não
tinha reconhecimento nenhum, não era aceito. Então, a única forma que se podia
era não ter este cabelo. E aí vem um movimento, sobretudo político, que diz:
mulheres, sejam protagonistas e se aceitem. Neste contexto, o termo de transição
capilar é muito feliz pelo seu significado, porque se trata da mudança que
acontece aos poucos. “Eu vou começar a me constituir de outra forma e a
sociedade vai me autorizando a isso. Por exemplo, antigamente não existia um
produto específico para cabelo crespo. Hoje, são diversas as opções
apresentadas pela indústria, porque ela abraçou este discurso e está dizendo
para essa mulher que ela pode ter esse cabelo. Então, existe o reconhecimento.
Não tem esse natural, é uma produção que se naturaliza”, explica a psicóloga.
Esse reconhecimento pelo mundo causa completa
mudança, porque à medida que a mulher se aceita, a sua autoestima melhora, ela
passa a se sentir prestigiada pelo outro. O ser humano está constantemente em
busca deste sentimento, que vem de um processo muito lento. “Por muitos anos
esse cabelo crespo que hoje é aceito e cobiçado, foi tiranizado”, complementa
Alethéa.
Alethéa
Vollmer - Psicóloga, é Mestre em Ciências Criminais com
ênfase em Violência, Pré-Doutorada em Sociologia pela USP e Graduada em
Psicologia pela UNISINOS, no Rio Grande do Sul. A especialista também é
professora de MBA em Gestão de Marcas – Branding e Assistente Técnica do
Judiciário em Processos. No segmento corporativo, Alethéa é partner do
Saindo
da Média, metodologia que visa auxiliar a empregabilidade desde os
estudantes na Universidade, até pessoas que buscam por trabalho, recolocação
profissional, executivos etc.
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