Em época de Black Friday o espírito do poder de compra domina as
propagandas e os desejos das pessoas. É fato que uma boa promoção pode trazer
aquele bem tão desejado ainda mais rápido, porém é preciso ter cuidado para não
cair na cilada de comprar apenas por impulso. Segundo pesquisa recente
realizada pelo SPC Brasil (Serviço de Proteção ao Crédito), cerca de 85% dos
consumidores admitem fazer compras sem qualquer planejamento. No estudo, 47%
dos entrevistados revelaram que o maior motivo para a gastança desenfreada é a
ansiedade, seguida de perto pela a insatisfação com a própria aparência, que
atinge 44% do público da pesquisa.
Para a psicóloga Lia Clerot, o impulso é uma forma de compensação
para suprir problemas de autoestima e inseguranças. “Acredito que a falta de
visão de si mesmo e de amor próprio faz com que a pessoa desconte todas as suas
frustrações e problemas em coisas externas, uns descontam na comida, outros na
bebida e muitos nas compras”, ressalta a especialista. Segundo ela é preciso
estar atento aos sinais, pois a pessoa que sofre desse mal vive num vazio
constante, já que o prazer da compra é muito efêmero e se vai muito rápido, às
vezes horas depois do bem adquirido.
Um alvo fácil para as campanhas e promoções de fim se ano são os
mais jovens, como crianças e adolescentes. Conectados a todo tempo na web, onde
tudo acontece com certo imediatismo, eles convivem a todo tempo com essa
urgência de conseguir o querem o mais rápido possível e transmitem essa
sensação aos pais na hora de comprar. “Nessa situação cabe aos pais avaliarem a
necessidade de compra e não apenas satisfazer a vontade do filho. É válido
ponderar quantos presentes a criança já ganhou, o real uso que ela fará dele e
se precisa daquilo que está pedindo”, explica Lia.
Uma dica da psicóloga é evitar o cartão de crédito e o motivo está
estritamente ligado a ínsula cerebral (responsável por, entre outras funções,
coordenar as emoções). “Quando saímos só com dinheiro na carteira e
gastamos um grande volume, visualmente aquela movimentação nos impacta, já com
o cartão cria-se a ilusão de que não houve um gasto já que não se viu
quantitativamente o quanto se gastou, ali no ato de pagar o caixa”, finaliza.
Outra dica é contar até dez “pode parecer estranho, mas contar mentalmente aciona
o aspecto racional e ajuda a controlar o impulso” revela. Outra boa medida é
diferenciar a necessidade do desejo, por exemplo: se seu celular estraga, a
compra de um novo é uma necessidade, porque você usa o telefone como meio de
comunicação, mas se ele está em bom estado e você apenas quer um mais moderno,
isso configura desejo.
Para o especialista em inteligência emocional, Fabrício Nogueira,
relembra que os sentimentos, às vezes, reforçam as compras impulsivas. “A
aquisição instantânea de algo, muitas vezes, é feita para suprir um sentimento,
mas ela não preenche o vazio e não soluciona os possíveis problemas emocionais,
por isso, nesse momento é melhor refletir sobre a necessidade de compra dos
bens de consumo,” afirma o especialista.
O desejo é uma sensação de imediatismo muito comum na sociedade
moderna. “Vivemos a geração fast food, ou seja, tudo é pra agora, e esse
imediatismo é que acaba trazendo frustração e infelicidade. Acredito que a
compra de algo que gostamos é importante, mas é necessário avaliar se temos a
condição financeira para isso. A aquisição instantânea ou simplesmente ter algo
porque o outro tem, não preenche o vazio e não resolve problemas, pensar melhor
sobre as atitudes que tomamos é sempre uma boa solução para todas as áreas
da nossa vida” ressalta Fabrício.
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