Novos estudos apontam conexões diretas entre eventos
climáticos extremos atuais e o clima influenciado pela ação humana
Secas nos Estados Unidos e no leste da África, enchentes
na América do Sul e Bangladesh, ondas de calor na China e no Mediterrâneo.
Segundo um novo estudo, esses eventos climáticos extremos registrados em 2017
se tornaram mais possíveis por causa da mudança do clima causa pelo aumento da
concentração de gases de efeito estufana atmosfera decorrente de atividades
humanas.
Publicada hoje (10/12) no Bulletin of the American
Meteorological Society (BAMS), a 7ª edição do relatório Explaining
Extreme Events from a Climate Perspective analisou a correlação entre o
aquecimento da atmosfera causado pelo homem e a ocorrência de eventos
climáticos específicos ao redor do mundo em 2017. O estudo também inclui
análises sobre eventos oceânicos, como as ondas de calor intenso registradas no
Mar da Tasmânia entre 2017 e 2018 - que, segundo a pesquisa, seriam
virtualmente impossíveis sem a interferência da mudança antropogênica do clima.
"Esses estudos nos apontam que a Terra em
aquecimento nos traz novos e mais intensos eventos climáticos extremos ano após
ano", diz Jeff Rosenfeld, editor-chefe do BAMS. "A mensagem da
ciência é que nossa civilização está cada vez mais fora de sintonia com o clima
em transformação".
O relatório apresenta 17 estudos científicos revisados
por pares (peer review) sobre clima extremo em seis continentes e dois
oceanos em 2017, resultado de uma pesquisa que mobilizou 120 cientistas em dez
países e que analisou observações históricas e simulações de modelo para
determinar se e o quanto a mudança do clima influenciou eventos extremos em
particular.
Para Martin Hoerling, meteorologista da Administração
Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, sigla em inglês) e
editor especial do BAMS, as análises reforçam que os eventos climáticos
extremos estão intimamente conectados.
"Esses estudos confirmam predições do primeiro
relatório do IPCC [Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do
Clima] de 1990, que previa mudanças radicais no padrão climático observado no
século XX", diz Hoerling. "A evidência científica apoia com confiança
que a atividade humana está influenciando uma variedade de eventos extremos
atualmente, com grandes impactos econômicos ao redor do mundo".
Os eventos climáticos extremos estudados nas sete edições
do relatório foram selecionados pelos pesquisadores e não representam uma
análise abrangente de todos eventos durante esse período. Cerca de 70% dos 146
resultados de pesquisa publicados nesta série identificaram uma ligação
substancial entre um evento extremo e a mudança do clima.
Nesta edição, o relatório também traz a contribuição de
gestores e planejadores em vários setores da sociedade sobre o uso da ciência
de atribuição na preparação para futuros riscos climáticos, especialmente para
gerenciamento de sistemas de armazenamento de água, planejamento para aumento
do nível do mar, e atribuição de responsabilidade legal pós-eventos extremos.
Essas perspectivas ressaltam a necessidade de os
cientistas do clima trabalharem com os tomadores de decisão para identificar os
efeitos da mudança do clima sobre questões relevantes no dia-a-dia para as
comunidades, as empresas e o poder público.
"Há uma década, estávamos focados em eventos extremos
de escala continental e de meses", disse Rosenfeld. "Hoje, os
pesquisadores estão buscando mais riscos locais, como ondas de calor, risco de
incêndio e inundações em escalas de alguns dias, para identificar áreas de
impacto extremo. Em dez anos, o foco da pesquisa evoluiu o suficiente para
abordar um escopo mais amplo dos desafios sociais".
O relatório está disponível em https://www.ametsoc.org/ams/index.cfm/publications/bulletin-of-the-american-meteorological-society-bams/explaining-extreme-events-from-a-climate-perspective/
Abaixo, algumas das principais conclusões do relatório Explaining
Extreme Events in 2017 from a Climate Perspective:
·
Calor
o
A
mudança do clima fez com que as chances de ondas de calor na região
euro-mediterrânea fossem três vezes mais prováveis do que eram em 1950.
o
No
centro e leste da China, ondas de calor eram raras até alguns anos atrás. Em
2017, foi o evento extremo recordista em registro na região, sendo que
probabilidade de ocorrência hoje é de um evento a cada cinco anos.
·
Seca
o
A
mudança do clima fez com as Grandes Planícies dos EUA secassem 50% mais, mudando
o equilíbrio entre precipitação e evapotranspiração da umidade do solo.
·
Enchentes
o
Chuvas
de monção extremas, de até seis dias de duração, que inundaram o norte de
Bangladesh em 2017, se tornaram 100% mais possíveis por causa da mudança do
clima.
o
As
chuvas torrenciais no sudeste da China em junho de 2017 se tornaram duas vezes
mais prováveis e as que atingiram o Peru em março de 2017, 50% mais provável
(ainda que elas tenham sido afetadas por um ciclo natural de águas costeiras
quentes).
·
Eventos
oceânicos
Os cientistas
descobriram que os recordes de temperatura no Mar da Tasmânia em 2017 e 2018
seriam virtualmente impossíveis sem o aquecimento global.
Temperaturas
superficiais extremamente quentes na costa da África dobraram a probabilidade
de uma seca como a de 2017 na porção oriental do continente, que deixou mais de
seis milhões de pessoas em insegurança alimentar na Somália.
O
recorde negativo de cobertura de gelo no Ártico, decorrente da mudança do
clima, influenciou os déficits recordes de precipitação em grande parte da
Europa Ocidental em dezembro de 2016.
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