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segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

A influência da mudança do clima causada pelo homem sobre eventos extremos


 Novos estudos apontam conexões diretas entre eventos climáticos extremos atuais e o clima influenciado pela ação humana



Secas nos Estados Unidos e no leste da África, enchentes na América do Sul e Bangladesh, ondas de calor na China e no Mediterrâneo. Segundo um novo estudo, esses eventos climáticos extremos registrados em 2017 se tornaram mais possíveis por causa da mudança do clima causa pelo aumento da concentração de gases de efeito estufana atmosfera decorrente de atividades humanas.

Publicada hoje (10/12) no Bulletin of the American Meteorological Society (BAMS), a 7ª edição do relatório Explaining Extreme Events from a Climate Perspective analisou a correlação entre o aquecimento da atmosfera causado pelo homem e a ocorrência de eventos climáticos específicos ao redor do mundo em 2017. O estudo também inclui análises sobre eventos oceânicos, como as ondas de calor intenso registradas no Mar da Tasmânia entre 2017 e 2018 - que, segundo a pesquisa, seriam virtualmente impossíveis sem a interferência da mudança antropogênica do clima.

"Esses estudos nos apontam que a Terra em aquecimento nos traz novos e mais intensos eventos climáticos extremos ano após ano", diz Jeff Rosenfeld, editor-chefe do BAMS. "A mensagem da ciência é que nossa civilização está cada vez mais fora de sintonia com o clima em transformação".

O relatório apresenta 17 estudos científicos revisados por pares (peer review) sobre clima extremo em seis continentes e dois oceanos em 2017, resultado de uma pesquisa que mobilizou 120 cientistas em dez países e que analisou observações históricas e simulações de modelo para determinar se e o quanto a mudança do clima influenciou eventos extremos em particular.

Para Martin Hoerling, meteorologista da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA, sigla em inglês) e editor especial do BAMS, as análises reforçam que os eventos climáticos extremos estão intimamente conectados.

"Esses estudos confirmam predições do primeiro relatório do IPCC [Painel Intergovernamental das Nações Unidas sobre Mudança do Clima] de 1990, que previa mudanças radicais no padrão climático observado no século XX", diz Hoerling. "A evidência científica apoia com confiança que a atividade humana está influenciando uma variedade de eventos extremos atualmente, com grandes impactos econômicos ao redor do mundo".

Os eventos climáticos extremos estudados nas sete edições do relatório foram selecionados pelos pesquisadores e não representam uma análise abrangente de todos eventos durante esse período. Cerca de 70% dos 146 resultados de pesquisa publicados nesta série identificaram uma ligação substancial entre um evento extremo e a mudança do clima.

Nesta edição, o relatório também traz a contribuição de gestores e planejadores em vários setores da sociedade sobre o uso da ciência de atribuição na preparação para futuros riscos climáticos, especialmente para gerenciamento de sistemas de armazenamento de água, planejamento para aumento do nível do mar, e atribuição de responsabilidade legal pós-eventos extremos.

Essas perspectivas ressaltam a necessidade de os cientistas do clima trabalharem com os tomadores de decisão para identificar os efeitos da mudança do clima sobre questões relevantes no dia-a-dia para as comunidades, as empresas e o poder público.

"Há uma década, estávamos focados em eventos extremos de escala continental e de meses", disse Rosenfeld. "Hoje, os pesquisadores estão buscando mais riscos locais, como ondas de calor, risco de incêndio e inundações em escalas de alguns dias, para identificar áreas de impacto extremo. Em dez anos, o foco da pesquisa evoluiu o suficiente para abordar um escopo mais amplo dos desafios sociais".

 

Abaixo, algumas das principais conclusões do relatório Explaining Extreme Events in 2017 from a Climate Perspective:


·         Calor

o   A mudança do clima fez com que as chances de ondas de calor na região euro-mediterrânea fossem três vezes mais prováveis do que eram em 1950. 

o   No centro e leste da China, ondas de calor eram raras até alguns anos atrás. Em 2017, foi o evento extremo recordista em registro na região, sendo que probabilidade de ocorrência hoje é de um evento a cada cinco anos.

·         Seca

o   A mudança do clima fez com as Grandes Planícies dos EUA secassem 50% mais, mudando o equilíbrio entre precipitação e evapotranspiração da umidade do solo.

·         Enchentes

o   Chuvas de monção extremas, de até seis dias de duração, que inundaram o norte de Bangladesh em 2017, se tornaram 100% mais possíveis por causa da mudança do clima.

o   As chuvas torrenciais no sudeste da China em junho de 2017 se tornaram duas vezes mais prováveis e as que atingiram o Peru em março de 2017, 50% mais provável (ainda que elas tenham sido afetadas por um ciclo natural de águas costeiras quentes).

·         Eventos oceânicos


Os cientistas descobriram que os recordes de temperatura no Mar da Tasmânia em 2017 e 2018 seriam virtualmente impossíveis sem o aquecimento global.

Temperaturas superficiais extremamente quentes na costa da África dobraram a probabilidade de uma seca como a de 2017 na porção oriental do continente, que deixou mais de seis milhões de pessoas em insegurança alimentar na Somália.

O recorde negativo de cobertura de gelo no Ártico, decorrente da mudança do clima, influenciou os déficits recordes de precipitação em grande parte da Europa Ocidental em dezembro de 2016.


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