Como
saber se um estado emocional é de origem cerebral (psiquiátrica) ou se decorre
de um conflito psicológico? O psiquiatra e pesquisador Dr. Diego Tavares do Hospital
das Clínicas de São Paulo -SP explica que o cérebro pode adoecer de duas
maneiras: com doenças neurológicas e com doenças psiquiátricas.
“As
doenças neurológicas são doenças que acometem partes do cérebro que desempenham
funções mais ou menos "mecânicas" como movimentos do corpo, visão,
equilíbrio, etc. Quando uma pessoa apresenta uma doença neurológica geralmente
ocorre uma lesão que provoca uma destruição de uma parte do sistema nervoso.
Por isso estas doenças podem ser diagnosticadas por meio de exames como
ressonância magnética e muitas vezes deixam sequelas irreversíveis”, conta o
médico que acrescenta, “já as doenças psiquiátricas decorrem de alterações
químicas e produzem modificação em funções dinâmicas do cérebro, isto é,
funções que não são fixas mas que oscilam ao longo do dia e dos dias
normalmente, são dinâmica”.
Para
exemplificar, Dr. Diego conta que existem doenças psiquiátricas na atenção, que
normalmente oscila em um mesmo dia, não é fixa como um movimento voluntário, é
comum pela manhã a atenção estar baixa, ela se elevar ao longo do dia e voltar
a cair a medida que a noite se aproxima e o sono vem. “Dessa maneira, as
doenças psiquiátricas por serem em funções mais dinâmicas do sistema nervoso
não causam lesão ou destruição do sistema nervoso (pelo menos nos primeiros
anos de acometimento) e por isso não podem ser diagnosticadas por exames que
são uma fotografia do cérebro como uma ressonância magnética”, fala o
especialista.
As
doenças psiquiátricas assim como as doenças neurológicas possuem padrões
pré-estabelecidos de sintomas que constituem cada quadro clínico. Muitas vezes
estes sintomas não mudam e são iguais independentemente do país ou da cultura,
da raça, etc. Já as doenças psicológicas são únicas, porque a história de situações
vividas por cada um de nós é única e os conflitos e esquemas prejudiciais de
vida que muitas pessoas constituem são únicos e decorrem da história de
aprendizado que a pessoa vivenciou ao longo de sua vida e de suas relações e
este tipo de interação é único.
Durante
muitos anos se confundiu doenças psiquiátricas com doenças psicológicas e a
própria Psicologia lutou contra os diagnósticos psiquiátricos com a noção de
que diagnosticar um quadro psiquiátrico seria como criar um rótulo para o
indivíduo. No entanto, na Medicina, toda doença que tem um padrão tem um nome,
que se chama diagnóstico e o diagnóstico é importante para determinar qual
quadro está presente e como ele ocorre, quais as perspectivas futuras, como a
doença evolui, como ela é tratada e como ela se comporta. Hoje em dia estas
questões estão muito mais claras na cabeça das pessoas e cada vez menos existe
preconceito com os diagnósticos em Psiquiatria porque se entendeu que doenças
no cérebro de etiologia Psiquiátrica possuem um padrão e assim como o
cardiologista faz o diagnóstico da doença no coração, o Psiquiatra faz o
diagnóstico da doença no cérebro.
“Quando
uma pessoa tem uma doença psiquiátrica estamos dizendo que aquele conjunto de
sinais e sintomas da doença não decorrem totalmente da vontade da pessoa.
Estamos inferindo que existe algo modificando a predisposição para uma pessoa
se comportar deste ou daquele jeito. Nos quadros muito graves (minoria) a
pessoa pode perder o controle do próprio comportamento e agir de maneira totalmente
alheia a sua vontade mas na maior parte das doenças psiquiátricas, que são
leves, o que ocorre é que a doença acontece junto com o funcionamento
voluntária do indivíduo e uma parte dos seus comportamentos estará sendo
influenciado por aquele estado”, finaliza Tavares.
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