Pode parecer ficção sociológica
futurista, mas não é. Um estudo do Fórum Econômico Mundial, intitulado Futuro do
Trabalho, ressalta que 65% das crianças que estão começando o
Ensino Fundamental terão atividades profissionais que ainda não existem. As
mudanças serão estruturais, estima pesquisa da consultoria McKinsey, salientando que para cada posto de
trabalho eliminado pela tecnologia, 2,4 novos serão criados, principalmente
em startups.
Nesse novo cenário, o grande desafio
para garantir a empregabilidade humana na quarta revolução industrial
encontra-se na educação. Este é um problema sério para países como o Brasil, nos
quais o setor tem sido negligenciado durante muitos anos e sequer consegue
cumprir com qualidade mínima a missão tradicional de alfabetizar, ensinar as
quatro operações e os conhecimentos básicos.
Além da precariedade escolar, o nosso
modelo de educação, a despeito de uma ou outra reforma pontual, foi criado há
muito tempo e está longe de atender às demandas relativas à formação das
presentes e futuras gerações. Assim, o Brasil, para se converter de fato em
nação competitiva, de renda alta e mais desenvolvida, terá de fazer uma dupla
lição de casa na área da educação: recuperar o tempo perdido na estruturação de
um sistema público de ensino eficaz e de excelência e, ao mesmo tempo, prover
os novos saberes que se exigem cada vez mais.
E quais são esses conhecimentos e
habilidades já presentes no currículo de escolas de alguns países
desenvolvidos? Capacidade de solucionar problemas e enfrentar situações
críticas; criatividade; inteligência emocional; familiaridade com as
tecnologias da informação; desenvoltura na comunicação e nas formas de
expressão; facilidade de aprender rapidamente novos conceitos; e formação
multidisciplinar.
Infelizmente, estamos atrasados no
processo de inserção do ensino na nova era do trabalho. Num momento em que o
mundo discute e implementa esses avanços, ainda estamos patinando na aprovação
do novo currículo nacional mínimo, continuamos pagando mal os professores,
assistindo a uma interminável sequência de fraudes e vícios nas licitações para
compra de materiais escolares para o sistema público e taxando com impostos
altíssimos os cadernos, lápis, canetas, réguas e outros produtos essenciais ao
aprendizado de nossas crianças.
Diante desse desafio, que se torna
ainda mais complexo no atual cenário nacional de instabilidade política e crise
econômica, é preciso reformular e direcionar a clássica pergunta sobre o futuro
às autoridades federais, estaduais e municipais da área da educação: o que
vocês querem que o Brasil seja quando nossas crianças crescerem?
Rubens
F. Passos - economista pela FAAP e MBA pela Duke University, é presidente da
Associação Brasileira dos Fabricantes e Importadores de Artigos Escolares e de
Escritório (ABFIAE) e presidente do Conselho da Enactus Brasil.
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