Detalhes
que fazem a diferença
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A Medicina Reprodutiva caminha a passos largos, e é sempre acompanhada de novos exames que fazem diagnósticos incríveis buscando aumentar as chances de sucesso dos tratamentos de fertilização. São exames como pesquisa genética, biópsia do embrião (PGT-A e PGT-M), Trombofilias, ERA e HLA-C /KIR, além de novos medicamentos, tratamentos individualizados e esquemas de estimulação ovariana. A pesquisa leva a constantes novidades, entretanto, muitas vezes, diagnósticos mais simples, e muito importantes, são esquecidos e passam despercebidos.
É o caso das Inflamações crônicas
subclínicas, que aqui chamamos de “inflamações silenciosas” por serem
imperceptíveis e não causarem sintomas, mas que podem interferir na fertilidade
e dificultar o sucesso da gravidez espontânea e também nos tratamentos de
fertilização. Essas inflamações são causadas por razões variadas:
estresse físico, emocional e mental, dieta inadequada, toxinas ambientais ou
problemas simples de saúde, como alergias e obesidade, além de problemas
ginecológicos como ovários policísticos, endometriose, falência ovariana ou
simples processos naturais como a própria ovulação ou mudança cíclica do
ovário.
O QUE É INFLAMAÇÃO?
“Inflamação
é o mecanismo de defesa natural do corpo, faz parte do sistema imunológico e
pode ser desencadeada por muitas coisas. É um processo complexo pelo qual
os glóbulos brancos do corpo são liberados no sangue ou tecidos afetados para
combater a infecção. A inflamação é a maneira de o corpo marcar uma região
para receber atenção do sistema imunológico. Existem dois tipos de inflamação,
aguda e crônica. A inflamação aguda começa rapidamente e geralmente desaparece
dentro de alguns dias. A inflamação aguda nos protege contra células,
vírus e bactérias danificados. Dessa forma, a inflamação é benéfica”,
explica o médico Arnaldo Schizzi Cambiaghi, diretor do Centro de
Reprodução Humana do IPGO.
A
inflamação crônica é sistêmica e pode durar meses ou anos. Várias coisas
podem contribuir para a inflamação crônica, incluindo alimentos
inflamatórios, toxinas ambientais, excesso de peso, estresse, problemas digestivos, alergias, hipertensão, depressão, Síndrome do Intestino
Irritável, fadiga crônica etc. No caso de inflamação crônica, as células imunes pró-inflamatórias
continuam circulando pelo corpo e danificam tecidos saudáveis, incluindo sangue, revestimentos de vasos (aterosclerose), tecido articular
(artrite) e mucosa intestinal (intolerância alimentar), podendo, por fim, causar a queda da qualidade dos espermatozoides e
óvulos, além de causar um ambiente hostil para uma gravidez. Existem várias
razões pelas quais homens e mulheres têm inflamação crônica.
Endometriose, Síndrome do Ovário Policístico
(SOP), doença inflamatória pélvica (DIP) e falência ovariana prematura têm sido
associadas à inflamação crônica e aos resultados adversos da gravidez. Os
pesquisadores levantam a hipótese de que a inflamação crônica pode prejudicar o
ambiente uterino e/ou interromper a cadeia específica de eventos do sistema
imunológico que permitem o implante de um embrião (Levin et al. 2007).
Cambiaghi acrescenta que o ácido araquidônico é a principal prostaglandina pró-inflamatória da Série 2 ativa no organismo, está presente em nossa dieta nos produtos de origem animal (carne e laticínios) e também pode ser fabricado a partir do ácido linolênico (também conhecido como ácido graxo ômega-6 encontrado no óleo de milho, óleo de soja e na carne de animais que são alimentados com milho). Do lado dos “mocinhos” está o ácido eicosapentaenóico (EPA), que é encontrado principalmente em plantas e animais marinhos.
EPA é parte de uma família de compostos chamados ácidos graxos essenciais ômega-3, que também inclui o ácido alfa-linoléico (ALA), ácido eicosapentaenoico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA). EPA é a estrutura lipídica que nosso corpo usa para produzir prostaglandinas benéficas que reduzem a inflamação.
A dieta humana “primitiva” (Dieta do Mediterrâneo) continha uma proporção estimada de 1:1 de gorduras ômega-6 a ômega-3. Hoje, nossa dieta é muito mais inclinada em relação aos ácidos graxos ômega-6 pró-inflamatórios, cerca de 10: 1. Infelizmente, uma vez que os ácidos graxos que comemos são finalmente incorporados em nossos tecidos, essa mudança na dieta distorce nossa fisiologia em direção à inflamação.
Mesmo quando não é acompanhada por um distúrbio reprodutivo, a inflamação crônica pode atrapalhar a ovulação, o equilíbrio adequado dos hormônios em seu corpo e a receptividade endometrial.
Óvulos e espermatozoides saudáveis e hormônios
equilibrados são necessários para uma gravidez bem-sucedida, mas igualmente
importante é a condição e a receptividade do útero. Um óvulo fertilizado deve
se inserir na parede do útero para implantação, mas a inflamação uterina
crônica é uma causa conhecida de falha na implantação e perda precoce.
Condições reprodutivas associadas à inflamação crônica incluem:
· Endometriose
· Síndrome do ovário policístico (SOP)
· Doença inflamatória pélvica
· Miomas uterinos e cistos ovarianos
· Adenomiose e síndrome de Asherman
· Menopausa precoce (insuficiência ovariana prematura)
· Má qualidade de espermatozoides
· Má qualidade dos óvulos
INFLAMAÇÃO E MITOCÔNDRIA
“As mitocôndrias são estruturas minúsculas dentro de
quase todas as células do corpo e responsáveis por
produzir a energia para as células realizarem suas funções. Essas
estruturas minúsculas também são muito vulneráveis à
inflamação crônica. Isso significa é que a inflamação crônica danifica as
mitocôndrias, diminuindo a capacidade geral do corpo de funcionar na sua
plenitude”, explica Cambiaghi.
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INFLAMOGRAMAS
(Exames para identificação precoce
da Inflamação Crônica Subclínica)
Os principais
mediadores dessas alterações são as citocinas, produzidas em grande parte pelo
fígado, entre as quais se destacam a IL-1b, o fator de necrose tumoral-alfa
(TNFa), o interferon-g, e principalmente a IL-6.
Citocinas
avaliadas :
· Interleucina 10 (IL-10)
· Interleucina 6 (IL-6)
· Lipoproteína A
· Óxido nítrico
· Fator de Necrose Tumoral (TNF alfa)
· Fosfolipase A2 (PLAC2)
Outras formas de se avaliar a inflamação crônica é pelos seguintes exames:
· Insulina em jejum
· Hemoglobina glicada (HgA1C)
· Proteína C reativa
· Ferritina sérica
· Vitamina B12 (metilcobalamina)
· Gama GT (síntese da glutationa)
· Diâmetro dos Glóbulos Vermelhos (visto hemograma completo).
· Volume plaquetário médio (visto hemograma completo).
RECOMENDAÇÕES:
Reduza o estresse: uma resposta inflamatória pode ser desencadeada por estresse físico, mental e emocional. O hormônio do estresse, cortisol, desempenha um papel na regulação da resposta inflamatória.
Exercícios regulares: manter o exercício regular promove relaxamento. No entanto, evite estilos de exercícios que causem ansiedade ou provoquem esgotamento físico.
Suplementos vitamínicos: manipulados de forma individualizada, tem efeitos benéfivos e minimizam o processo inflamatório.
Evite alguns alimentos: ingredientes e produtos químicos que aumentam a inflamação e o estresse oxidativo:
·
Gliadina (proteína contida no
glúten) à trigo à arroz, biscoitos,
bolachas, pães, bolos, cerveja, massas e sorvetes.
·
Caseína (presente no leite,
queijos e iogurtes): laticínios
pasteurizados promovem as prostaglandinas que desencadeiam a inflamação.
·
Processados e embutidos pela
grande quantidade de sódio
·
Açúcares simples
(presente nos doces, sucos de frutas, enlatados, alimentos em conserva.
ketchup, geleias). São rapidamente digeridos e absorvidos pelo organismo.
·
Óleos vegetais (óleo de
soja, canola, castanhas, nozes, girassol, linhaça e ricos em ômega 6).
·
Óleos hidrogenados
ou parcialmente hidrogenados, margarina,
gordura e manteiga vegana são feitos com óleos ômega-6.
·
Alimentos
processados e fast foods,
incluindo a maioria dos restaurantes de fast food.
IMAGENS: Pixabay
Prefira
·
Legumes e vegetais orgânicos: sem
agrotóxicos
·
Fibras: feijão, lentilha, aveia,
linhaça, grão de bico, cereais integrais.
·
Óleo de coco: absorvido
rapidamente e não usado para síntese de colesterol e não armazenado, não se
acumula na forma de gordura e na versão extravirgem contribui para controle do
colesterol e é antioxidante.
·
Hidratação
·
Carboidrato complexo:
alimentos integrais, batata doce, feijão preto, maçã, banana, morango, cenoura,
brócolis, berinjela, aspargo, grão de bico, amendoim. Baixo índice glicêmico e
metabolização mais lenta.
Consuma alimentos anti-inflamatórios:
·
Ervas aromáticas, como
alho macerado, açafrão, curry e cebola;
·
Peixes ricos em ômega-3, como
atum, sardinha e salmão;
·
Sementes com ômega-3, como
linhaça, chia e gergelim;
·
Frutas cítricas, como
laranja, acerola, goiaba, tangerina e abacaxi;
·
Frutas vermelhas, como
romã, melancia, cereja, morango e uva;
·
Oleaginosas, como castanhas e nozes;
·
Vegetais, como brócolis,
couve-flor, repolho e gengibre;
·
Óleo de coco;
·
Outros: gengibre, abacate, espinafre,
açafrão (cúrcuma), berinjela e romã.
Fonte: Arnaldo Schizzi
Cambiaghi é diretor do Centro de reprodução humana do IPGO, ginecologista-obstetra
especialista em medicina reprodutiva. Membro-titular do Colégio Brasileiro de
Cirurgiões, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Laparoscópica, da European
Society of Human Reproductive Medicine. Formado pela Faculdade de Ciências
Médicas da Santa casa de São Paulo e pós-graduado pela AAGL, Illinois, EUA em
Advance Laparoscopic Surgery. Também é autor de diversos livros.