A melhor maneira de se iniciar
este artigo é deixando claro o conceito de “discurso de gênero”, uma vez que as
propostas para a discussão sobre o gênero do ser humano (Sim! Somos todos seres
humanos!) são diversas, seja aqui no Brasil, seja em qualquer outro lugar do
mundo.
Alguns tratam o gênero a
partir de um viés mais científico, geralmente adotado por médicos, cientistas,
biólogos, os quais distinguem o gênero masculino do gênero feminino a partir
das características físicas do ser humano. Outros partem de uma linha mais
metafísica, geralmente adotada por psicólogos que entendem ser o gênero
masculino ou feminino formado a partir de suas experiências e vivências
sociais.
O fato é que todos,
independentemente do gênero, são seres humanos, cujo fato real da existência é
a busca da preservação da dignidade, e, consequentemente, a valorização da vida
com o fim último de alcançar a felicidade em todos os campos da vida, o que
inclui, a felicidade no âmbito profissional.
Especificamente no que se
refere à busca da felicidade no âmbito profissional, nos surge uma pergunta:
porque existe tanta disparidade entre os gêneros masculino e feminino quando se
fala em realização profissional? Ou seja, porque os homens são mais felizes que
as mulheres quando se fala na busca da felicidade como profissional? Porque há
mais homens que mulheres no topo das carreiras de liderança e destaque no
mercado de trabalho?
Considerando que todos,
independentemente de gênero, são seres humanos com as mesmas capacidades
intelectuais, qual a razão da existência desta falta de igualdade? O que se faz
necessário para o alcance da igualdade ideal no mercado de trabalho?
Neste sentido, questionamos se
o discurso de gênero seria mesmo eficiente para galgarmos esta mudança nas
estatísticas que mostram um abismo enorme entre o papel do homem e da mulher no
mercado de trabalho. Afinal não estamos falando de guerra dos sexos! Pelo
contrário, para que haja esta mudança o papel do homem é fundamental!
O ponto central da discussão
neste artigo é a vida, o fato real da existência do ser humano, dotado de
dignidade. Ora, mantida a dignidade do ser humano, não há desrespeito, não há
ação segregativa e há uma valorização das reais competências de cada ser. É
preciso, portanto, olhar para o ser humano e suas competências e qualidades
independentemente do gênero.
Para o alcance da igualdade
ideal no mercado de trabalho, faz-se necessária uma mudança profunda de
paradigma. O discurso de gênero como vem sendo discutido pela sociedade, tem
uma visão conceitual e metafísica, que não está ligada ao sexo masculino e
feminino como seu reflexo, mas sim a diversos conceitos que são históricos e
culturais. Este discurso, portanto, apenas julga valores, como: melhor, pior,
frágil, ruim, bom, forte, fraco, mais detalhista, mais objetivo, não sendo
suficiente para combater os estereótipos do masculino e feminino construídos ao
longo da história, arraigados culturalmente, e, inconscientemente na mente dos
seres humanos.
Há séculos criou-se um
discurso de gênero que enaltece e supervaloriza o masculino e subestima o
feminino, principalmente no âmbito profissional. Esqueceu-se do ser humano. Ora
quem disse que o homem era melhor do que a mulher no passado, não estava
observando o ser humano, estava observando seus valores individuais e querendo
trazê-los para a realidade.
Em algumas sociedades
matriarcais antigas o papel do homem era rebaixado e isso só mudou quando outro
discurso de gênero foi criado. Ou seja, em uma análise mais fria, o discurso de
gênero pode até buscar compensar erros passados em alguns pontos, mas pode
trazer como consequência potenciais de radicalismo, e até mesmo preconceito.
Não há dúvidas de que o
discurso de gênero busca a igualdade, mas o risco é que tal discurso se torne
ligado a valores pessoais de grupos específicos de seres humanos, o que o torna
insuficiente. É, portanto, uma medida paliativa e não uma medida final.
O problema é o modo como o ser
humano pensa a ideologia. Sempre se está atrás de culpados, de se aliar aos
semelhantes e afastar o diferente. Para acabar com isso de vez, é preciso mudar
o modo como o ser humano enxerga a si mesmo e ao próximo. Tornar seu olhar
objetivo, fazer dele algo pautado na realidade e não no pensamento puro.
Assim, para se alcançar a
igualdade ideal, na hora de avaliar competências, para uma posição
profissional, por exemplo, há que se considerar as competências e a capacidade
individual de cada ser humano como ponto de partida, independentemente do
gênero.
Esse é o caminho para se
construir uma sociedade melhor e mais igualitária. Este é o caminho para que os
cargos de liderança e destaque no mercado de trabalho sejam ocupados por seres
humanos competentes e de fato merecedores de ocuparem aquela posição.
Devemos começar mudando o modo
como se olha para cada ser humano, entendendo que mesmo diferentes, ou melhor
de “gêneros diferentes”, somos todos iguais, e, merecemos a mesma vida, com
dignidade e felicidade.
Gabriela
Blanchet - advogada, sócia e líder do
escritório de advocacia Blanchet Advogados, e membro do IBDEE - Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial.
Samuel
Sabino - fundador da consultoria Éticas Consultoria,
filósofo, mestre em bioética e professor, e
membro do IBDEE - Instituto Brasileiro de Direito e Ética Empresarial.