Pais que fumam dentro de casa ou do carro
comprometem a saúde dos filhos
O fumo na frente das crianças também exerce
influência na hora de experimentar o cigarro
Pesquisa já comprovou que o tabagismo passivo afeta
51% das crianças
Noventa por cento dos fumantes adquirem o vício até
os 19 anos de idade, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante desta
realidade, é recomendável aos pais ou responsáveis que ensinarem as crianças
desde cedo os males causados pelo consumo e contato com a fumaça do cigarro,
que causa cerca de 5 milhões de mortes por ano no mundo.
Estudo do Ambulatório de Drogas do Hospital
Universitário da USP já revelou que 51% das crianças até 5 anos são
consideradas fumantes passivas por causa do vício dos pais. Segundo a pesquisa,
essas crianças desenvolvem mais otites, bronquites, rinites, asma e duas vezes
mais morte súbita quando comparadas com as de pais não fumantes.
O Prof. Dr. Paulo Taufi Maluf Júnior (CRM/SP
21.769), do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas e do Hospital
Sírio-Libanês, explica que pais que fumam na presença dos filhos comprometem a
saúde de toda a família. No entanto, esclarece que um dos fatores que fazem com
que as crianças sejam mais sensíveis à fumaça nociva do cigarro é a frequência
respiratória mais elevada.
O pediatra destaca que a revista Respiratory
Research traz um levantamento exaustivo feito por autores da Universidade de
Nottingham na Inglaterra, que aponta a proximidade de crianças com fumantes
como tendo importância na maior incidência de bronquites e bronquiolites, e que
esse risco é particularmente acentuado na relação das gestantes com seus
futuros filhos.
“Os efeitos nocivos trazidos pelo contato de
crianças com fumantes próximos não se limitam às doenças respiratórias. Membros
do King's College de Londres, em associação com colegas australianos,
realizaram extensa pesquisa e concluíram que o fumo passivo produz alterações
cognitivas que causam pior aproveitamento escolar para as crianças atingidas, e
deficiências do desenvolvimento neuro psicomotor para nascidos de mãe
tabagistas durante a gravidez. Já epidemiologistas da Finlândia e Austrália
detectaram maior risco de distúrbios cardiovasculares dentre os fumantes
passivos desde a infância”, enfatiza o Dr. Paulo Maluf.
O pediatra explica que apenas não fumar na frente
das crianças é pouco para poupá-las do contato com o cigarro porque roupas,
sofás, tapetes, lençóis e o próprio cabelo e a pele da pessoa que fuma são
suficientes para fazê-la inalar substâncias tóxicas. Outro fator que leva ao
contato é colocar a mão na boca após tocar superfícies contaminadas.
Outra pesquisa mostrou que crianças de 5 e 6 anos
que habitam países de renda média ou baixa, como o Brasil, são influenciadas
pelas propagandas de cigarro e pelo mau exemplo dado pelos familiares que o
usam. Assim, elas correm um risco maior de se tornarem fumantes. Apenas no
Brasil, 59% das crianças nessa faixa etária conhecem alguma marca de cigarro.
Essa é a conclusão de um estudo realizado pela Universidade Johns Hopkins, nos
Estados Unidos, e publicado no periódico Pediatrics.
“Os adeptos ao tabagismo sabem que seu mau hábito é
prejudicial, mas nem todos têm consciência da dimensão dos males a que estão
sujeitos, e tampouco dos danos que podem causar aos mais próximos. A combustão
do cigarro leva à liberação aproximada de 7000 compostos gasosos, muitos deles
com alto potencial de toxicidade, para o fumante e para o ambiente em que ele
convive”,
esclarece o pediatra do HC e do Sírio Libanês.
Para o Dr. Paulo Maluf, o Dia Mundial Sem Tabaco
(31 de maio) pode servir de alerta para que as pessoas definitivamente
saibam que o cigarro é causador de inúmeras doenças cancerosas, vasculares,
cardíacas e pulmonares. “A incidência desses males poderia ser mitigada pelo
simples ato de abandonar o péssimo hábito de fumar, que acaba por sujeitar toda
a sociedade a arcar com o custo que o tratamento de seus doentes lhe impõe”, completa
o médico.