Em um cenário de rápidas transformações no mercado de trabalho,
onde novas tecnologias e modelos de negócios estão constantemente moldando o
futuro das profissões, a presença dos maduros nas companhias ganha cada vez
mais relevância. Para muitos profissionais da minha geração, que passaram
décadas construindo uma carreira sólida, a transição ou ingresso em uma nova
área pode parecer desafiadora. Mas a verdade é que isso já é uma realidade para
diversos profissionais longevos.
No segundo trimestre de 2024, dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) indicaram que o número de profissionais com mais de 60 anos ocupados no Brasil alcançou aproximadamente 8,042 milhões. Em 2012, quando o levantamento começou, eram quase 5,0 milhões. Além disso, o crescimento da economia prateada no país tem levado o mercado a se tornar cada vez mais atento a esse público. Nesse contexto, é fundamental garantir a representatividade dessas pessoas nas empresas, para que possam orientar as marcas de forma estratégica. Paralelamente, muitos profissionais com 50 anos ou mais estão ingressando no setor de empreendedorismo sênior. Seja com consultorias ou mentorias, investindo e apoiando o desenvolvimento de startups ou, usando todo o seu conhecimento adquirido e habilidades em empresas de menor porte.
A experiência como vantagem competitiva
Uma das maiores vantagens dos profissionais maduros é a
experiência acumulada ao longo dos anos. Como ex-executivo de uma grande
seguradora multinacional, fui testemunha de como o conhecimento adquirido ao
longo das décadas pode se tornar um ativo de imensurável valor para as
empresas. Embora o domínio das tecnologias mais recentes seja essencial, a
habilidade de tomar decisões embasadas, com base em uma visão ampla e
experiências vividas, é um diferencial que muitos profissionais mais jovens
ainda estão em processo de desenvolvimento.
Esse acúmulo de conhecimento e a capacidade de liderar com
maturidade e ética são altamente valorizados em diferentes setores. Empresas
estão cada vez mais reconhecendo o valor dos profissionais maduros, que podem
trazer uma perspectiva de longo prazo para suas estratégias de negócios. A
sabedoria adquirida ao longo dos anos não se resume apenas a habilidades
técnicas, mas também a uma visão aguçada sobre o comportamento humano e a
capacidade de resolução de crises complexas.
Desafios e oportunidades na transição
Naturalmente, a transição de uma carreira tradicional para uma
nova fase, seja ela de consultoria, empreendedorismo ou de trabalho voluntário,
pode apresentar desafios. A adaptação às novas formas de trabalho, como o home
office ou o uso de ferramentas digitais, pode ser um obstáculo para alguns.
Porém, é importante lembrar que, embora as ferramentas possam ser novas, a
forma de liderar, negociar e influenciar pessoas permanece em grande parte a
mesma.
Investir em atualização de habilidades técnicas, como o uso de
plataformas digitais e redes sociais profissionais, pode ser um passo essencial
para continuar relevante no mercado. Além disso, buscar uma mentalidade de
aprendizado contínuo é fundamental para se manter competitivo e ágil.
Por outro lado, a maturidade proporciona uma perspectiva mais
equilibrada sobre a vida profissional. A transição de carreira na maturidade
permite que o profissional se envolva em projetos que talvez não tenha tido
tempo ou coragem de assumir antes. Muitos ex-executivos, por exemplo, têm
optado por se tornar mentores, assumindo cargos de consultoria ou investindo em
startups, contribuindo com sua experiência para ajudar novas gerações de
líderes a crescerem de maneira mais sólida e estratégica.
A importância do planejamento e autoconhecimento
Não é segredo que a transição de carreira exige planejamento. É
necessário refletir sobre o que queremos para o futuro, quais interesses ainda
não explorados desejamos seguir e como podemos utilizar nossa rede de contatos
para abrir novas portas. O momento da aposentadoria ou da mudança de carreira
deve ser visto não como uma pausa, mas como uma oportunidade para redirecionar
nossa trajetória profissional.
O autoconhecimento desempenha um papel essencial nesse processo.
Perguntar-se o que realmente motiva e o que deseja alcançar a longo prazo pode
ser o primeiro passo para construir uma nova etapa profissional mais alinhada
com seus valores e interesses. E, muitas vezes, é neste momento que os profissionais
maduros descobrem novas paixões ou atividades que antes não imaginavam.
Conclusão
Em última análise, a transição de carreira para os maduros é uma
oportunidade de reavaliação e reinvenção. Não se trata apenas de continuar
trabalhando, mas de trabalhar com um novo propósito, com mais equilíbrio e em
áreas que talvez nunca tenhamos considerado antes. Como alguém que já
experimentou essa transição, posso afirmar que essa fase da vida é mais uma
chance de evolução do que um fim.
A maturidade no mercado de trabalho é uma janela de novas
possibilidades, e os profissionais maduros têm tudo o que é necessário para não
apenas se adaptarem, mas para prosperarem. É hora de dar espaço para a
sabedoria adquirida ao longo dos anos brilhar, transformando a experiência em
uma verdadeira força para o futuro.
Marcos Eduardo Ferreira - Empreendedor, Investidor Anjo, Especialista em Longevidade e Mercado Securitário. Possui experiência de 32 anos como Executivo na MAPFRE. Nos últimos 15 anos, ocupou o cargo de CEO no Brasil e América do Sul, período em que também viveu como expatriado em Bogotá (2017 a 2020). Após essa trajetória profissional, decidiu embarcar em um período sabático, com o objetivo de reorganizar sua vida familiar e aprimorar seus conhecimentos em temas relacionados à Longevidade. Durante esse período de pausa, Marcos cursou a 1ª Turma do Programa de Especialização em Mercado de Longevidade da FGV – SP. Além disso, investiu em startups e, cofundou o Homens de Prata, canal no Youtube. Em julho de 2022, lançou a Silver Hub - Aceleradora e Agregadora de Negócios, com foco no apoio ao desenvolvimento de empreendedores e startups que oferecem produtos e serviços para o público 50+. Marcos é um entusiasta do empreendedorismo e um observador ativo dos impactos da longevidade, além de ser um grande incentivador da economia prateada.
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