O setor financeiro brasileiro vive um momento de intensas transformações. Depois do sucesso do Pix e do avanço do Open Finance, uma nova exigência está prestes a testar a capacidade de adaptação dos bancos: a implantação do formato alfanumérico para o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). A Receita Federal do Brasil (RFB) anunciou que a mudança será obrigatória a partir de julho de 2026. A adaptação é muito complexa e embute riscos para as áreas de tecnologia, mas uma grande aliada poderá ser a Inteligência Artificial Generativa.
Primeiramente,
é essencial compreender as razões por trás dessa decisão. O sistema atual de
CNPJs oferece 100 milhões de combinações numéricas, das quais 60 milhões já
foram utilizadas. Mantida a demanda atual, essas combinações se esgotariam até
2033. A transição para um formato alfanumérico é, portanto, uma resposta
necessária para garantir a continuidade desse registro fundamental para a
economia.
Porém, a
implementação dessa mudança está longe de ser trivial. A complexidade técnica e
os riscos associados exigem uma reflexão sobre os desafios que bancos,
instituições de pagamento e seguradoras terão que enfrentar. Alterar sistemas
que já estão em funcionamento, muitos dos quais foram desenvolvidos há anos e
carecem de documentação atualizada, é um trabalho minucioso e arriscado. Além
disso, falhas nessas alterações podem comprometer não apenas a operação das
instituições, mas também a confiança dos usuários nos sistemas financeiros.
Aqui, a
tecnologia desponta como uma aliada indispensável. Soluções baseadas em
Inteligência Artificial Generativa podem simplificar esse processo. Frameworks
que identificam automaticamente códigos a serem ajustados, atualizam
documentações e aprimoram os testes de segurança estão mostrando ser cruciais
para mitigar os riscos dessa transição. É uma oportunidade de modernizar
sistemas e aumentar a resiliência do setor financeiro.
Entretanto,
é importante salientar que essa modernização não acontece da noite para o dia.
Testes extensivos e implementações seguras demandam tempo e o prazo para
adaptação está se aproximando rapidamente. Algumas instituições já iniciaram
seus preparativos, o que é um exemplo positivo para o mercado.
Acredito que
a discussão sobre o novo formato do CNPJ deve ir além da questão técnica. É
também uma oportunidade para revisão das prioridades em termos de inovação e
segurança digital. Se o desafio for encarado com a seriedade que merece,
poderemos não apenas superar as dificuldades imediatas, mas também fortalecer
as bases do sistema financeiro nacional para as próximas décadas.
Como setor, é preciso se fazer a pergunta: estamos preparados para essa evolução? Mais do que isso, estamos dispostos a transformar esse desafio em uma oportunidade de crescimento e modernização? A resposta a essas perguntas definirá o futuro das instituições financeiras no Brasil.
Camille OCampo - Diretor Executivo da Capco, consultoria especializada em gestão e tecnologia para o setor financeiro e de energia.
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