Em geral, o procedimento é realizado após o casal
se submeter a um teste genético, que constata a predisposição genética para a
doença, afirmam os especialistas da Oncologia D’Or.
Dados do Instituto Nacional do Câncer revelam que este ano deverão
ser diagnosticados 704 mil novos casos de câncer, principalmente nas regiões
Sul e Sudeste, que concentram 70% da incidência. Em 5% a 10% dos casos, o
câncer tem origem hereditária, sendo provocado por mutações genéticas
transmitidas dos pais para os filhos. Casais com histórico familiar de câncer
hereditário podem realizar testes genéticos para detectar se têm predisposição
para a enfermidade. Em caso positivo, quando quiserem ser pais, podem fazer uma
seleção de embriões para evitar que os filhos herdem genes com potencial de
provocar a enfermidade.
O oncologista José Bines, da Oncologia D’Or, afirma
que a seleção de embriões é um procedimento ético, regulamentado e respaldado
pelo Conselho Federal de Medicina. No caso de a predisposição genética para
câncer ser constatada, o casal se submete a um tratamento de fertilização in
vitro, quando os embriões são analisados e selecionados. Aquele que não
carregar o gene responsável por aumentar o risco de câncer é implantado no
útero da mulher, que segue com a gravidez.
Câncer hereditário
Atualmente, cerca de 100 genes já foram mapeados no DNA com
associação ao aumento de predisposição hereditária a determinados tipos de
tumor. É o caso dos cânceres de mama e ovário, provocados principalmente pelas
mutações genéticas nos genes BRCA1 e BRCA21. Já o conjunto de
alterações genéticas familiares conhecido por síndrome de Lynch2 aumenta
a predisposição para o câncer de cólon, útero, estômago, intestino delgado,
pelve renal e ureter. Outros tipos de câncer que podem ter origem hereditária
são os de pâncreas, próstata, melanoma e tireoide.
De acordo com o oncologista clínico Rodrigo Guindalini, da
Oncologia D’Or, uma das características do câncer hereditário é se manifestar
mais cedo do que em pessoas sem essa condição. “No caso do câncer de mama
hereditário, outra particularidade é o surgimento de tumores nas duas mamas ou
mais de um tumor por mama”, observa o médico, que é especializado em
aconselhamento genético. Também pode haver a associação, em uma mesma pessoa ou
em uma mesma família, de tumores de mama, ovário e próstata. Existem
determinados grupos populacionais que têm uma frequência maior de câncer
hereditário, entre eles os judeus.
Teste genético
O uso do teste genético para predisposição hereditária do câncer
tem crescido no Brasil, mas ainda é subutilizado em relação a outros países.
Além de não estar disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), não é muito
disseminado na rede particular porque parte dos médicos não possuem treinamento
para interpretar o exame.
O mercado também carece de profissionais especializados na
interpretação de testes genéticos, como os médicos geneticistas clínicos e
oncologistas clínicos especializados em genética. Não por acaso, os centros de
aconselhamento genético se localizam nas grandes cidades, sendo de difícil
acesso a moradores do interior do País.
O acesso a esses centros vem sendo ampliado graças à teleconsulta,
que foi regulamentada na pandemia do Sars-Cov2. A Oncologia D’Or, por exemplo,
montou um serviço de telemedicina, que permite ao paciente obter orientação
online. Se tiver indicação para o teste, ele recebe um kit para coletar a
saliva em seu domicílio e encaminhar o material para o laboratório pelo
correio. O resultado é revelado na consulta virtual de retorno, que ocorre em
até 30 dias. Esse serviço possibilitou que hoje 14 clínicas que possuem
especialistas para aconselhamento genético presencial possam atender à demanda
de pacientes das 55 unidades da rede por meio da telemedicina.
Prevenção e tratamento
A descoberta da predisposição ao câncer pode mudar não só a
prevenção e o rastreamento da doença em pessoas saudáveis, como também o
tratamento daqueles que estão enfrentando a enfermidade. O médico José Bines
esclarece que hoje existem determinadas estratégias terapêuticas e medicamentos
indicados para os pacientes que possuem alterações genéticas.
No caso do câncer de mama, há mulheres que optam pela retirada das
mamas quando descobrem ter predisposição para o câncer mamário. Foi o que
aconteceu com a atriz norte-americana Angelina Jolie, após descobrir que era
portadora de uma alteração no gene BRCA1 e tinha 87% de chances de desenvolver
câncer de mama.
A cirurgia para retirada dos ovários, denominada ooforectomia, é
uma alternativa para as mulheres com risco de desenvolver câncer nesses órgãos
por questões hereditárias. De acordo com vários estudos, mulheres que fizeram a
ooforectomia vivem mais do que aquelas com mutações genéticas que aumentam a
predisposição para o câncer de ovário e não removeram esses órgãos.
Uma alternativa à mastectomia preventiva para mulheres com
propensão para câncer de mama é o rastreamento intensivo, que inclui mamografia
e a ressonância magnética, e o uso de medicamentos que reduzem em 50% o risco
de câncer.
Pacientes com câncer de mama podem se submeter a uma cirurgia
ampliada que visa não só à cura da doença, como à prevenção para futuros
tumores. As mulheres que dispensam a dupla mastectomia podem ter um
acompanhamento diferenciado no pós-operatório, com mamografia e ressonância
magnética.
Oncologia D'Or
Referências
1. Morteza Mahdavi et al. Hereditary breast cancer; Genetic
penetrance and current status with BRCA. Journal of Cellular Physiology, Volume
234, Issue 5, 2019. Pages 5741-5750.
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