Especialista do
Hospital Paulista explica por que alguns artistas conseguem voltar às
atividades normalmente e outros acabam tendo que se adaptar a uma nova
realidade vocal
A história da música registra diversos casos de
cantores famosos que, em algum momento de suas carreiras, tiveram que se
afastar dos palcos por problemas vocais. Muitos voltaram, após longos períodos
de tratamento, e fazem sucesso até hoje. É o caso de Adele, Shakira, Rod
Stewart, dentre vários outros que seguem firmes na atividade.
No entanto, há também muitos que perderam a
qualidade vocal e tiveram que se adaptar a uma nova realidade, adotando um
estilo mais suave. É o caso do americano John Mayer, que, após ser
diagnosticado com granuloma nas cordas vocais, em 2011, retornou à música, só
que num tom bem mais ameno e limitações em relação ao passado.
Outro exemplo semelhante é o da cantora islandesa
Björk. Após a remoção de nódulos nas cordas vocais, em 2012, ela teve que
repensar sua técnica vocal e explorar novos estilos musicais a partir de
então.
Até mesmo a cantora Mariah Carey, que por muito
tempo foi conhecida por seu alcance vocal de cinco oitavas, já passou por
complicações do tipo. A partir dos anos 2000, ela teve que adaptar suas
performances, utilizando técnicas para preservar a voz, em razão de problemas
relacionados à disfonia.
Por que isso acontece?
De acordo com o Dr. Domingos Tsuji, médico
otorrinolaringologista especialista em Saúde da Voz e diretor do Voice Center
do Hospital Paulista, os cantores, assim como os professores, radialistas e
demais profissionais que utilizam a voz como instrumento de trabalho têm,
naturalmente, maior suscetibilidade a lesões fonotraumáticas, como edema,
pólipos, calos vocais e outras lesões que comprometem a produção vocal normal.
No caso dos cantores, especificamente, o médico
explica que o aprendizado de técnicas é essencial para evitar esse tipo de
dano. "A falta de cuidados preventivos e de orientação especializada por
parte de médicos, fonoaudiólogos e professores de canto, geralmente, é um erro
que muitos cometem, principalmente no início da carreira. Esses profissionais
são fundamentais para ensinar a técnica correta e evitar abusos nocivos às
cordas vocais.”
Tais cuidados, segundo o especialista, devem ser
tomados desde cedo pelos cantores e pretendentes a tal. "São problemas que
podem ocorrer em qualquer idade. Portanto, vale para cantores mirins, jovens
adultos, adultos maduros e idosos", enfatiza.
Por que só alguns recuperam?
Com relação à recuperação, o médico confirma que há
casos de cantores que retomam normalmente a carreira e outros que,
infelizmente, não. "Dependendo do problema, é possível recuperar: lesões
mais simples, como pólipos e nódulos, têm bons resultados com cirurgia. Já
lesões como sulco vocal, cistos, papiloma e lesões malignas ou pré-malignas têm
um prognóstico mais restrito.”
Esses casos mais complicados, conforme o Dr.
Domingos, geralmente, envolvem alterações estruturais mínimas nas cordas
vocais, que já predispõem o cantor a problemas futuros, sobretudo a partir do
uso inadequado ou abusivo da voz. "Mas, ainda assim, é possível obter
resultados favoráveis com o tratamento adequado", observa.
A pior das hipóteses, de acordo com o especialista,
é em relação a doenças consideradas irreversíveis. "É o caso da paralisia
de corda vocal, distonia laríngea, doenças neurológicas degenerativas, tumores
(como papiloma e câncer) e cicatrizes nas pregas vocais causadas por diversos
fatores, incluindo cirurgias. Esses quadros podem comprometer definitivamente a
vida profissional do cantor, sem chances de recuperação.”
Autopercepção
O médico explica que a melhor forma de se precaver
contra essas doenças é mantendo a atenção quanto a eventuais alterações na
voz.
"O cantor geralmente tem uma ótima percepção
da sua voz. Qualquer alteração percebida deve ser encarada como um indicativo
de um problema emergente que pode se agravar. Por isso, a recomendação é
procurar um otorrinolaringologista especializado em voz para avaliar
cuidadosamente o trato vocal.”
Hospital Paulista de
Otorrinolaringologia
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