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sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Terceira fase da campanha Defensores do Cerrado ressalta a importância das brigadas voluntárias também na educação ambienta

No mês em que é celebrado o Dia Nacional do Cerrado (11/9), ação visa conscientizar a sociedade sobre a importância do trabalho de prevenção a incêndios florestais e do Manejo Integrado do Fogo como estratégia de conservação do biom

Iniciativa também convida empresas e organizações a contribuírem com o trabalho das brigadas voluntárias

Cerrado foi o segundo bioma mais atingido pelas chamas nos seis primeiros meses de 2024, segundo dados do MapBiomas

 

Em setembro, mês em que é celebrado o Dia Nacional do Cerrado (11/9), a terceira fase da campanha Defensores do Cerrado entra no ar para conscientizar a população sobre a importância das brigadas voluntárias, responsáveis por atuar diretamente na prevenção e combate aos incêndios no bioma, além de apresentar o Manejo Integrado do Fogo (MIF) como uma abordagem eficaz na condução do trabalho. A iniciativa é uma realização da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e também convida empresas e organizações a contribuírem com o trabalho dos grupamentos voluntários.  

Segundo maior bioma do Brasil e considerado a savana mais biodiversa do planeta, o Cerrado concentra nascentes das principais bacias hidrográficas que abastecem o país de Norte a Sul, contribuindo significativamente com a segurança hídrica. De acordo com dados do MapBiomas divulgados em julho, o Cerrado foi o segundo bioma mais atingido pelas chamas, com 947 mil hectares incendiados nos seis primeiros meses deste ano –, impacto cerca de 48% maior em comparação com o mesmo período de 2023. A maior parte do fogo ocorreu em áreas de vegetação nativa (72%). A Amazônia registrou a maior área queimada entre os biomas (66% do total atingido pelo fogo no país, com 2,97 milhões de hectares). 

Os números fazem parte do Monitor do Fogo do MapBiomas, mapeamento mensal das áreas queimadas no país, produzido a partir de monitoramento por imagens de satélites e processamento de dados com uso de inteligência artificial. Ainda segundo o MapBiomas, em junho de 2024, o Cerrado foi o bioma que mais registrou áreas queimadas, com aproximadamente 534 mil hectares.  

Diante desse contexto, a campanha Defensores do Cerrado reforça esse alerta com vídeos de “personagens do Cerrado” relatando sobre as potencialidades e riquezas do bioma. A narrativa é construída com base nos relatos de Alessandra Fidelis, bióloga, doutora em Ecologia e professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp); Cecília Gonçalves, artesã, raizeira e coletora de flores secas nativas; Jorge Moreira, líder comunitário da Associação Quilombo Kalunga e agricultor familiar; Rafael Drumond, presidente da Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante (BRIVAC) e diretor do Museu do Fogo; e Renato Santos, fundador do Museu do Fogo. 

A nova fase da campanha está sendo veiculada nas redes da Fundação Grupo Boticário (@fundacaogrupoboticario) e o vídeo completo estará disponível no dia 11, Dia Nacional do Cerrado, no site dos Defensores do Cerrado. Interessados em contribuir com o trabalho dos brigadistas voluntários podem acessar https://defensoresdocerrado.com.br/ para conhecer mais sobre as brigadas e entrar em contato direto para colaborar.

 

O fogo como aliado e ferramenta poderosa 

Apesar dos incêndios continuarem a ser uma das principais ameaças ao Cerrado – ao lado das mudanças climáticas, do uso inadequado do solo e do desmatamento –, o fogo, quando usado de forma controlada e adequada, se torna um aliado e uma ferramenta poderosa na prevenção e combate de incêndios no ambiente savânico. 

“Pode parecer contraditório à primeira vista, mas o fogo natural faz parte da ecologia de diversas espécies. O Manejo Integrado do Fogo (MIF) é uma abordagem pautada na ciência e no conhecimento tradicional que contribui positivamente para reduzir o impacto e a incidência dos incêndios e conservar a biodiversidade do bioma”, explica Mariana Vasquez, gerente da Reserva Natural Serra do Tombador, criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza em Cavalcante (GO). 

A relação do Cerrado com o fogo natural é antiga. A evolução do bioma fez com que a região fosse formada por um conjunto diverso de características e particularidades da vegetação, com espécies de plantas tolerantes ou dependentes do fogo. Algumas delas, inclusive, só conseguem se reproduzir quando expostas às altas temperaturas das chamas, como a erva conhecida como cabelo-de-índio (Bulbostylis paradoxa). 

“O Cerrado é uma savana tropical e, como toda savana, é um sistema que pega fogo e evolui na presença dele. Por muito tempo, acreditou-se que o fogo era algo ruim e ele acabou sendo retirado desse ambiente. Isso causou muitos danos, como a ocorrência de grandes incêndios, justamente por conta dessa política de fogo zero”, explica Alessandra Fidelis, bióloga e professora da Unesp.  

Segundo Jorge Moreira, agricultor familiar e líder comunitário da Associação Quilombo Kalunga, em Cavalcante (GO), o fogo controlado pode favorecer as espécies que dependem dele para seu desenvolvimento. “Mais do que uma ferramenta, ele também é um companheiro”, diz. A artesã e raizeira Cecília Gonçalves, natural da Comunidade Quilombola de São Domingos, também em Cavalcante, acrescenta que o fogo e seu uso adequado são bons para o território. “A região aqui é conservada por causa disso”, comenta. 

 

Os defensores do Cerrado 

As brigadas voluntárias são compostas por pessoas extremamente comprometidas com a proteção do seu território e seu entorno. Pessoas com diferentes formações e origens conectadas com o mesmo objetivo: combater incêndios voluntariamente. Juntamente com brigadistas do ICMBio e do PrevFogo/Ibama, elas conseguem chegar mais rápido aos focos de incêndios em áreas naturais, especialmente em locais distantes dos grandes centros urbanos, executando o primeiro combate e evitando que as chamas se alastrem.  

Nesse contexto, a escassez de recursos humanos é uma realidade e tem sido cada vez mais necessária a inclusão e a capacitação de comunidades tradicionais nesses grupos de brigadistas voluntários. Segundo Rafael Drumond, presidente da Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante (BRIVAC), sem a participação dessas pessoas nenhum programa de combate a incêndios poderia funcionar. 

“Lidar com fogo tem sido transformador. Percebemos, não apenas como combatentes, que ele é um elo que nos aproxima das pessoas, em especial das comunidades tradicionais. Elas são a base do Manejo Integrado do Fogo, o que fica mais evidente quando compreendemos a metodologia a fundo”, aponta Rafael. “Já tivemos uma experiência capacitando as brigadas comunitárias do Assentamento Rio Bonito e do Quilombo São Domingos, aqui em Cavalcante, além da comunidade tradicional de São José. É uma forma que temos de descentralizar a informação, por meio da aproximação.” 

Também em Cavalcante, ao norte da Chapada dos Veadeiros, a Reserva Natural Serra do Tombador é espaço para estudos sobre a ecologia do fogo, onde o uso do MIF para mitigar o avanço de incêndios ocorre desde 2020. Na unidade de conservação criada e mantida pela Fundação Grupo Boticário, desde a adoção da abordagem, foram observadas quedas na recorrência de grandes incêndios. Antes da mudança, quando se fazia na reserva o manejo de aceiros e a política de fogo zero, grandes incêndios ocorriam a cada três anos, apesar de todos os esforços aplicados em ações de prevenção e combate. Chegaram a atingir 50% da área de 8.730 hectares em 2007; 60%, em 2011; 22,7%, em 2014; e 80%, em 2017.  

“Quando iniciamos os trabalhos sob a ótica do MIF, conseguimos quebrar esse ciclo de recorrência de grandes incêndios. Ainda em 2020, o maior incêndio registrado atingiu apenas 5,8% da reserva. Nos anos seguintes, tivemos apenas episódios considerados naturais, provocados por raios. Situações em que o fogo não passou de 0,4% do território. Em 2023, não tivemos registros de incêndio”, explica Mariana Vasquez, gerente da reserva. “Também intensificamos nosso trabalho com pesquisadores, que muito contribuíram para a melhor compreensão da ecologia do fogo, e a nossa atuação com parceiros no território, como a BRIVAC, principalmente no apoio à formação e capacitação de brigadistas e brigadas comunitárias nas comunidades vizinhas.”

 

Museu do Fogo 

O Museu do Fogo, primeira iniciativa do país voltada à educação socioambiental, que apresenta o fogo sob diversas perspectivas, inclusive sua relação com a proteção do Cerrado, tem atraído a atenção dos interessados em conhecer mais sobre a conservação do bioma. Inaugurado em setembro de 2022, o espaço criado a partir da parceria entre a BRIVAC, Instituto S2 e Vila Nômade, já recebeu mais de 2 mil pessoas em Cavalcante. O museu aborda mecanismos de prevenção e controle de incêndios e traz uma experiência multissensorial e tecnológica aos visitantes ao simular o ambiente e os impactos vividos pelos brigadistas durante os combates aos incêndios florestais.  

“Para nós, é muito gratificante quando vemos que estudantes da região, além de visitantes de diversas localidades do país, conhecem o museu e saem impactados com o conteúdo ali consumido. Ouvir o relato de uma criança de cerca oito anos, que fala que não sabia que o fogo não é mau e que aprendeu que pode ele ser algo muito bom, desde que se saiba lidar com ele, nos faz ter certeza de que nosso objetivo foi atingido, pelo menos no que diz respeito à educação ambiental”, diz Renato Santos, fundador do Museu do Fogo. 

Além de instrumento de conscientização, o Museu do Fogo visa atender outras importantes demandas locais, como a geração de receita para a manutenção das brigadas voluntárias e o fortalecimento da atividade turística.

 

Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza
www.fundacaogrupoboticario.org.br
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