A
curiosidade e a vontade de aprender contribuem para a retenção de informações
A expressão
“memória de elefante” vem da observação da forma como os elefantes parecem se
lembrar de eventos, lugares e até mesmo de outros elefantes por longos
períodos. Na natureza, essa memória notável é crucial para a sobrevivência, já
que eles se lembram de fontes de água e pastagens no habitat natural deles, que
é a savana, onde esses recursos podem ser escassos. O reconhecimento de membros
da manada é essencial para proteção e cuidado com os membros, identificar
elefantes de outros grupos podendo ajudar a reconhecer ameaças ou alianças,
sendo uma estratégia de defesa e colaboração.
A memória também
é fundamental para as rotas migratórias, já que as matriarcas lideram as
manadas para rotas baseadas nas memórias acumuladas ao longo dos anos,
facilitando o conhecimento dos melhores caminhos e pontos de parada seguros.
Essas memórias são sustentadas por um cérebro muito parecido com o humano, com
hipocampo e os lobos temporais bem desenvolvidos.
Segundo a
neurocientista e parceira do SUPERA – Ginástica para o Cérebro, Lívia Ciacci,
podemos entender as diferenças entre o cérebro humano e dos outros mamíferos
como diferenças de “grau” e não de essência. “Na essência, temos os mesmos
moldes de funcionamento, mas em graus e aplicações diferentes. Muitos animais
também conseguem processar informações diferentes de nós a partir dos seus
sentidos, como os morcegos com seus radares e os gatos com suas vibrissas”,
conta.
A neurocientista
conta que pessoas que têm memórias muito acima da média podem ter treinado estratégias
de memorização que melhoram a performance ou possuem a síndrome da supermemória
- chamada de "Memória Autobiográfica Altamente Superior", ou HSAM na
sigla em inglês, também conhecida como Hipertimesia.
“Quando há
treino para melhorar a memorização de algum tipo de informação, a área do
cérebro correspondente a esse processamento passará por adaptações, para
responder a esses novos estímulos. Como ocorreu com o famoso caso dos taxistas
de Londres, que passaram a ter mais massa cinzenta na parte posterior do
hipocampo e menos na frente do hipocampo, em comparação com outras pessoas,
após o treino para memorizar as ruas da cidade. O hipocampo é uma região
relacionada com a memória e orientação espacial”, explica.
A neurocientista
reforça que a capacidade de memorização nos cérebros das pessoas,
biologicamente falando, é muito parecida nas populações e o que faz uma pessoa
ter um desempenho prático melhor que outras está mais ligado aos hábitos,
estilos de vida e, talvez, traços de personalidade. “Reter informações e
conseguir se recordar de detalhes específicos com clareza e precisão são
habilidades comuns em pessoas curiosas, atentas a tudo em volta, questionadoras
e interessadas. Ter a famosa ‘memória de elefante’ depende da curiosidade e da
vontade de aprender, que contribuem para a retenção de informações. Mas também
não basta reter, é preciso ser detalhista o suficiente para organizar
mentalmente as informações captadas, criando associações com outros
conhecimentos para facilitar o acesso e a recuperação”.
Ela conta ainda
que ter boa memória também não garante “inteligência”, que é um
conceito mais
relacionado com a capacidade de aplicar os conhecimentos ou resolver problemas.
“Existe um mito comum que associa o envelhecimento com perda de memória, porém,
quando uma pessoa cuida da saúde e mantém um estilo de vida ativo fisicamente e
intelectualmente, é perfeitamente normal envelhecer mantendo o funcionamento da
memória. Quando treina estratégias de memorização, a neurociência explica a
melhora do desempenho por meio dos estudos da neuroplasticidade.”
E reforça que
“todos nós temos a memória de longo prazo, que pode ser subdividida em dois
tipos diferentes: memória explícita, que corresponde às memórias que estão
prontamente acessíveis à nossa consciência e que podem ser evocadas através de
palavras; e memória implícita, que corresponde às memórias que estão em nível
subconsciente, não podendo ser evocadas por palavras, mas sim por ações. As
memórias da nossa infância, das viagens, da nossa história de vida e de tudo
que aprendemos são explícitas. As memórias sensoriais, de procedimentos (como
andar de bicicleta) e emocionais são implícitas. E as explicações científicas
por trás dessa capacidade do cérebro são alterações estruturais nos circuitos dos
neurônios e alterações sinápticas funcionais na maneira que eles se comunicam.
Tais alterações ocorrem sempre que uma memória é ‘consolidada’ em memória de
longo prazo”, conclui.
Sobre
a estimulação cognitiva
A estimulação
cognitiva promovida pelo SUPERA é baseada no conceito da neuroplasticidade, que
mostra que todo mundo pode se modificar, ou seja, estimular o cérebro com
atividades novas, variadas e cada vez mais desafiadoras. Atividades para o
cérebro são traduzidas como estímulos, então é por meio dos estímulos de
qualidade organizados que ele é capaz de criar novas conexões, restabelecer
conexões neurais e melhorar seu desempenho. Além disso, a prática de atividades
cognitivas, uma alimentação balanceada, ingestão de água, fazer exercícios
físicos e ter uma boa sociabilidade são os ingredientes principais para
garantir uma qualidade de vida e um bom funcionamento do nosso cérebro.
O treino cognitivo
envolve a prática regular de atividades que estimulam o cérebro, podendo ser
utilizadas palavras cruzadas, quebra-cabeças, jogos de memória, jogos
visuoespaciais e jogos virtuais, para as sessões ou uso em casa. Estudos
realizados com pessoas idosas, mostram que nos treinos são fornecidas
estratégias para aplicarem no cotidiano que podem auxiliar na melhora da
concentração, memória e resolução de problemas, como a memorização de pares de
faces ou listas de palavras. Se mostrando assim, um grande aliado na
prevenção/redução de esquecimentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário