Quem não quer ser célebre?
A rivalidade e a competitividade, vistas com tanta
proeminência não somente entre os atletas, treinadores e trabalhadores nos
jogos olímpicos, mas também nos torcedores que assistem da televisão as
competições de seu país, são consequências do desejo de sucesso do Narcisismo.
Foi desse desejo que a humanidade avançou pelos
séculos. O narcisismo dos desbravadores, cientistas e pesquisadores, heróis que
vão abrindo caminhos para novos conhecimentos, foi responsável pelas mudanças
que a sociedade conhece hoje em termos de ciência, tecnologia e outros
aspectos.
Mas esse mesmo Narcisismo que é fonte de avanço e
de mobilização, também pode ser fonte de tragédia. É isso que explica, por
exemplo, a destruição humana para com o planeta, como a utilização excessiva de
recursos naturais em prol de ganhos individuais.
Os impactos destes elementos narcísicos nas pessoas
estão presentes desde o início dos séculos, mas esse conceito foi primeiro
estudado a partir das análises profundas de Sigmund Freud, o pai da psicanálise
e importante pesquisador do ser humano, que identificou o narcisismo como uma
fase necessária ao desenvolvimento da psique, relacionado à energia libidinal
que uma pessoa direciona aos demais e a si mesma.
Não somente Freud teve essa percepção: um pouco
antes dele, um dos grandes nomes da literatura brasileira, Machado de Assis, já
analisava os efeitos do narcisismo. Sob o nome “vaidade”, o autor carioca
ressalta o desejo de se manifestar existente no narcisismo, sendo este o norte
principal de suas publicações, como o conto “Questão de Vaidade” (1864); a
crônica “Elogio da Vaidade” (1865), assinada como K., que aparece na Semana
Ilustrada de nº230, publicada em 7 de maio de 1865; e o conto com este mesmo
título “Elogio da Vaidade” (1878).
Em “O califa de Platina” (1878), ele repete
insistentemente por meio do personagem expressões do tipo “é preciso que faças
alguma coisa original. Dou-te um ano e um dia para cumprir este preceito” e
“ainda não fiz nada que verdadeiramente se possa dizer original”, manifestando
sua preocupação em ser original, em deixar sua marca individual do “eu” no
mundo, consagrada em “Memórias Póstumas de Brás Cubas” (1880).
A análise a partir do narcisismo revela a
originalidade e a genialidade de Machado de Assis.
No século XIX, antes mesmo do assunto se tornar
imprescindível para compreender a sociedade e as relações contemporâneas, o
escritor já tinha entendido que o narcisismo era peça-chave para falar sobre os
humanos, desde suas conquistas até suas tragédias.
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