O mundo está em constante transformação, mudando de
forma irreversível e abandonando antigos estilos de vida, culturas e modos de
organização social. Essas mudanças ocorrem gradualmente até se tornarem parte integrante
do cotidiano, redefinindo a maneira como vivemos em sociedade. Nesse contexto
de inovação, destaca-se uma questão de grande relevância global: as
transformações na preservação da fertilidade para homens e mulheres, com
profundo impacto na vida das pessoas.
De um lado, os avanços tecnológicos da medicina
reprodutiva tornaram possível o tratamento da infertilidade e, de outro,
asseguraram às mulheres a possibilidade de investir em suas carreiras, adiando
o sonho da maternidade para um momento mais oportuno. De acordo com o Data SUS,
no ano 2000, somente 9,1% dos bebês nascidos no Brasil eram filhos de mulheres
acima de 35 anos. Passados 20 anos, esse percentual quase duplicou, chegando a
16,5%.
Desde o primeiro nascimento através da fertilização
in vitro, estima-se que mais de 9 milhões de bebês tenham sido gerados por meio
dessa técnica. Inicialmente destinada apenas para casos de infertilidade, hoje
também é uma opção para aqueles que desejam adiar a paternidade, permitindo que
escolham o momento ideal para formar uma família.
A reprodução assistida avançou significativamente
com o desenvolvimento tecnológico, que aprimorou tratamentos médicos,
laboratoriais e equipamentos. No Brasil, a qualidade dos serviços e da
assistência em preservação da fertilidade é comparável à dos melhores centros
do mundo.
Não há dúvidas de que o aumento na demanda por
procedimentos de congelamento de óvulos e preservação da fertilidade refletem
as mudanças socioculturais em curso, enquanto os avanços médicos e científicos
nessa área respondem diretamente a essas transformações.
Atualmente, além do congelamento de óvulos, a
fertilização in vitro é essencial para quem enfrenta limitações biológicas para
ter filhos. O processo inclui a coleta de gametas, fecundação em laboratório e
transferência dos embriões para o útero. Os avanços na criopreservação também
permitem que as mulheres congelem óvulos indefinidamente, possibilitando
gravidez tardia ou após tratamentos que afetem a fertilidade.
Adiar a gravidez após os 35 anos requer conhecer a
reserva ovariana. Se for adequada, o congelamento de óvulos permite escolher o
melhor momento para engravidar. O processo é relativamente simples, com alta
taxa de sobrevivência e qualidade dos óvulos após o descongelamento, garantindo
uma opção segura para o planejamento da maternidade.
Quando a mulher decide engravidar, os óvulos
congelados são descongelados e podem ser utilizados todos de uma vez ou em
quantidade pré-definida. Esses óvulos são então fertilizados com
espermatozoides do parceiro ou de doadores em uma clínica de reprodução
assistida. Embora o congelamento possa ser feito em qualquer idade, é
recomendado realizá-lo antes dos 35 anos para garantir a melhor qualidade dos
óvulos e aumentar as chances de sucesso na gravidez.
O ovário, com uma vida útil de cerca de 40 anos,
começa com aproximadamente 400 mil óvulos e usa cerca de 480 mil ao longo da
vida reprodutiva. A cada ovulação, entre 250 e 1.000 óvulos são perdidos. Assim
como uma árvore frutífera produz flores que nem todas se transformam em frutos,
o congelamento de óvulos resgata aqueles que seriam naturalmente perdidos.
A mulher pode congelar óvulos quantas vezes
precisar, salvando aqueles que seriam descartados mensalmente. A quantidade e a
qualidade dos óvulos são essenciais, e muitas começam o congelamento aos 32
anos, embora também seja possível aos 37 ou 38 anos, após avaliação da reserva
ovariana. Com uma quantidade adequada de óvulos, é possível garantir a
preservação da fertilidade para o futuro.
O congelamento de embriões é uma opção para quem
deseja adiar a maternidade, permitindo verificar a fecundação e a qualidade do
embrião. No entanto, isso pode limitar a flexibilidade da mulher, pois, se a
fertilização ocorrer e a idade avançar, os embriões pertencem ao casal. Em caso
de divórcio, a mulher não poderia usar esses embriões com um novo parceiro.
A medicina continua a avançar, e em breve poderemos
prever quais óvulos têm maior probabilidade de se tornarem embriões viáveis.
Com essa tecnologia, será possível selecionar os melhores óvulos para
congelamento, reduzindo a quantidade necessária e aumentando as chances de
sucesso. O futuro da fertilidade está apenas começando.
Marcos Sampaio - médico ginecologista, especialista em reprodução assistida e diretor da clínica Origen BH.
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