Hoje em dia a turma cria os filhos diferente. Na
minha época, não... Acho que tudo era mais simples, mais verdadeiro, mais
genuíno. Não sei... É o saudosismo que vem tomando conta de mim. Acho que
acontece com todo mundo: a gente vai ficando velho e meio bobo.
Mas é
que, de verdade, tem umas coisas que eu não entendo! Meus sobrinhos mesmo: é um
tal de não pode comer isso, não pode comer aquilo, que me dá até gastura. Vocês
acreditam que eles ficaram anos sem açúcar? Qual o sentido disso?? E café,
então? Acho que até hoje não tomam.
É por
conta desses modismos modernosos que nossas tradições vão se perdendo. O que
que custa dar pra criança um bolo de fubá e um cafezinho? Um bolinho caipira?
Sabia que eu era recém-nascido quando minha vó Tereza me colocava no colo,
fazia uma papinha de miolo de pão, manteiga e café e me dava? E eu tô aqui até
hoje, não é?
Acho
que já contei como eu adorava assistir aos jogos de futebol com meu pai. A
gente ficava num quartinho e ele fumava um cigarro atrás do outro. E eu tô
aqui! Nem fumar eu fumo… Eu até ganhei uma memória deliciosa: sempre que sinto
aquele cheiro da fumaça eu lembro de tudo. Parece que o cheirinho me leva de
volta. Pra mim, fumaça de cigarro é o perfume das saudades!
Não
era futebol, mas nas Olimpíadas de 1992 em Barcelona foi a mesma coisa. A TV
ligada, o cigarro do meu pai acesso… A fumaça deixava uma névoa tão boa no
quarto! Marcelo Negrão fez ponto! Brasil foi ouro! OURO!
As memórias
são o nosso ouro. Sempre que sinto aquele cheiro, vou para o alto do pódio.
Lá na
minha vó Tereza era igualzinho. Domingo cedo. TV ligada no Ayrton Senna. Tema
da vitória. O macarrão ia saindo junto com o assado. E o Senor Abravanel
chegava no 4. Eu adorava. Pião. Baú. Show de Calouros. De noite tinha a semana
do presidente. Como será que estava o Sarney? E a inflação?
Sabe o
que também aprendi com ele? Que o ouro vale mais que dinheiro! Que toda pessoa
tem uma beleza pra gente enxergar! Aprendi a aprender com tanta beleza! Esse é
o ouro: enxergar e aprender!
Ouro
das Saudades! Eu ainda sinto aquele perfume. Tanta coisa misturada… Mas sempre
ela, a fumaça do cigarro. E ouço também… Vozes da tia Julinha, tia Mara, tio
João, tio Fernando, Voz do Sílvio!
Fumaça
de cigarro é o perfume da nostalgia! Vozes do Sílvio e do Lombardi são os sons
da lembrança! O Sílvio Santos lá lá lá lá …
Pra
quem mal tinha compromisso na segunda-feira, o domingo nunca tinha nada de
depressão. Pelo contrário! Era o dia mais gostoso…
Kol
Hakavod, Senor!
André Naves - Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro "Caminho - a Beleza é Enxergar", da Editora UICLAP (@andrenaves.def).
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