Propostas devem ser voltadas para expedições científicas multidisciplinares na região da Amazônia por um período de até 36 meses divulgação |
A Iniciativa Amazônia+10 e o Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) lançaram
ontem (16/11) a Chamada Expedições Científicas, que vai disponibilizar R$
59,2 milhões para financiar pesquisas voltadas à expansão do conhecimento
científico da sociobiodiversidade sobre áreas pouco conhecidas da maior
floresta tropical do mundo. O prazo para submissão de propostas vai até 29 de
abril de 2024, como detalha o edital.
A Iniciativa Amazônia+10 é
liderada pelo Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa
(Confap) e pelo Conselho Nacional de Secretários para Assuntos de Ciência,
Tecnologia e Inovação (Consecti) e conta também com a parceria do CNPq.
“O Programa Iniciativa
Amazônia+10 visa viabilizar recursos para projetos científicos na região,
articulando grupos de pesquisa que combinam pesquisadores locais com de outros
Estados. O CNPq orgulha-se em participar dessa iniciativa, que certamente trará
grandes benefícios científicos e tecnológicos para a região”, comenta Ricardo Galvão,
presidente do CNPq, ressaltando em seguida que a preservação da floresta
amazônica e o desenvolvimento de sua economia de uma forma sustentável, não
predatória, dependem fortemente do conhecimento científico local.
“A FAPESP participou ativamente
da articulação da Iniciativa Amazônia+10. Na primeira chamada, pesquisadores
paulistas se associaram aos de outras FAPs para o desenvolvimento de boa parte
dos projetos que, atualmente, já estão em curso na região. A segunda chamada
contribuirá para ampliar ainda mais a pesquisa em cooperação na busca de
solução para uma região que é patrimônio do Brasil e de todo o planeta”,
afirma Marco Antonio Zago, presidente
da FAPESP.
Para Odir Dellagostin,
presidente do Confap, a Amazônia não interessa apenas aos Estados da região.
"Ela diz respeito a todo o país e ao mundo. Pesquisadores de outras partes
do Brasil também têm interesse em contribuir com os desafios da região e, por
isso, a possibilidade de alocação de recursos por parte de outras fundações
estaduais de amparo à pesquisa é muito bem-vinda. Isso fortalece a Iniciativa
Amazônia+10 e estamos muito contentes que, no momento, nós temos 25 das 27 FAPs
[Fundações de Amparo à Pesquisa] envolvidas no programa."
Neste edital, 19 FAPs aderiram
à chamada, sendo nove de Estados da Amazônia Legal (Amazonas, Acre, Rondônia,
Roraima, Pará, Maranhão, Amapá, Tocantins e Mato Grosso), além de Rio Grande do
Sul, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro, Goiás, Pernambuco, Alagoas, Paraíba,
Paraná, São Paulo e Distrito Federal. Outras agências nacionais e
internacionais ainda podem se somar à Chamada de Expedições Científicas até 31
de dezembro.
"Nós demos um passo
importante com essa iniciativa. Muitas vezes, a Amazônia recebia pesquisadores
de outros Estados, de outros países e os pesquisadores da própria região não
participavam dos projetos – ou atuavam apenas como coadjuvantes. E houve um
avanço nesse sentido com o primeiro edital lançado pela Iniciativa Amazônia+10,
em 2022, e novamente neste. Isso significa um trabalho de parceria, de pesquisa
colaborativa, que leva em consideração o que os amazônidas pensam e o que
têm", explicou Márcia Perales, diretora-presidente da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).
Para ela, os resultados que
podem ser alcançados com a nova chamada são muito grandes. "As expedições
podem trazer materiais superimportantes em relação à sociobiodiversidade
regional. E isso faz com que nossos conhecimentos sejam ampliados. Muitos deles
servirão de base para novas pesquisas ou para contribuição na solução de
problemas que nós identificamos no nosso dia a dia. É de uma riqueza e uma
ousadia imensas o lançamento deste edital pelo Confap, pelo Consecti e pelo
CNPq."
O edital
Os projetos enviados para
avaliação devem contar com pesquisadores responsáveis de pelo menos dois dos 19
Estados cujas FAPs aderiram à chamada, sendo que um deles deve obrigatoriamente
estar vinculado a instituições com sede nos Estados da Amazônia Legal. O edital
também prevê a inclusão, na equipe de pesquisa, de pelo menos um integrante
vinculado a povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais (PIQCT),
detentor do conhecimento tradicional relacionado ao território que será
estudado.
As propostas devem ser voltadas
para expedições científicas multidisciplinares na região da Amazônia por um
período de até 36 meses. O valor mínimo de cada projeto contemplado será de R$
400 mil – não havendo limite máximo. Foi disponibilizado um roteiro que
explica o passo a passo para submissão da proposta na Plataforma Carlos Chagas,
do CNPq.
Dos R$ 59.250.000 previstos
nesta chamada, R$ 30 milhões serão alocados pelo CNPq exclusivamente para
pesquisadores com vínculo formal com alguma instituição localizada em um dos
Estados da Amazônia Legal.
"Desta vez estamos
buscando uma participação maior na Iniciativa Amazônia+10. Temos construído essa
chamada junto com as FAPs, Confap e Consecti. E, com ela, queremos manifestar a
sensibilidade do CNPq para essa agenda tão importante, que hoje inclui a
questão amazônica", diz Dalila Andrade Oliveira, da Diretoria de
Cooperação Institucional, Internacional e Inovação do CNPq.
Embora a Amazônia seja uma das
maiores e mais intactas florestas do mundo, ela é também uma das menos
conhecidas em termos biológicos. Seu tamanho imenso, sua diversidade e seus
acessos limitados fazem com que a tarefa de documentar sua biodiversidade seja
extremamente desafiadora.
O edital tenta justamente
preencher duas lacunas, uma geográfica e outra taxonômica, como explica Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente
do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP. "Nós sabemos que as áreas
que têm forte conhecimento sobre a biodiversidade da Amazônia são as de mais
fácil acesso, em geral nas rotas dos rios. Mas 40% do território amazônico tem
um grande desconhecimento sobre qual é a biodiversidade existente lá." É o
que mostra o artigo publicado em julho de 2023, na Current Biology,
pelo projeto Synergize. Segundo o artigo, grande parte das áreas da Amazônia
está sendo negligenciada por pesquisas em ecologia (leia mais em: agencia.fapesp.br/41942).
"A outra lacuna é sobre a
taxonomia da região", acrescenta Pacheco. "Alguns tipos de espécie
têm uma cobertura muito pequena no que diz respeito ao conhecimento da
biodiversidade – os casos mais graves são fungos e bactérias. Em relação às
bactérias, por exemplo, as implicações são grandes não apenas no que se refere
ao uso econômico delas, mas sobretudo quando se fala em saúde pública." A
intenção é que a chamada ajude a superar esses gaps.
O edital também apoiará
expedições voltadas a ampliar o conhecimento da diversidade sociocultural dos
povos tradicionais da Amazônia. Serão financiadas pesquisas, por exemplo, sobre
o patrimônio material e imaterial de povos ancestrais, indígenas e
tradicionais, documentação de línguas indígenas e sistemas de conhecimento
associados, além da relação entre dinâmicas territoriais de povos tradicionais
com o uso sustentável dos recursos naturais da floresta.
Para Marcel do Nascimento
Botelho, diretor-presidente da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e
Pesquisas (Fapespa), editais como este são fundamentais. "São
conhecimentos basilares que precisam ser adquiridos pela comunidade científica
para se transformar em outros produtos, como o uso da biodiversidade, a
preservação da cultura, a valorização do conhecimento tradicional. Sem as
expedições científicas, não teremos a base para fazer isso com a competência e
a qualidade necessárias."
Uma das diretrizes do edital é
que o material coletado nas expedições científicas seja catalogado e tombado em
instituições amazônicas, como forma de preservação desse patrimônio. Portanto,
as universidades e os institutos de pesquisa locais vão ter um papel importante
nessa questão.
A divulgação do resultado final
das propostas contempladas será feita em agosto de 2024, na página eletrônica
do CNPq, do Confap e de todas as FAPs participantes, bem como no Diário
Oficial da União.
Sobre a
Iniciativa Amazônia+10
A Iniciativa Amazônia+10 apoia
projetos de pesquisa em colaboração voltados à conservação da biodiversidade e
adaptação às mudanças climáticas, à proteção de populações e comunidades
tradicionais, aos desafios urbanos e à bioeconomia como política de
desenvolvimento econômico na região. Na primeira chamada de propostas, lançada
em junho de 2022, foram selecionados 39 projetos de pesquisa na região.
"É uma ação inédita de
conjunção de 25 Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa para um único
programa. Isso é algo que demonstra a importância do que está se tentando
resolver, das soluções que estão tentando criar", destaca Silvio Bulhões,
presidente do Consecti.
"Este projeto nasceu como
fruto de uma discussão ampla, de uma iniciativa de muitas mãos e responde um
pouco sobre a importância do protagonismo da região, de atender às necessidades
da região e enxergar as particularidades locais", diz Marcel do Nascimento
Botelho, diretor-presidente da Fapespa.
Os estudos apoiados no âmbito
desta iniciativa devem avançar o conhecimento científico sobre a Amazônia e,
conjuntamente com atores relevantes para as formulações de políticas públicas,
atrair investimentos públicos e privados de forma a promover o bem-estar das
populações da região de forma consistente e a longo prazo.
A Iniciativa tem o objetivo de,
nos próximos anos, investir mais de R$ 500 milhões em pesquisa na Amazônia.
A chamada de propostas também
pode ser acessada em: www.amazoniamaisdez.org.br/chamadas.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/em-parceria-com-o-cnpq-iniciativa-amazonia10-lanca-a-chamada-expedicoes-cientificas/50250
Nenhum comentário:
Postar um comentário