Especialista do
Hospital da Mulher Mariska Ribeiro, no Rio, fala sobre importância de empoderar
mulheres para que assumam o controle de seus corpos, aprendendo mais sobre seus
desejos e direitos
Considerada fundamental para
garantir o bem-estar físico e mental, a saúde sexual engloba inúmeros fatores
para além da ausência de doenças relativas ao aparelho reprodutor. De acordo
com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um indivíduo sexualmente saudável é
aquele que tem condições físicas, emocionais, mentais e sociais para vivenciar
experiências sexuais seguras e prazerosas.
Para que isso ocorra, segundo afirma Dra. Aline Vales Whately, ginecologista do
Hospital da Mulher Mariska Ribeiro (HMMR), gerenciado pelo CEJAM – Centro de
Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal de
Saúde do Rio de Janeiro, é necessário ampliar o acesso aos métodos de prevenção
de ISTs (Infeções Sexualmente Transmissíveis), bem como estimular o autocuidado
e conscientizar a população sobre violência sexual, riscos de uma gravidez
precoce e importância de realizar os exames preventivos regularmente.
“Toda mulher deve ter acesso a um acompanhamento ginecológico de qualidade,
para que possa manter em dia seus exames e tratamentos. E tão importante
quanto, poder tirar todas as dúvidas sobre seu corpo, desejos e direitos
femininos”, frisa.
Para a médica, esses pontos são fundamentais, uma vez que a mulher sofre mais –
e mais cedo – com os impactos da falta de informação e de cuidados médicos e,
até mesmo, dos tabus culturais relacionados à sua vida sexual e reprodutiva.
“A mulher deve conhecer o seu corpo para aprender a reconhecer alguma alteração
patológica e também para saber do que gosta, e como gerar prazer para
satisfazê-la. Esse entendimento coloca a mulher no controle de seu corpo e dá a
ela o direito de escolhas: menstruar ou não menstruar, quando ter relações
sexuais, com quem ter essas relações, se deseja engravidar ou não, e como se
prevenir contra infecções sexualmente transmissíveis”, completa.
Dessa forma, o primeiro passo é realizar o exame de rotina ginecológico,
que inclui coleta preventiva, para evitar câncer de colo de útero; toque
vaginal, para avaliar presença de alterações abdominais, como massas pélvicas;
e exames das mamas, em busca de algum nódulo.
Em relação ao controle de ISTs, a atuação deve acontecer em duas frentes: a
primeira, com ações contundentes de conscientização sobre o uso do
preservativo; e a segunda, com acompanhamento constante para diagnóstico
precoce, considerando que muitas ISTs não têm cura, mas podem ter seus sintomas
reduzidos com o tratamento adequado.
Em pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde em 2021, cerca de 1 milhão de
pessoas declararam ter tido diagnóstico de ISTs ao longo de 12 meses. Para
agravar esse cenário, um outro levantamento feito pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) apontou que o uso da camisinha entre
adolescentes vem caindo nos últimos dez anos, com apenas 59% dos jovens
entrevistados assumindo que utilizaram o preservativo na última relação sexual.
“Dentre as principais doenças não curáveis temos o HIV e o HPV (relacionada ao
câncer de colo de útero), herpes genital (causa bastante dor e incômodo) e
hepatite B (que pode cronificar e levar ao câncer hepático)”, exemplifica.
Já entre as infecções tratáveis que poderiam ser evitadas com o uso do
preservativo, a especialista alerta para clamídia e gonococo, que levam à
doença inflamatória pélvica, podendo causar infertilidade e sífilis, com alta
incidência e morbidade. “Quando ocorre na gestação, pode causar aborto ou ser
transmitida ao bebê, levando a infecções graves no recém-nascido.”
Em outro aspecto, para a especialista do HMMR, a relação da mulher com seu
corpo e com o ato sexual precisa ser olhada com atenção desde cedo e passa por
conceitos cruciais de empoderamento feminino.
“A mulher deve ser estimulada a se tocar e conhecer seu corpo, desvendando,
assim, suas preferências e chegando ao tão esperado orgasmo. Tirar a
responsabilidade de obtenção de prazer sexual do parceiro, e descobrir que é
possível obter prazer sozinha, é libertador e aumenta a autoestima feminina”,
defende.
Esse exercício de autodescoberta do corpo também leva à percepção de como
funciona a própria libido. Segundo a Dra. Aline, ao contrário do que se
imagina, o problema não acontece apenas na menopausa, podendo atingir mulheres de
todas as idades, pois não está diretamente ligada à falta de hormônios.
“Em geral, alterações hormonais têm pouco ou nenhum peso sobre a libido da
mulher, que é muito complexa e multifatorial e, por isso, de difícil
tratamento. A excitação feminina está relacionada ao cortejo do parceiro,
sedução, bom papo, troca de carícias e admiração do parceiro, coisas que se
perdem com relacionamentos longos, que caem na rotina. ”
Para fechar esse ciclo de cuidado e prevenção, Dra. Aline reforça a importância
de promover ações de conscientização e combate à violência sexual, encorajando
as mulheres a externarem situações de agressão e buscarem ajuda. “Leis cada vez
mais difundidas e uma rede de apoio mais consistente podem contribuir para que
as mulheres assumam o controle de suas vidas e de seus corpos.”
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial)
cejam.org.br/noticias.
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