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quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Focos de incêndio na Mata Atlântica tem seu período mais crítico ao fim da temporada de seca

 


Degradação das condições do solo utilizado para agropecuária, liberação de Gases de Efeito Estuda e impactos em áreas estratégicas do sistema de abastecimento de água estão entre as principais consequências   

 



O fim da temporada de estiagem no Sudeste, nos meses de agosto e setembro, é um dos períodos de maior incidência de queimadas, quando grande parte das ocorrências costuma acontecer. Durante os meses mais secos, a umidade relativa do ar diminui significativamente. Com solo e vegetação mais secos devido à falta de chuvas, o fogo tem maior facilidade de se alastrar e sair do controle, causando incêndios que trazem grandes prejuízos à agricultura, ao solo, ao abastecimento de água e ao clima. Neste ano, a estiagem pode se prolongar ainda mais, agravada pela ocorrência do fenômeno meteorológico El Niño, que aumenta as temperaturas médias e reduz a frequência e intensidade do regime de chuvas.

Uma preocupação extra para as 7 milhões de pessoas abastecidas pelo Sistema Cantareira, localizado na Mata Atlântica. A região de um dos maiores sistemas de água do mundo já conta com um déficit de 35 milhões de árvores a serem plantadas nas áreas ao redor de nascentes, rios e reservatórios, a fim de aumentar a segurança hídrica do Sistema, que enfrenta o problema recorrente de incêndios todos os anos na época da seca.

O levantamento do MapBiomas, que monitora o uso do solo no Brasil, mostrou que no primeiro semestre de 2023, mais de 3 milhões de hectares sofreram com as queimadas no país. Apesar da redução de 1% em comparação aos dados do ano anterior, 20.686 hectares de Mata Atlântica foram queimados apenas no mês de julho. O bioma é um dos mais ameaçados e fragmentados do país devido à intensa degradação causada pelo desmatamento que tem como finalidade a utilização dessas áreas para a agropecuária, exploração madeireira e urbanização. Também é onde se concentra grande parte da população, que necessita da água, tanto para o consumo quanto para a execução de atividades econômicas e produção de alimentos.

Solos desprotegidos por vegetação possuem um maior escoamento superficial, o que leva à erosão. Este processo erosivo carrega sedimentos e contaminantes para os corpos d'água, afetando sua qualidade e elevando os custos de tratamento. A perda de vegetação diminui a capacidade das bacias hidrográficas de regular e armazenar água, o que pode intensificar períodos de seca e reduzir a disponibilidade de água.

A maioria dos incêndios na região do Sistema Cantareira é resultante da ação humana. O fogo ainda é muito utilizado para “limpeza” de terras para agricultura ou pastagem, queima de lixo ou de restos de podas. Nas plantações de eucalipto, que representam 16% da área do Sistema Cantareira, o fogo é utilizado para a retirada da vegetação intermediária, com a justificativa de facilitar o trabalho de corte da madeira. Apesar de ilegal e passível de penalidades, a fiscalização ainda é muito baixa. Nas pastagens, que são o uso da terra mais comum na região, equivalente a 46% da área do Sistema, a queima é utilizada para estimular a rebrota do capim.

“Pode parecer que o fogo facilita o trabalho, mas no longo prazo as queimadas agravam muito a degradação do solo. Em uma área queimada, por exemplo, a vegetação não tem a capacidade de absorver tão rapidamente os nutrientes disponibilizados pela rápida decomposição da matéria orgânica pelo fogo, e eles são perdidos, levados pelo ar e pela água da chuva. Além disso, o fogo mata grande parte da vida do solo – uma infinidade de microrganismos que atuam na ciclagem de nutrientes dos quais a vegetação necessita. Esse solo vai demorar muito mais tempo para se recuperar, necessitando de mais insumos no longo prazo, o que aumenta os custos de produção e manutenção.” explica Paulo Ferro, engenheiro florestal e extensionista do Projeto Semeando Água, uma iniciativa do IPÊ - Instituto de Pesquisas Ecológicas patrocinado pela Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental.

A ampla extensão de solos degradados em propriedades rurais dificulta a infiltração da água da chuva e reabastecimento dos lençóis freáticos. Promover práticas de produção sustentáveis na agricultura é uma das estratégias para que a fertilidade da terra se mantenha no longo prazo, e consequentemente, seja capaz de produzir os resultados esperados. Técnicas como Sistemas Agroflorestais e Manejo da Pastagem Ecológica também contribuem para aumentar a segurança hídrica.

As queimadas podem trazer prejuízos adicionais, ao atingir edificações e infraestruturas, e colocar vidas em risco. Representam uma ameaça devastadora para a fauna, o que perde seu habitat, abrigo e fontes de alimento e, em muitos casos, a vida. Além disso, a alteração do habitat pode resultar em desequilíbrios ecológicos, onde espécies invasoras ou oportunistas podem se beneficiar da perturbação.

“Enquanto os incêndios destroem a vegetação em poucas horas e ainda liberam Gases de Efeito Estufa que agravam às Mudanças Climáticas, a restauração das florestas é um processo que leva muitos anos. Florestas maduras tem o importante papel de armazenarem os maiores estoques de carbono, além de contribuírem para a conservação da biodiversidade e fornecimento de serviços ecossistêmicos, os serviços prestados pela natureza, como a água, por exemplo, de qualidade e em quantidade essencial para a região do Sistema Cantareira.”, reforça Alexandre Uezu, coordenado do Projeto Semeando Água.

Medidas de prevenção para que o fogo não se alastre, como a manutenção de aceiros (faixas onde a vegetação é removida ao longo de divisas, cercas e áreas de floresta nativa) são cruciais neste período. A colaboração da população também tem um papel central na redução dos focos de incêndio, com benefícios compartilhados com a sociedade.


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