Enquanto empresas
do setor de tecnologia realizam demissões em massa, a agricultura digital já é
utilizada por mais de 80% dos agricultores brasileiros e segue em crescimento.Divulgação
Profissionais de tecnologia do mundo estão passando
por um grande momento de incertezas, já que companhias da área estão realizando
demissões em massa desde o ano passado. Não é possível saber ao certo, mas
estima-se que pelo menos 100 mil pessoas já foram desligadas de empresas de
tecnologia até o primeiro trimestre deste ano.
Levando em consideração somente as big techs, os
números passam de 50 mil. A Meta demitiu cerca de 10 mil pessoas, Google (12
mil), Microsoft (10 mil) e Amazon (18 mil). As dispensas não atingiram somente
trabalhadores de tecnologia, mas estes profissionais estiveram dentre os mais
afetados.
Com a movimentação atingindo também o Brasil – já
que companhias nacionais e filiais das gigantes também dispensaram pessoas em
território nacional –, muita gente se viu obrigada a repensar sua carreira
profissional. E neste sentido, o agronegócio aparece como uma excelente
alternativa para recolocação, já que o setor corresponde a quase 25% do Produto
Interno Bruto (PIB) do país.
Mas a pujança da agricultura e pecuária brasileira
tem dificultadores como justamente a falta de mão-de-obra. A pesquisa
“Profissões Emergentes na Era Digital”, desenvolvida pela Agência Alemã de
Cooperação Internacional (GIZ), em parceria com o Senai e a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostra que a longo prazo o Brasil deve
precisar de mais de 150 mil trabalhadores para o agro.
“Jovens que se formam em tecnologia principalmente
em grandes centros urbanos acabam se esquecendo que o campo também necessita de
vários dos conhecimentos que eles adquiriram. Nos dias de hoje, as lavouras e
pastos também têm necessidade de soluções de TI, dados, inteligência
artificial, cibersegurança e várias outras”, cita o Leonardo Luvezuti, diretor
de negócios da Perfect Flight, agtech brasileira que oferece serviços de gestão
e rastreabilidade de aplicações aéreas e que está presente nos EUA e América
Latina.
Oportunidades de TI no campo
Um levantamento da consultoria 360 Research &
Reports apontou que até 2026 a agricultura digital deve crescer em 186%,
chegando a movimentar US$ 8,3 bilhões (mais de R$ 40 bilhões na cotação do
final de abril) em investimentos.
Falando sobre a agricultura, a consultoria ressalta
que há uma expectativa de crescimento vertiginoso no setor principalmente por
causa do aumento da população mundial até 2050, que deve chegar a 9,7 bilhões
segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). A alta na população “resultará
em um aumento radical na demanda de produção de carne e cereais”, salienta a
360 Research & Reports. Já visto como um dos “celeiros do mundo”, o Brasil
terá ainda mais importância. O país deve ter “um crescimento notável ao longo
dos anos” na agricultura, diz trecho de relatório da consultoria.
Com a alta possibilidade de puxada para cima na
necessidade dos commodities – que são as matérias primas-básicas exportadas em
larga escala pelo Brasil como a soja, milho, carne e açúcar –, os produtores
rurais esfregam as mãos. Só que mesmo com a excelente perspectiva para o campo
brasileiro, o fato é que além da falta de mão-de-obra especializada em
tecnologia, o país também passa por problemas de formação. No caso, o
agronegócio sofre com poucos profissionais com alguma especialização em
tecnologia e ainda com o ensino defasado.
Leonardo Luvezuti pontua que assim como acontece em
praticamente qualquer carreira na área de tecnologia, os currículos em cursos
voltados para a agricultura digital não se atualizam com a mesma frequência na
qual avança o mercado.
“A saída desse tipo de situação é válida para
praticamente qualquer pessoa, esteja ela atuando com TI ou não. Já que o
mercado de trabalho se move muito mais rápido que as universidades, é essencial
se atualizar com cursos, palestras, workshops e fazer network para sempre estar
em contato com o que há de mais avançado que está sendo aplicado”, acrescenta
Luvezuti.
Carreiras de TI no agro
Com celulares, smartwatches, dispositivos com
Internet das Coisas (IoT), televisores com comando de voz, chatbots
conversacionais como o ChatGPT e várias outras soluções, é fato que a
tecnologia está presente no nosso cotidiano da hora que acordamos até o momento
que deitamos para dormir.
E contrariando muitos preconceitos, quem trabalha
e/ou mora na zona rural também tem contato com todos os devices que quem mora
nas cidades. Para se ter uma ideia, de acordo com uma pesquisa da Embrapa,
Sebrae e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), 84% dos agricultores
brasileiros utilizam algum tipo de tecnologia digital na produção.
Se há 20 anos os produtores utilizavam mapas
físicos para se localizar nas lavouras, hoje em dia eles têm na palma da mão o
controle de cada ponto de sua propriedade. Além da questão geográfica,
aplicativos entregam a eles informações detalhadas e relatórios apontando se há
a presença de populações de abelhas, por exemplo. Isso informa ao trabalhador
que o defensivo agrícola não deve ser aplicado naquele ponto específico.
Esta é uma das soluções da Perfect Flight, que
utiliza o Google Maps para mapear as propriedades e oferece uma plataforma de
gestão e rastreabilidade para aplicar os defensivos de forma mais correta e
sustentável. O sistema é baseado na nuvem e por isso funciona em computadores e
dispositivos móveis como celulares e tablets.
Para construir o software, que já rastreou mais de
32 milhões de hectares e opera em mais de 100 dos principais municípios
agrícolas na América Latina, a Perfect Flight contou com o conhecimento
de diversos profissionais de TI como analistas e cientistas de dados.
“A virtualização e robotização do campo é uma
realidade e as pessoas não imaginam o quanto estas ferramentas são importantes
para tornar o agronegócio competitivo. São raras as áreas da agricultura ou
pecuária que não tem nenhum tipo de tecnologia embarcada para fazer algum tipo
de acompanhamento”, explica Leonardo Luvezuti .
E para os interessados em ingressar em alguma vaga
de tecnologia no campo, confira algumas das carreiras disponíveis além de
analistas e cientistas de dados:
- Operador
de drone;
- Designer
de máquinas agrícolas;
- Engenheiro
de aplicação e suporte;
- Técnico
em agronegócio digital;
- Engenheiro
de automação agrícola;
- Engenheiro
de software agrícola;
- Agro
Digital Manager;
- UI/UX
designer;
- Desenvolvedor
de aplicativos agrícolas.
“A agricultura e pecuária do Brasil são referências no mundo todo pelas inovações. E eu acredito que nós temos muito a crescer com profissionais de TI que estão em outras áreas que queiram ingressar na agricultura digital para trazer novas ideias. Com uma boa atualização com cursos e força de vontade essas pessoas podem agregar muita qualidade aos produtos que estão diariamente nas mesas dos brasileiros e brasileiras”, finaliza o diretor.
Perfect Flight - agtech que presta serviços de
monitoramento de pulverizações aéreas de defensivos agrícolas através de uma
plataforma digital.
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