Diante de dados
desafiadores, iniciativas que possibilitam o retorno da licença-maternidade com
flexibilidade mostram o comprometimento das empresas com a equidade de gênero
A pesquisa “The Labor Market Consequences of
Maternity Leave Policies: Evidence from Brazil”, divulgada pela FGV, mostra que
cerca de 50% das mulheres perdem o emprego depois do início da
licença-maternidade. A porcentagem de mulheres que está no mercado de trabalho
acompanha esta média: após a maternidade, metade delas se distanciam do
ambiente profissional - entre os homens, apenas 15% deixam seus empregos depois
de terem filhos.
O estudo ainda mostra que a maioria das saídas do
mercado de trabalho acontece sem justa causa, por iniciativa do empregador.
Mulheres com curso superior apresentam queda de emprego de 35% depois de um ano
da licença, enquanto mulheres com níveis mais baixos de escolaridade atingem
uma queda de até 51%.
Países onde a igualdade de gênero alcançou um
patamar elevado, como a Holanda, também enfrentam casos parecidos. Um estudo
sobre o mercado de trabalho holandês, publicado pelo College Voor de Ritchen
Van de Mens, mostrou que 1 em cada 5 mulheres foi rejeitada por causa da
gravidez, enquanto 1 em cada 3 contou que ia assinar o contrato de trabalho e
perdeu a vaga quando a empresa soube que era mãe.
“O cenário, que poderia ser desanimador, oferece
para as empresas a oportunidade de reconhecer a potência das mães,
principalmente aquelas que estão retornando da licença-maternidade. Dez das
habilidades listadas pelo Fórum Mundial Econômico como as mais requisitadas
pelo mercado de trabalho são desenvolvidas durante a maternidade”, explica
Dhafyni Mendes, pesquisadora de carreiras femininas e cofundadora do Todas
Gorup. “Em momentos de priorização das pautas ESG, com impacto inclusive no
aspecto financeiro, as ações da liderança impactam resultados de estudos como
estes”, diz Dhafyni.
Iniciativas já adotadas por muitas empresas
brasileiras, como licença-maternidade e paternidade estendidas, auxílio-creche,
salas de amamentação, flexibilidade de horários, creches corporativas, carga
horária reduzida ou short week são formas de reconhecimento da importância da
presença das mulheres que são mães dentro de equipes de alta performance - além
de contribuir substancialmente para o aumento da equidade de gênero.
Outra prática que ganhou espaço em empresas
americanas e canadenses é o subsídio do congelamento de óvulos para as
funcionárias interessadas em terem filhos em momentos mais tardios. A prática
tem levantado algumas polêmicas, principalmente em relação ao quanto a empresa
está incentivando as mulheres a atrasarem seu desejo de maternidade. Grandes
companhias como Meta, Google e IMB, já oferecem o benefício, defendendo o
acesso ao planejamento familiar e à autonomia sobre a decisão de quando se
tornar mãe.
“Mulheres que são mães chefiam mais de 50% dos
lares brasileiros, mas encontram barreiras para continuarem no mercado formal
de trabalho, e acabam voltando para o final da fila de prioridades, promoções e
melhores remunerações nas empresas. No entanto, precisamos mudar os viéses
inconscientes que colocam a maternidade como obstáculo em vez de todo o
desenvolvimento de novas habilidades que ela proporciona”, reflete
Dhafyni.
A pesquisadora, no entanto, vê com otimismo a pauta da maternidade estar em alta. “Falar sobre a potência das mães, a importância da nossa presença no mercado de trabalho e nosso papel social mostra que estamos avançando na consciêncientização. A valorização das mães é fundamental para a equidade de gênero como um todo, inclusive para as mulheres que não optarem pela maternidade”, conta Dhafyni Mendes, que vê como prioridade as empresas abrirem mais espaços de escuta para as mães. “Precisamos ser ouvidas, em primeiro lugar”, finaliza.
Dhafyni Mendes - pesquisadora do crescimento profissional feminino, com foco na trajetória de lideranças. Com mais de 10 anos de experiência em comunicação multiplataforma para este público, além do desenvolvimento de branding e treinamento de vendas para times globais femininos. Dhafyni é co-fundadora do Todas Group - plataforma que reúne as maiores líderes da América Latina em trilhas de aprendizados voltadas para o impulsionamento da carreira de mais de 30 mil mulheres no Brasil.
https://www.linkedin.com/in/dhafynimendes/
https://www.instagram.com/dhafyni/
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