Um novo ano se iniciou e, com ele, um novo governo assumiu o Brasil. Com trabalhos iniciados logo após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno do pleito de 2022, a equipe de transição já dava sinais de quais seriam as políticas econômicas, sociais, fiscais e externas do novo governo.
Na posse, ocorrida no domingo, 1.º de janeiro, mais
de 20 chefes de Estado estiveram presentes. Da América do Sul vieram quase
todos, com exceção da Venezuela e do Peru – esse último envolvido numa crise
política desde a tentativa de golpe de Estado do presidente preso Pedro
Castillo. Além das autoridades dos países vizinhos, acompanharam a posse os
presidentes da Alemanha, de Angola, Honduras, Guiné-Bissau, Portugal e Timor
Leste, e os primeiros-ministros de Marrocos, Mali e São Vicente e Granadinas, e
o rei da Espanha.
Em termos de delegações, vieram cerca de 65 – 19 a
mais do que para a posse anterior. Muitos países que, por conta da data não
enviaram seus chefes de Estado, designaram representantes, entre eles a
primeira-dama do México, Beatriz Gutiérrez Müller, e o vice-presidente chinês,
Wang Qishan. Além de chefes de Estado e representantes estrangeiros, 23
organizações internacionais, como a Unesco, Unicef, BIRD e OEA estavam
representadas no evento.
Sendo uma das maiores democracias do mundo, é
natural que as transições de poder no Brasil sejam bastante prestigiadas. Isso
sempre ocorreu. Após a posse, muitas autoridades e delegações que participaram
da cerimônia permaneceram no país por alguns dias para reuniões bilaterais. No
caso da Argentina, o embaixador Daniel Scioli reuniu-se na terça-feira, 3 de
janeiro, com o ministro da Fazenda Fernando Haddad. Desse encontro, veio a
primeira péssima ideia para a política externa brasileira: a criação de uma
moeda comum para o Mercosul. Embora o bloco econômico precise avançar, uma
moeda única para economias tão diferentes – e, no caso da Argentina, com
necessidade de dólares sempre em fuga –, certamente seria muito mais um
infortúnio do que uma benesse.
Ainda assim, espera-se que sob a chancelaria de
Mauro Vieira, o Brasil reapareça para o mundo. Independentemente de posição
política, nos últimos anos o país perdeu protagonismo em temas que sempre
liderou, como a vacinação ampla e proteção ambiental. Mas foi justamente a
proteção ambiental que travou avanços importantes para o Brasil – como a
ratificação do acordo de livre comércio com a União Europeia. Nos últimos
encontros do G20, o Brasil avançou pouco e não teve acordos significativos
firmados com as maiores economias do mundo. A visita à Rússia em meio às
tensões com a Ucrânia, ocorrida em fevereiro de 2022, também não teve objetivo
ou benefício claro.
A nova política externa que já se desenha também
indicou seus primeiros passos. O novo presidente deverá visitar Buenos Aires
ainda em janeiro, seguindo a tradição de que a primeira visita internacional
dos presidentes brasileiros eleitos seja ao país vizinho. Outras nações que
serão visitadas logo são os Estados Unidos, Portugal e China. São parceiros
estratégicos com os quais a proximidade diplomática e comercial pode render
bons frutos. Se Estados Unidos e China estão vivendo uma disputa comercial, o
Brasil não deve se envolver. Afinal, são nossos principais parceiros comerciais
e, tomar lado nessa querela não nos beneficia de nenhuma maneira.
João Alfredo Lopes Nyegray - doutor e mestre em Internacionalização e Estratégia. Especialista em Negócios Internacionais. Advogado, graduado em Relações Internacionais. Coordenador do curso de Comércio Exterior na Universidade Positivo (UP). Siga no Instagram: @janyegray
Nenhum comentário:
Postar um comentário