Opinião
A crise sanitária, motivada pela COVID-19, trouxe consequências
diversas na área da saúde e o número de pacientes que estão perdendo a vida por
conta da insuficiente quantidade de doadores de órgãos é motivo de preocupação
por parte da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS). Mesmo diante de
um cenário de alívio da pandemia, os dados do primeiro trimestre, relativos ao
número de mortes de pacientes à espera de transplante, não melhoraram. O
primeiro semestre deste ano registrou 9 mortes por dia. São vidas que não se
recuperam. Tais fatalidades servem de alerta para aumentarmos a conscientização
sobre o tema em toda nossa sociedade.
Esses efeitos sentidos agora foram acentuados pelo prolongado
período da pandemia. Segundo estatística da Associação Brasileira de
Transplantes (ABTO), houve uma diminuição de 32% no volume de transplantes,
provocando uma elevação de 34% no número de mortes. Os dados são relativos à
comparação do primeiro semestre de 2020 (quando a pandemia esteve acentuada)
com o ano de 2019.
Além das limitações físicas, como leitos de UTI, a falta de
protocolos homogêneos para tratamentos e as incertezas dos efeitos da
imunossupressão na progressão do vírus, resultaram em uma queda significativa
nas cirurgias de transplantes. O transplante pulmonar foi o mais atingido pela
pandemia, sendo realizado apenas nos estados do Rio Grande do Sul e São Paulo.
O transplante hepático foi o menos afetado, apresentando uma diminuição de
apenas 10,8% nos três primeiros trimestres de 2020, comparado a 2019. Na
insuficiência renal crônica avançada, por exemplo, o transplante é uma
alternativa que influencia na melhora na qualidade de vida do indivíduo e até
mesmo em sua sobrevivência.
O desconhecimento sobre o processo de doação é uma das barreiras
mais comuns. Convém ressaltar que o cadastro nacional de receptores segue uma
ordem rígida, baseada na compatibilidade, não sofrendo influências externas –
políticas ou econômicas. Com um processo bem regulamentado, a doação de órgãos
e tecidos é um processo simples, que começa com o cadastro do doador.
A cédula de identidade é o principal meio de explicitar se você
é doador. Mas só isso não basta. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, a
remoção de órgãos só pode ser realizada após autorização familiar. Não há
nenhuma lei que garanta que a vontade do doador seja atendida, isto é, se uma
pessoa manifesta seu desejo de doar e, após sua morte, a família nega, seus
órgãos não serão doados. A legislação determina que a família seja a
responsável pela decisão final, não tendo valor a informação de doador ou não
doador de órgãos registrada no documento de identidade ou outros. A melhor
maneira de garantir efetivamente que a vontade do doador seja respeitada, é
fazer com que a família saiba sobre o desejo de doar, por isso a informação e o
diálogo são absolutamente essenciais.
Devido ao número de partes do corpo que podem ser cedidas, cada
doador pode salvar oito vidas ou mais. Coração e rins são alguns dos órgãos
mais frequentemente buscados. No entanto, existem demandas recorrentes de
transplantes de pâncreas, pulmão, fígado, medula óssea, ossos, córnea,
intestino, vasos sanguíneos e tendões.
Saudamos uma iniciativa aprovada recentemente pelo Ministério da
Saúde de formulário de consentimento para pacientes que recebem órgãos de
doadores COVID-19 positivos. O documento informa que, para aumentar as chances
de receber um transplante, os médicos da Equipe de Transplantes oferecem a
opção de receber um órgão de um doador que tenha contraído o vírus SARS-CoV-2,
responsável pela doença chamada COVID-19. O formulário pode ser acessado em
https://bit.ly/39Opi2c
Por fim, queremos destacar a
importância de apoiarmos a causa da doação de órgãos. Diga em casa que você é
doador. Estimule a busca pelo conhecimento sobre o assunto não deixando margem
para dúvidas e eventuais inverdades que possam ser ditas sobre o assunto.
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