Em fases anteriores da pesquisa, a
técnica diminuiu tumores de mama, pulmão, pâncreas, ovário e cólon em modelos
de laboratórios e animais; Oncologista comenta como o estudo está sendo
realizado e por quê a proposta é promissora
O centro de pesquisa clínica americano
City of Hope, em parceria com a empresa de biotecnologia Imugene Limited, na
Austrália, começou no início deste mês a fase 1 dos testes de um vírus
desenvolvido para entrar nas células cancerígenas, se replicar e matá-las. O
primeiro voluntário do estudo recebeu uma dose do CF33-hNIS VAXINIA, no qual
será analisada a segurança da terapia - considerada inovadora no combate ao câncer.
Durante as pesquisas em modelos de
laboratório e animais, foi possível notar que o vírus diminuiu tumores de mama,
pulmão, pâncreas, ovário e cólon. A estratégia busca ir ainda mais além, sendo
efetiva também para outros tipos de câncer.
O método em si é considerado bastante
promissor e visa infectar as células cancerígenas para destruí-las. O
microrganismo, que é um vírus oncolítico, é modificado geneticamente para
afetar apenas as células dos tumores, sem contaminar outras partes do corpo, por
exemplo. De acordo com o Dr. Bernardo Garicochea, oncologista do Grupo
Oncoclínicas, a estratégia, apesar de simples, traz novos paradigmas: “Ela se
utiliza de um vírus que tem afinidade com algum tipo de proteína presente na
superfície da célula cancerosa”, explica.
Como o estudo foi
realizado
Foram selecionados os voluntários que
apresentavam tumores sólidos com metástase ou avançados (que passaram por duas
linhas de tratamento anteriormente) para a fase 1 da pesquisa. Em seguida,
através de uma injeção, que pode ser aplicada de forma intravenosa ou
diretamente no tumor, uma dose baixa do CF33-hNIS é inserida no organismo do
paciente.
Futuramente, caso as respostas da
primeira fase sejam positivas, mais 100 voluntários farão parte da próxima
etapa. Os participantes receberão uma combinação do vírus oncolítico e da
imunoterapia.
As chamadas proteínas
"checkpoints" fazem parte das células saudáveis do corpo e mostram
que elas não devem ser atingidas pelo sistema de defesa do corpo. A neoplasia
em sí tem uma proposta alternativa, pois usa desse mecanismo uma espécie de
camuflagem para que as células cancerígenas não sejam reconhecidas e afetadas.
Com a combinação dos tratamentos, é possível uma estratégia para fazer com que
o sistema imunológico combata o câncer.
“Em 2010 foi descoberto que existem
certos tipos de drogas e medicamentos capazes de se ligar nessas proteínas que
desativam o sistema imunológico. Então, hoje conseguimos fazer com que o
sistema imunológico se torne ativo de novo. O problema é que usar somente esse
tipo de estratégia funciona apenas em alguns casos. Se colocarmos um vírus
oncolítico para atacar a célula do câncer e junto também dermos esse
tratamento, as células imunológicas recuperam sua capacidade de reconhecer o
tumor. A partir disso, é possível ter realmente um tratamento muito eficiente e
é o que esperamos que venha acontecer”, comenta o oncologista.
Proposta
promissora
Para o Dr. Bernardo Garicochea, isso
muda o paradigma do tratamento, uma vez que estamos acostumados com técnicas
mais convencionais, como a ressecção mecânica do tumor, cirurgias,
quimioterapias e radioterapias. “Serão usados ‘mísseis teleguiados’
direcionados para as células cancerosas, ou seja, para a proteína específica
que aquele paciente apresenta naquela célula. Ao mesmo tempo, isso vai
estimular o sistema imunológico para atacar exclusivamente aquele alvo”,
explica.
Além disso, o oncologista comenta que o
tratamento será extremamente eficaz nas células que estão em divisão, como as
células cancerígenas, que possuem uma taxa muito maior desse processo do que as
células normais. “Isso vai matar muito mais as células cancerosas do que as
normais, mas elas não estão isentas desse processo, tanto que os pacientes
também podem apresentar efeitos colaterais com esses tratamentos. No entanto,
em termos de controle da doença, há a possibilidade de erradicar o tumor
completamente. Isso pode nos levar a uma nova
escala de taxa de cura de câncer que nunca vimos antes”, finaliza.
Grupo Oncoclínicas
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