Variação de temperatura e tempo seco típicos dessa
estação
elevam casos graves dessa doença que afeta milhões de pessoas no mundo
O período que se inicia no outono e vai até o
inverno é marcado pelo aumento do número de casos de asma na população. De
acordo com o InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP),
referência internacional em saúde cardiopulmonar, a conjunção entre poluição,
ausência de chuva e tempo frio leva muitos asmáticos aos serviços de emergência
com crises preocupantes, mas que podem ser evitadas. A recomendação básica é
manter a doença tratada o ano todo, para chegar ao outono em boa condição de
saúde. Quem perdeu a chance desse cuidado contínuo nos meses anteriores, deve
agora redobrar esforços para colocar o acompanhamento médico em dia e evitar
agentes agressores da doença, incluindo os pelos dos amados pets.
A atenção com a saúde para enfrentar o tempo frio
foi o que mudou a vida de Michele Benevides, 36 anos, que, desde os 20 anos,
quando foi diagnosticada com asma, já passou por mais 30 internações por conta
de crises da doença, teve uma parada cardíaca e um choque anafilático,
necessitando, inclusive, de UTI. “A sazonalidade do outono/inverno é sempre
muito difícil para quem tem asma. É o momento onde as crises mais aparecem.
Então eu busco sempre evitar friagem e falta de proteção térmica. Tenho um
ganho muito grande sendo acompanhada por um médico e tomando a medicação
correta, tem sido essencial para que eu não evolua no meu quadro nesta época do
ano. Tudo isso também evitou que eu tivesse novas internações e até mesmo
consultas no Pronto Atendimento”.
A asma acomete indistintamente crianças, jovens e adultos, e é caracterizada pela inflamação dos brônquios, pequenas estruturas responsáveis pela troca de ar dentro dos pulmões. O processo inflamatório acarreta inchaço das vias áreas e produção de muco que, isoladamente ou combinados, podem acarretar falta de ar de grau leve a extremo. Os sintomas mais comuns são tosse, chiado e aperto no peito e dificuldades respiratórias.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, há cerca de
300 milhões de asmáticos no mundo, sendo mais de 20 milhões apenas no Brasil.
No SUS, a doença oscila entre a terceira e quarta posições no ranking das
causas de hospitalizações, sendo os meses de abril a julho os que registram
recordes de internação por asma.
“Pessoas que já têm a doença precisam estar
prevenidas para passar por esse período do ano. Caso isso não aconteça, pode
haver agravamento e descontrole da doença que dificultam a recuperação durante
e depois das crises”, afirma o pneumologista Rafael Stelmach, diretor do
Ambulatório de Asma do InCor.
São estímulos que podem causar episódios de
exacerbação da doença fatores ambientais como baixas temperaturas e umidade,
agentes alergênicos como material particulado no ar, fungos e ácaros, e
infecções típicas da estação, entre elas gripe e resfriado, explica o médico.
Sem o tratamento adequado e uma terapia medicamentosa adicional, no caso do
aumento dos sintomas, a inflamação pode progredir para a obstrução das vias
aéreas e para a necessidade de internação.
Stelmach chama a atenção para pacientes residentes
em grandes centros urbanos, que tendem a ser mais atingidos, em função da
poluição. As regiões Sudeste e Sul do país são as mais afetadas, diz ele, com
destaque especial para essa última, devido às temperaturas extremamente baixas
nos períodos mais frios do ano.
Segundo o pneumologista do InCor, tão importante
quanto o acompanhamento médico constante são as recomendações para que a pessoa
com asma evite agentes que provocam o agravamento da doença. Entre eles, está o
vício de fumar ativa ou passivamente, inclusive cigarro eletrônico e maconha.
Deve-se evitar também o contato com objetos e ambientes que possuam agentes
alérgicos como fungos e ácaro.
“É tempo de higienizar as roupas de uso pessoal e
de cama guardadas há muito tempo no armário, incluindo cobertores, edredons e
travesseiros. Depois de lavadas e passadas a ferro, enquanto não forem
novamente usadas, essas roupas devem ser guardadas, de preferência, em sacos
plásticos, para protegê-las do contato com esses agentes alergênicos”, orienta
o médico do InCor.
“Casa em que convivem pessoas com asma tem que ter
travesseiros, colchões, tapetes e cortinas constantemente higienizados, e os
ambientes arejados”, também recomenda o pneumologista.
A recomendação do médico do InCor é seguida a risca
por Michelle: “mesmo no frio preciso sempre manter minha casa arejada pra
evitar poeira e mofo, além de fazer a manutenção de roupas, cobertores,
travesseiros e colchão para evitar os gatilhos. Essa é uma estratégia de fato
muito importante”.
Especial atenção deve ser dada aos pets que existem
na casa. O quarto de dormir, incluindo roupa de cama, travesseiros, estofados e
tapetes, deve ser um verdadeiro santuário à prova de pelos dos animais. “Eles
são altamente alergênicos para quem tem asma”, alerta Dr. Rafael Stelmach.
O médico também chama a atenção para a importância
de as pessoas com a doença tomarem a vacina contra a Influenza todos os anos.
“Ela é uma importante arma no controle e na prevenção de quadros graves da
doença, uma vez que gripe e resfriado são gatilhos para as crises asmáticas”.
InCor
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