Entendimento na comunicação é a chave de sucesso para o bom relacionamento entre bichos e seus tutores
Os cães ocupam um lugar muito especial na vida dos
seres humanos, são considerados membros da família, convivendo de forma muito
próxima. Para que essa convivência e relação seja com o máximo de harmonia
possível, a comunicação é considerada uma das principais chaves do sucesso. Os
cães estão sempre atentos aos gestos, movimentos corporais e direção do olhar
de seus tutores que, por sua vez, também são capazes de interpretar as
expressões corporais e sinais comunicativos dos cães como olhares e
vocalizações. O Laboratório de Etologia Canina da Universidade Federal de São
Paulo (LECA/Unifesp) desenvolve vários estudos sobre essa temática e, no mais
recente, publicado na revista Applied Animal Behaviour
Science e que contou com a parceria de pesquisadores franceses, a equipe
identificou diferentes tipos de vocalizações para diferentes finalidades.
“Embora o repertório de vocalizações dos cães seja
extenso, com latidos, gemidos, choramingos, ganidos, rosnados, entre outros,
diversos estudos já verificaram que os seres humanos são capazes, por exemplo,
de classificar latidos de brincadeira, agressividade, medo, somente escutando ‘playbacks’,
sem ter a informação prévia sobre qual o contexto em que os latidos
aconteceram. Para ter essa habilidade de discriminar tão bem essas
vocalizações, os seres humanos usam características acústicas como tonalidade e
intensidade do som”, explica Carine Savalli Redigolo da Universidade Federal de
São Paulo, professora da Unifesp, coordenadora do LECA.
Como exemplo, latidos graves com intervalos curtos
entre eles são usualmente classificados pelas pessoas como agressivos, enquanto
latidos agudos com intervalos mais longos são classificados como de
brincadeira. Já os choramingos normalmente são reconhecidos em contextos que
envolvem saudações, frustração e busca por atenção.
No recente estudo com a co-autoria de Carine, 51
cães foram observados e filmados por 30 segundos diante de uma situação em que
havia uma comida desejável em cima de uma prateleira, visível, mas fora do
alcance. Para ter acesso a essa comida, os cães precisavam da cooperação dos
seus tutores, e dessa forma o contexto procurou estimular os cães a usarem
sinais comunicativos.
“Diante da cena, os cães se comunicaram
principalmente por meio de olhares, alternando olhares entre seus tutores e a
comida desejada. Mas, alguns deles também usaram vocalizações associadas a
estes olhares e nós pesquisadores buscamos investigar se havia diferença entre
as propriedades acústicas das vocalizações direcionadas aos tutores e à
comida”, descreve Carine.
Foram identificados dois principais tipos de
vocalizações: latidos e choramingos e, de acordo com Carine, “os choramingos
aconteciam mais quando os cães estavam olhando para os tutores do que quando
estavam olhando para a comida, o que sugere que neste contexto em que os cães
precisavam da cooperação de seus tutores, as vocalizações do tipo choramingo
foram usadas como uma forma do cão chamar para si a atenção do seu tutor, para
então mostrar a comida desejada, numa tentativa de passar de forma mais clara
possível a mensagem. Uma grande demonstração de comunicação entre as espécies”.
A coordenadora do LECA/Unifesp destaca: “a
comunicação tão complexa e elaborada estabelecida entre cães e seres humanos é
um fenômeno único no reino animal. Envolve duas espécies com mecanismos
sensoriais diferentes, mas que desenvolveram habilidades para se compreenderem
mutualmente. Tais habilidades promovem a aproximação e fazem dessa relação uma
das mais importantes tanto para os cães quanto para os seus tutores”.
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