Mesmo sem aval da Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa), os cigarros eletrônicos vêm ganhando adeptos no país, em
grande parte pela concepção de que o produto não é prejudicial à saúde. Mas,
apesar das características físicas e sensoriais diferentes das do cigarro
convencional, o produto traz sim riscos e pode até resultar no desenvolvimento
de uma doença específica, a EVALI – lesão pulmonar associada ao uso
de cigarro eletrônico ou vaping.
Segundo a pneumologista do Centro de Medicina
Torácica do Hospital Edmundo Vasconcelos, Marina Dornfeld Cunha Castro, a
doença é caracterizada por uma lesão pulmonar que causa manifestações clínicas
muitas vezes inespecíficas, porém potencialmente graves. “Os sintomas são
diversos e vão desde manifestações gerais como febre, calafrio, fadiga e perda
de peso até problemas gastrointestinais como dor abdominal, náuseas, vômitos e
diarreia. E, pela inflamação pulmonar, o quadro pode vir acompanhado de falta
de ar, dor torácica e tosse - por vezes com sangue”, comenta.
A médica conta que a evolução dos pacientes a
partir do diagnóstico e do início do tratamento tende a ser satisfatória, porém
não se deve descartar a possibilidade de agravo, com evolução para
insuficiência respiratória e necessidade de tratamento em terapia intensiva, ou
mesmo levar à morte. “A definição de caso de EVALI considera o uso do cigarro
eletrônico nos 90 dias que antecedem o início do quadro clínico, de acordo com
o que é preconizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA”, diz.
Para quem, ainda assim, avalia a hipótese do uso
dos cigarros eletrônicos, a médica destaca que é importante considerar outros
potenciais danos à saúde, além da EVALI. Isso se deve à composição do
produto, que contém diversas substâncias nocivas e tóxicas para as células e
genes, com efeitos irritantes e carcinogênicos. “A inalação destas substâncias
leva a condições respiratórias agudas e potencialmente crônicas, como o
enfisema, além de aumentar os riscos de doenças cardiovasculares e câncer”,
alerta a médica.
Dra. Marina reforça ainda os riscos do uso dos
cigarros eletrônicos entre os jovens: “Os milhares de aromatizantes e
saborizantes que podem ser adicionados ao líquido aumentam a taxa de
experimentação e perpetuam o uso. Aliados às elevadas concentrações de
nicotina, alguns dispositivos causam altíssimo potencial de instalação
ultrarrápida de dependência”, conta. Tudo isso contribui para a manutenção do
uso e leva à uma porta de entrada para o fumo de cigarros convencionais e ao
uso duplo”.
Outras complicações são enfatizadas pela médica,
que traz o alerta principalmente aos mais jovens. “Para este público, o consumo
contínuo implica alterações no desenvolvimento cerebral, com danos a longo
prazo na memória, capacidade de atenção e de execução de atividades. Pode
ocorrer também intoxicação nicotínica por vaporização excessiva ou ingestão
acidental ou intencional do líquido dos cigarros eletrônicos. Sem esquecer o
risco de lesões potencialmente graves como queimaduras pela explosão da bateria
do produto”, finaliza.
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