Pesquisador da Fundação MT esclarece como o produtor pode melhorar a performance da adubação nas regiões com esse perfil de áreas
Muitos desafios moldam o cultivo em qualquer lugar
do planeta hoje. No Brasil, isso é ainda mais acentuado pelo status que o País
alcançou nos últimos anos como um dos principais fornecedores de alimentos do
mundo. Para isso, eficiência é uma palavra primordial em várias etapas da
agricultura. Como é o caso da utilização dos nutrientes em solos argilosos, que
demandam atenção e cuidado para alcançar os melhores resultados.
O pesquisador da Fundação de Apoio à Pesquisa
Agropecuária de Mato Grosso, Fundação MT, engenheiro agrônomo e mestre em
Ciência do Solo, Felipe Bertol, relata que, atualmente, solos argilosos são as
principais áreas que podem ter redução de adubação de forma segura. Essa que é
uma das práticas adotadas frente à instabilidade e aumento de preços dos
produtos. “Será possível nestas áreas cultivadas há um bom tempo, com
sucessivas adubações, com acidez corrigida, bons históricos produtivos e níveis
dos principais nutrientes (principalmente fósforo e potássio) retirar montantes
de fertilizantes para realocação em áreas mais críticas e frágeis, onde é
visível a dependência da adubação mineral”, aponta.
O que são solos argilosos
Para entender, é preciso saber primeiro o que são
esses solos. Segundo o triângulo textural mencionado pela Embrapa, é um esquema
utilizado para classificação da textura do solo; argilosos são aqueles que
possuem em sua análise teor de argila entre 36 e 60%. De modo geral, sem
influência da agricultura, são aqueles com alta capacidade de retenção de água
e nutrientes, bons teores de matéria orgânica e resistência à mudança de pH.
“Quando derivado de argilominerais não expansivos, os solos argilosos são
fisicamente muito bons para a agricultura, visto que possuem bom suporte ao
tráfego de máquinas e estão localizados em áreas planas a onduladas. Contudo,
quando realizada a abertura de áreas há a necessidade de uma correção química,
em razão da elevada acidez e a baixa disponibilidade de nutrientes,
principalmente o fósforo”, explica o pesquisador.
Por outro lado, após um investimento inicial e
sucessivos anos de cultivo e aporte de nutrientes, estes solos são mais
resilientes do que os arenosos, suportando por mais tempo estratégias de
redução de adubação.
Como ser mais eficiente
Os principais critérios para a recomendação de uma
adubação consideram a dinâmica do nutriente no solo, quantidade disponível dele
e a expectativa de produtividade. Como ferramentas adicionais de ajuste de
doses, Bertol aponta: a experiência do agricultor, conhecimento e
caracterização das áreas, dinâmica das diferentes culturas do sistema
produtivo, além dos históricos de adubações e produtividades.
“Os solos argilosos são caracterizados por
possuírem maior quantidade de sítios de trocas de cargas, consequentemente, têm
maior retenção de nutrientes. Isto impacta diretamente na disponibilidade de
nutrientes imóveis, como é o caso do fósforo e do potássio”, explica o
pesquisador. A definição de disponibilidade e consequentemente probabilidade de
resposta do fósforo está condicionada à textura do solo, ou seja, um mesmo
valor na análise pode significar níveis de disponibilidade diferentes de acordo
com a textura.
“Por exemplo, o valor de fósforo de 7 mg/dm³ em uma
análise é classificado como BAIXO em solos com menos de 35% de argila (arenoso
a misto), MÉDIO naqueles com 36 a 60% de argila (argiloso) e MUITO ALTO nos
solos com mais de 60% de argila (muito argiloso)”, detalha Bertol. Assim, em
solos argilosos (36-60% de argila), a probabilidade de resposta à adubação
nesta situação é menor do que nos de textura média-arenosa (menor 35%).
Já para o potássio, o principal critério é a
capacidade de troca de cátions (CTC); o nitrogênio em alguns manuais, a matéria
orgânica do solo; e o enxofre e micronutrientes, as quantidades interpretadas
na análise. “Um ponto de partida para conhecimento das interpretações e
critérios para definição de dose dos nutrientes, podem ser acessados nos
manuais, mas é importante frisar que são ferramentas que auxiliam na tomada de
decisão e devem ser adaptadas conforme as situações”, frisa o especialista da
Fundação MT.
Repor para ganhar
Se bem e corretamente feita a reposição dos
nutrientes exportados pela produtividade de grãos nos solos argilosos, desde
que não haja um fator limitante, o único ganho mensurável ao agricultor será o
financeiro. “A estratégia parte do princípio que mantemos os níveis dos
nutrientes em patamares em que a resposta da adubação não é significativa.
Desta forma, adubar mais não fará diferença, aumentando o custo e estocando
este nutriente no solo”, relata Bertol.
A estocagem de nutrientes como fósforo e potássio no solo não necessariamente é ruim, visto que eles podem ser utilizados em momentos de crise, como o atual. Mas, o pesquisador diz que é importante ponderar que não haja perdas por escoamento superficial e demais processos erosivos. “Ou seja, no fim das contas, fazer a adubação de reposição é somente manter o que já foi construído”, salienta.
Pesquisas em andamento
Os protocolos da Fundação MT têm objetivos diversos
no âmbito de Solos e Sistema de Produção, sendo os principais focos os sistemas
de produção e rotação de culturas, manejo da adubação, tecnologias de
fertilizantes e manejo de corretivos de acidez do solo. O mais antigo é o de
Rotação de Culturas na Soja, ou mais conhecido como RCS, e tem 14 anos de
condução no Centro de Aprendizagem e Difusão (CAD) – Sul, em Itiquira-MT.
“Temos também áreas com 11 anos de esgotamento (sem aplicação de qualquer
fertilizante) e os históricos muito bem documentados. Também, há respostas em
doses e modos de aplicação de fósforo em protocolo de 12 anos. Estes estão
inseridos no cenário do sul do estado de MT que é predominantemente sistema
soja/milho”, detalha Bertol.
Já no CAD-Médio Norte, em Nova Mutum, a instituição
desenvolve o protocolo Manejo da Adubação do Sistema Soja/Milho Safrinha, em
que são testadas doses de fósforo e potássio aplicados na soja e três níveis de
adubação no milho. Sua instalação aconteceu na safra 2013/2014. E contemplando
o sistema produtivo soja/algodão, no CAD-Oeste, em Sapezal, estão instalados
experimentos com doses e épocas de aplicação de potássio em um período de seis
anos.
Tema do Encontro Técnico Soja
Este assunto será um dos temas em destaque durante
o XXII Encontro Técnico Soja da Fundação MT, este mês, de 26 a 29, no Hotel
Gran Odara, em Cuiabá. Na ocasião, os pesquisadores abordarão alguns critérios
para utilização eficiente dos nutrientes em solos argilosos. “Esse assunto
tentará contemplar o comportamento destes solos a longo prazo na ausência total
de adubação, assim como os principais pilares para uma redução segura da
adubação: histórico de produtividades e de adubações, e análise de solo”,
finaliza Bertol.
Fundação MT
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