Se você é daqueles que acompanha as notícias, mesmo que por cima, deve ter ouvido falar da crise da cadeia de suprimentos que assola o mundo desde o evento da pandemia. Começou com a falta de contêineres, os fretes dispararam e insumos, tais como os famosos chips, minguaram, prejudicando a produção de vários produtos, como carros por exemplo.
Os
problemas, mais que afetarem um setor, afetam todos os negócios e mesmo os
consumidores. Além da escassez, o cenário deflagrou uma inflação de alcance
mundial mesmo em países com histórico de estabilidade e moedas fortes. De fato,
quando o custo de transporte sobe até 20 vezes, não há como não impactar nos
preços de venda, além disso você escolhe o que vai transportar de forma a
rentabilizar a oportunidade e muitos produtos ficam de fora desta escolha em
detrimento aos que fornecem melhor margem ou tem mais demanda.
Tampouco
importa o seu porte, de grandes a pequenos, todos sofreram o impacto. Grandes
fabricas fecharam as portas por falta de insumos, as lojas viram suas
prateleiras vazias e o consumidor não acha mais o produto que deseja, ou se
encontra, os preços estão muito diferentes! Mesmo os próprios países repensam
sua dependência de fornecedores estrangeiros e existe uma tendência para
contrair a globalização e produzir dentro ou próximo, o Reshoring.
Estados Unidos e Europa lançaram pacotes Bilionários de reforço à sua
infraestrutura e até uma fábrica de chips estimada em Cinquenta Bilhões de
dólares. Passamos do Just in Time ao Just in Case.
O
varejo não ia ficar imune. Nos Estados Unidos, por exemplo, depois de anos do
Efeito Walmart, em que a inflação do país foi afetada para baixo em função dos
produtos baratos importados pela Walmart de seus fornecedores na China (e que
mataram milhares de indústrias americanas), agora sofrem os efeitos ao
contrário, um disparo inflacionário, além da falta de produtos.
Na
última NRF – National Retail Federation, em janeiro, havia uma sala
dedicada aos assuntos de logística pelo impacto sofrido pelos varejistas
americanos. Pude participar de algumas das mais importantes discussões e
infelizmente o prognostico não era bom, e ficou pior depois da guerra da
Ucrânia. Já em janeiro, os EUA sofriam os reflexos dos fretes e infraestrutura
deficiente, se lá estava assim, imagina aqui... Navios a espera de vagas, falta
de transporte, quando os contêineres eram desembarcados e para o consumidor,
preços bem mais altos e falta de produtos se tornaram realidade habitual. A
logística entrou em parafuso. A complexidade aumentou tanto que já se criou a
figura do Chief Supply Officer, um executivo C-level para garantir o
suprimento das empresas, sejam indústrias ou varejistas.
E
na prática, o que pode ser feito para minimizar os danos em sua empresa?
Segundo
os especialistas na NRF, em primeiro lugar uma mudança de mindset, adotando
gerenciamento de riscos. Como assim? Em forma simples, entenda que os prazos se
alongaram, assim um pedido que você, ou seu fornecedor, faz hoje, está levando
6 meses para chegar no seu CD. Isso implica que você está projetando o cenário
futuro, adivinhando (ou usando ferramentas) a demanda de cada produto para
daqui 6 meses ou mais.
Dificilmente
você acertará, então, deve escolher em que produtos vai apostar, e se vai
preferir que falte ou correr o risco de que sobre, e suas consequências sobre
seu fluxo de caixa. Isso implica também adotar o viés financeiro da operação
que muitos operadores ainda não têm, e conhecimento de seu público.
Uma
alternativa proposta também, é, caso você seja um importador regular, de
estender prazos com seu armador e assim negociar valores menores agora,
garantindo um relacionamento mais longo com ele (já que em algum momento o
mercado vira a favor do embarcador...)
A
busca por fornecedores mais próximos, redesenhando as cadeias de fornecimento
do mundo todo e criando menor dependência de fornecedores da Asia é também uma
medida que já está sendo adotada rapidamente. Lembrando que a oferta será menor
que a procura, de maneira que os primeiros “beberão água limpa..”
A
grande lição é que algo que parecia normal e garantido, agora requer reflexão e
estratégia, pois pode impactar significativamente os resultados de sua empresa,
com paralisação de produção ou quebra nas vendas, e exige executivos de
primeiro escalão e visão estratégica para definir os caminhos da organização, o
que parece caro pode ser barato no fim das contas. Bem-vindo a nova era do Supply
Pain, mais que passageira, uma nova forma de encarar os negócios.
Marcos Andrade – é presidente da ABIESV (Associação
Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo),
Diretor Titular Adjunto – DEREX Departamento de
Relações Internacionais e Comércio Exterior da FIESP, 1º diretor secretario da CIESP e Diretor da Expor
Manequins.
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