Pesquisadores da Fundação MT e da consultoria Agronema destacam que o Aphelenchoides besseyi se comporta como fungívoro, causando a Síndrome da haste verde na soja e com grandes danos também no algodão, arroz e feijão
Não bastassem os nematoides que atacam as raízes
das plantas, o produtor ainda precisa se atentar ao da espécie Aphelenchoides
besseyi, que pode se comportar como fungívoro, alimentando-se de fungos
presentes no solo ou em restos culturais, além de conseguir parasitar a parte
aérea das plantas. Este também é o vilão causador da Síndrome da haste verde e
retenção foliar (“Soja Louca II”), e ainda parasita plantas daninhas, além do
feijão comum, algodão e feijão caupi.
De acordo a pesquisadora e nematologista Rosangela
Silva, da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso, Fundação
MT, apesar de ocorrer em áreas significativas na soja, este nematoide tem
causado também grandes prejuízos no algodão, visto que as plantas afetadas não
conseguem desenvolver frutos, zerando a produção. Dessa forma, a sucessão
dessas culturas representa um risco a ambas, em especial em áreas sob pivô.
A ocorrência da Soja Louca II depende de condições
ambientais favoráveis (temperaturas acima de 28ºC e umidade alta), além da
presença do patógeno na área. Segundo o pesquisador Santino Aleandro da
Agronema, consultoria nematológica, ainda não se tem antes da safra uma
previsão dos danos, sendo sempre contabilizados ao final, considerando sua
ocorrência, intensidade dos sintomas e porcentagem da área afetada.
“Entretanto, nas plantas afetadas, a perda de produtividade pode chegar a
100%”, diz.
Como age
Após a germinação das plântulas de soja, essa
espécie de nematoide já pode parasitar suas raízes, movimentando-se
internamente, migrando para os tecidos da parte aérea, onde se alimenta
preferencialmente nas regiões de crescimento, como folhas jovens e botões
florais. “Causa necrose, levando ao abortamento de flores, reduzindo o
desenvolvimento da planta, causando ainda o engrossamento de nós e a planta
afetada não fecha o ciclo vegetativo”, detalha Rosangela.
Os sintomas são mais visíveis a partir da fase R1,
entretanto, em ambiente controlado, já foi possível observar que cerca de 10 a
15 dias após a infecção, já em V1 e V2, em condições ideais para o patógeno,
pode-se encontrar os sintomas iniciais característicos.
Haste Verde
De acordo com informações divulgadas em estudos
recentes, a ocorrência da Síndrome da haste verde da soja se dá em toda a
região produtora de soja do Pará, Tocantins e Maranhão, ocorrendo também no
norte de Mato Grosso e Vale do Araguaia. “Na safra 2019/20 os prejuízos foram
maiores na cultura do algodão. Em Rondônia, há relatos de talhões que ficaram
com a colheita prejudicada na última safra, devido ao problema”, conta
Rosangela.
Posso evitar?
Em áreas com histórico da presença do patógeno ou
com ocorrência da doença, deve-se tomar cuidado com o uso de forrageiras, como
braquiárias. Nesse caso, a recomendação dos pesquisadores é para que se use
sementes com atestado de sanidade, e tratadas. “Nunca usar sementes sem
procedência e com restos de torrões e sujeiras, mesmo que não haja dados que
indiquem a braquiária como multiplicadora de A. besseyi”, lembra Aleandro.
Além disso, se houver histórico da Síndrome da
haste verde na área, deve-se evitar, sempre que possível, a sucessão soja –
algodão, tendo em vista os riscos para a cultura subsequente. Há ainda a
recomendação de dessecação antecipada da área para o plantio da soja e o manejo
adequado de plantas daninhas no pós-emergência, com o objetivo de reduzir as
opções de plantas hospedeiras para o patógeno.
“Destacamos que ainda não há produtos registrados
para o controle de A. besseyi, portanto, não temos uma
recomendação de manejo químico ou biológico para esse fitonematoide. Por outro
lado, já têm empresas com trabalhos de pesquisa visando a utilização de
produtos com essa finalidade”, salienta a pesquisadora da Fundação MT.
Pesquisas em andamento
A maioria dos estudos desenvolvidos pela Fundação
MT sobre este nematoide ainda estão em andamento e, de acordo com Rosangela,
são poucos os resultados conclusivos sobre as melhores opções de manejo. “Até o
momento, a maioria dos trabalhos de campo trouxeram mais dúvidas que soluções,
o que sabemos é que estamos trabalhando junto com os produtores para tentar
encontrar um caminho”, completa.
Então, o que fazer?
Além do que já foi citado pelos pesquisadores, a
orientação é que em áreas infestadas os talhões afetados devem ser colhidos por
último e, no caso da semeadura seguinte, semear após os demais; isso reduzirá a
disseminação na área.
Além disso, várias iniciativas têm sido adotadas
nas regiões afetadas, como forma de tentar minimizar os efeitos da doença, e
algumas apresentaram resultados promissores, mas há a necessidade da
repetibilidade dessas práticas para que se comprove que não houve somente
influência da condição ambiental no resultado.
“Há um grupo de pesquisa formado por várias instituições, na região de ocorrência da doença e no Paraná (em condições de casa de vegetação), que busca entender os detalhes envolvidos no desenvolvimento da doença, opções de manejo com produtos e culturas que possam ser usadas alternativamente, bem como elucidar quais e como plantas de cobertura podem afetar esse manejo, seja melhorando ou piorando a situação”, explica o profissional da Agronema. Portanto, até o momento não há uma recomendação validada em todos os níveis técnicos para o manejo da Síndrome da haste verde na soja, mas prevalece o uso das boas práticas agronômicas, “que é hoje a única recomendação correta que podemos fazer”, conclui o pesquisador.
Fundação MT - Criada em 1993, a instituição tem um importante papel no
desenvolvimento da agricultura, servindo de suporte ao meio agrícola na missão
de dar vida aos resultados através do desenvolvimento de tecnologias aplicadas
à agricultura. A sede está situada em Rondonópolis-MT, contando com três
laboratórios e casas de vegetação, um centro de pesquisa local e outros seis
Centros de Pesquisa Avançada (CAD) distribuídos pelo Estado, nos municípios de
Sorriso, Nova Mutum, Itiquira, Primavera do Leste e Serra da Petrovina. Saiba
mais em www.fundacaomt.com.br.
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