O ex-jogador
descobriu a doença há alguns meses e já passou por uma cirurgia para a retirada
do tumor. Especialista comenta quais são os principais sinais e importância do
diagnóstico precoce
Nesta quarta-feira, 8 de dezembro,
Edson Arantes Nascimento, o Pelé, foi internado para continuar o tratamento do
câncer de cólon (parte final do intestino), descoberto há cerca de quatro meses
durante uma bateria de exames de rotina. Em setembro deste ano, quando
descobriu a doença, o ex-jogador chegou a passar por uma cirurgia para retirada
do tumor.
Em todo o mundo, o câncer de intestino
- que abrange os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso chamada
cólon e no reto (final do intestino) e ânus - é o terceiro tipo mais comum,
sendo responsável por cerca de 10% de todos os diagnósticos de câncer.
O tumor colorretal se desenvolve no
intestino grosso: no cólon ou em sua porção final, o reto. O principal tipo de
tumor colorretal é o adenocarcinoma e, em 90% dos casos, o tumor se origina a
partir de pólipos na região que, se não identificados e tratados, podem sofrer
alterações ao longo dos anos, podendo se tornar cancerígenos. A principal forma
de diagnóstico e prevenção é através do exame de colonoscopia, em que um
tubinho flexível com uma câmera na ponta é introduzido no intestino e faz
imagens que revelam se há presença de possíveis alterações, permitindo,
inclusive, remoção de pólipos e biópsias de lesões suspeitas.
No Brasil, o Ministério da Saúde
recomenda iniciar o rastreio do câncer de cólon e reto da população adulta de
risco habitual na faixa etária de 50 anos - mas muitos países já reduziram para
45 anos de idade.
"Grande parte dos tumores de
intestino aparece a partir dos chamados pólipos, que são lesões benignas que
crescem na parede interna do órgão, mas que se não identificadas
preventivamente podem evoluir e se tornarem malignas com o passar do tempo.
Após os 50 anos de idade, a chance de apresentar pólipos aumenta, ficando entre
18% e 36%, o que consequentemente representa um aumento no risco de tumores
malignos decorrentes da condição a partir dessa fase da vida e por isso ela foi
estabelecida como critério para início do rastreio ativo. Além de detectar
esses pólipos, a colonoscopia permite que eles sejam retirados, o que funciona
como mais uma forma de prevenir o câncer", explica a oncologista Renata
D’Alpino, do Grupo Oncoclínicas.
Ela lembra que pessoas com histórico
pessoal de pólipos ou de doença inflamatória intestinal, como retocolite
ulcerativa e doença de Crohn, bem como registros familiares de câncer
colorretal em um ou mais parentes de primeiro grau, principalmente se
diagnosticado antes de 45 anos, devem ter atenção redobrada e realizar
controles periódicos antes da idade base indicada para a população em geral.
De olho nos sinais
Segundo dados do INCA (Instituto
Nacional de Câncer), o câncer colorretal é o terceiro mais frequente entre os
homens, logo após do câncer de próstata e de pulmão, e o segundo mais incidente
nas mulheres, perdendo apenas para o câncer de mama. Estimam-se que neste ano
tenhamos 40.990 casos novos de câncer de cólon e reto, afetando em proporção
quase igual ambos os gêneros. Já o número de mortes chega a 18.867, sendo 9.207
homens e 9.660 mulheres, de acordo com os dados mais recentes disponíveis.
Ainda assim, a médica afirma que há
muitos tabus que cercam o rastreio preventivo do câncer colorretal, o que
contribui para a baixa adesão ao controle precoce da doença mesmo entre pessoas
que fazem parte do grupo com risco aumentado. "Muitas vezes, o tumor só é
descoberto tardiamente, diante de sintomas mais severos, como anemia;
constipação ou diarreia sem causas aparentes; fraqueza; gases e cólicas
abdominais; e emagrecimento. Apesar do sangue nas fezes ser um indício inicial
de que algo não vai bem na saúde, muitas pessoas costumam creditar essa
ocorrência a outras causas convencionais, como hemorróidas, e acabam
postergando a busca por aconselhamento médico e a realização de exames
específicos. Isso faz com que muitas pessoas só descubram o câncer em estágios
avançados", diz.
Como o câncer colorretal pode ser
descoberto?
É muito importante traçar o histórico
médico do paciente, justamente para a identificação de possíveis fatores de
risco. O exame físico, como palpação do abdômen, pode ajudar na busca de
possíveis anormalidades como órgãos aumentados ou massas.
Além disso, o médico pode realizar o
exame digital retal, onde é inserido um dedo (protegido por luva lubrificada)
no reto para avaliação. Outros exames que podem ser solicitados são:
• Exame de fezes;
• Exames de sangue;
• Colonoscopia;
• Biópsia; e
• Exames de imagem (raio X,
ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia computadorizada e PET Scan).
Incidência cresce entre jovens adultos
Para Renata, outro ponto de grande
relevância no combate ao câncer colorretal é o estabelecimento de uma
recomendação mais clara para triagem de casos assintomáticos, quando não há
sinais de sintomas clássicos que podem levantar suspeitas - caso de
sangramentos corriqueiros visíveis nas fezes - entre a porção da população com
menos de 50 anos. Entre as ações possíveis, ela destaca uma iniciativa liderada
pela US Preventive Services Task Force que considera que testes menos invasivos
poderiam ser iniciados precocemente e repetidos com intervalos menores em
comparação à colonoscopia. Além disso, prevê mudar a idade de rastreamento para
os 45 anos, devendo ser repetido a cada 5 anos em caso de resultados normais,
como já vem sendo sugerido desde 2019 pela American Cancer Society (ACS).
"Nos EUA o debate sobre uma
possível mudança de protocolo, passando a adotar a idade de 45 anos como
remendada para o início do rastreio periódico, está sendo baseada na avaliação
de centenas de levantamentos e ensaios clínicos que levam em conta o perfil de
pessoas assintomáticas na faixa etária acima dos 40 anos. Uma forma possível de
ampliar as chances de prevenção seria a indicação de pesquisa das fezes, por
meio de testes imunoquímicos e testes de sangue oculto fecais em pessoas mais
jovens e que não apresentam mudanças de saúde perceptíveis. De acordo com os
resultados, havendo achados suspeitos, a colonoscopia seria então
realizada", ressalta a especialista da Oncoclínicas.
Um dos estudos científicos que embasam
a argumentação foi publicado no Journal of the National Cancer Institute e
realizado nos Estados Unidos de 1974 até 2014. A análise mostrou que nas
pessoas entre 20 a 39 anos de idade, por exemplo, o número de casos novos de
câncer de intestino vem crescendo anualmente, entre 1% e 2,4%, desde a década
de 1980. Já os casos de câncer de reto, nas pessoas entre 20 e 29 anos de
idade, tiveram um aumento anual médio de aproximadamente 3,2%, desde 1974.
"Em grande parte, esses resultados
apontam para uma consequência de hábitos de vida menos saudáveis, com maior
taxa de sedentarismo e consumo de alimentos ultraprocessados como
refrigerantes, salgadinhos e enlatados. A predisposição genética conta como
risco, mas não podemos esquecer que há outros fatores que podem contribuir para
o surgimento da doença, tais como obesidade, sedentarismo, dieta rica em carnes
vermelhas, tabagismo e alcoolismo. E esses são fatores que fazem parte da ‘vida
moderna’ e ajudam a desvendar as razões pelas quais devemos reforçar a
conscientização sobre os impactos das nossas decisões pessoais no crescimento
de casos de câncer - e não apenas do colorretal", finaliza Renata
D’Alpino.
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