Mesmo
cercado de mitos, o procedimento tem se popularizado, especialmente entre
pessoas mais jovens. Segundo oftalmologista, o avanço da tecnologia garantiu
maior agilidade, segurança e resultado imediato após a cirurgia
De acordo com a
Organização Mundial da Saúde (OMS), a catarata é a principal causa de cegueira
reversível no mundo. No Brasil, a doença é responsável por 49% dos casos de perda de visão , segundo levantamento do Conselho Brasileiro de
Oftalmologia (CBO). Relacionada principalmente ao envelhecimento natural dos
olhos, a catarata possui como única forma de tratamento a cirurgia, a qual tem
atraído, para além de idosos, pessoas cada vez mais jovens, devido a
modernização do procedimento ao longo dos anos.
A doença afeta o
cristalino, que normalmente perde a capacidade de focalizar objetos e leitura
próximos por volta dos 49 anos. Alguns pacientes apresentam esta dificuldade, à
qual damos o nome de presbiopia, um pouco mais tarde, próximo dos 50 anos. A
presbiopia é o primeiro sinal de que o cristalino está perdendo suas funções.
Na evolução deste processo, acontece a perda da transparência e a formação da
catarata.
Uma nova visão
Segundo o
oftalmologista Dr. Marcello Fonseca, à frente do Instituto da Visão de Curitiba
(iVisão), a falta de compreensão de grande parte da população integra uma
extensa lista de mitos e tabus relacionados à catarata e ao seu tratamento
cirúrgico, que foi paulatinamente modificado ao longo dos anos pelos avanços da
tecnologia e da medicina:
"Antigamente,
quando o paciente ainda tinha uma visão funcional razoável, mesmo com certa
perda de qualidade, a cirurgia não era realizada. Isso acontecia porque as
técnicas utilizadas exigiam um corte muito extenso, o que ampliava as chances
de infecção e tornava a recuperação mais delicada. Quando levamos em
consideração que os olhos possuem cerca de 12 mm, e o cristalino, 10 mm, a
incisão exigida pela cirurgia era próxima ao diâmetro total dos olhos, em torno
de 8 a 9 mm", explica o médico e fundador do iVisão.
Neste contexto, a
mudança do ambiente da operação também foi decisiva para que o procedimento
fosse visto com outros olhos. Com a transferência da oftalmologia para clínicas
especializadas, a cirurgia de catarata, que até então era realizada em
hospitais gerais, passou para um local menos suscetível a infecções,
contribuindo para torná-la uma das mais seguras da atualidade.
Simultaneamente, a
chamada facoemulsificação surge como uma das técnicas mais utilizadas para a
solução do problema até os dias de hoje; nela, a partir de uma incisão mínima,
de cerca de 1.8mm, é introduzida uma sonda vibratória que, com uma mecânica
similar a de uma britadeira utilizada em construções, fragmenta o cristalino -
quando este já se encontra mais rígido, em um estágio avançado de catarata -,
em pequenos pedaços, os quais são aspirados mais facilmente. Posteriormente,
ele é substituído por uma lente intraocular transparente dobrável, sem a
necessidade de pontos, o que permite a recuperação imediata da visão.
O Dr. Marcello
ressalta, contudo, que a correção de catarata e a eliminação do uso de óculos
podem acontecer simultaneamente, mas tratam-se de procedimentos distintos.
"A cirurgia de catarata consiste na remoção do cristalino, o que por si só
já é suficiente para eliminar a opacidade da visão ocasionada pela doença. Já a
eliminação do grau, com a substituição por uma lente que busca corrigir outros
problemas oculares, é uma alternativa que varia de acordo com a expectativa de
cada paciente em relação ao procedimento e o desejo ou não de eliminar o uso
dos óculos.", esclarece.
Quanto antes, melhor
O envelhecimento
natural dos olhos ainda é o principal responsável pela catarata, mas existem
outras causas para o seu surgimento, como no caso da catarata congênita, na
qual uma criança já nasce com a condição; e a relacionada a outras doenças
pré-existentes, como a diabetes, por exemplo. Além disso, possíveis traumas
oculares e o uso contínuo de determinados medicamentos, como corticoides,
também podem ocasionar o aparecimento precoce da doença.
A percepção nebulosa e
até mesmo assustadora que muitos ainda têm do procedimento está em vistas de
ser substituída pela nitidez da precisão e da segurança de como ele é realizado
atualmente. "Da anestesia geral, o procedimento passou a ser local, com a
utilização de colírios anestésicos. O paciente permanece consciente e não sente
nenhum desconforto durante o ato cirúrgico, que dura apenas alguns minutos. Com
isso, eliminamos, inclusive, o uso do tampão no pós operatório. O paciente já
sai da clínica enxergando.", conclui o oftalmologista.
Não por acaso, a busca
pelo procedimento tem aumentado cada vez mais: no próprio Instituto da Visão de
Curitiba, mesmo durante a pandemia, foram realizadas uma média de 200 cirurgias
de catarata mensalmente ao longo de 2021.
Hoje, já não há mais
motivos para tanto sofrimento e espera para conseguir um novo olhar sobre a
vida. Assim que a catarata é diagnosticada, a cirurgia já pode ser realizada,
sem que seja necessário aguardar pelo seu "amadurecimento", o
comprometimento das nossas funções diárias e, no pior dos casos, a perda
completa da visão.
Diante
de tantos aprimoramentos, o procedimento abandonou o posto de uma cirurgia
complexa, antes realizada somente em últimos casos, quando não havia mais
nenhuma outra opção, para ocupar o local de uma cirurgia segura, rápida e com
altas chances de uma recuperação bem-sucedida.
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