Após ler inúmeras reportagens e pesquisas sobre o futuro do trabalho previsto para 2022 – com o aumento da vacinação e uma possível melhora da pandemia – me deparei com vários paradoxos. Percebi que estamos vivendo situações até então inimagináveis e, principalmente, contraproducentes. Isso me levou a refletir sobre cinco grandes paradoxos que iremos enfrentar no próximo ano:
#1 - Falta oportunidades ou há
escassez de profissionais?
Já há algum tempo, o Brasil sofre com
altas taxas de desemprego, que chegaram a ultrapassar a marca dos 14 milhões em
2021, segundo dados do IBGE. Por outro lado, temos vagas sobrando,
principalmente na área de TI. Esse abismo foi ainda mais acentuado durante a
pandemia, quando os profissionais com menos qualificação foram justamente os
mais atingidos. E, se já não era preciso ter um vendedor disponível na loja
física, por outro lado, foi preciso um exército de profissionais para
contribuir com a tão “rotulada” transformação digital das empresas (que, na
minha opinião o termo correto deveria ser “transformação cultural”), levando-as
quase que do dia para a noite para o ambiente virtual. Tecnologia se tornou uma
questão de sobrevivência.
As universidades continuam incapazes
de formar a quantidade de profissionais demandada pelo mercado atualmente.
Sendo assim, cabe às próprias empresas iniciarem processos de treinamento
interno ou parcerias com empresas de educação especializadas, visando
reposicionar e qualificar seus profissionais. Antes mesmo da pandemia, esse
mercado já era marcado por autodidatas, pessoas que, com uma boa dose de força
de vontade e empenho individual, conseguem aprender novas funções e habilidades
técnicas e, como profissional de seleção de talentos, posso dizer que isso se
tornou uma habilidade cada vez mais valiosa e procurada nos diversos perfis
profissionais de tecnologia. Posso dizer, sem sombra de dúvidas para quem está
começando a carreira, que há um mar de oportunidades.
No entanto, ressalto que minimizar
esse gap entre oportunidades e escassez não é uma tarefa
exclusiva das empresas, mas também dos profissionais, que precisam se atualizar
constantemente.
#2 - Remoto ou presencial?
Voltar ou não para o escritório? Eis
o dilema da maioria das empresas. Vários paradigmas foram quebrados durante a
pandemia e, mesmo aquelas que não tinham políticas orientadas ao home-office,
perceberam seus benefícios. Algumas até se precipitaram, dizendo que não
voltariam mais ao modelo presencial e, à medida que a situação começou a ser
controlada, acabaram voltando atrás. Fato é que tanto as empresas perceberam
aumento na produtividade quanto colaboradores repararam o tempo perdido nos
deslocamentos e até em distrações típicas de um ambiente corporativo.
Agora, é hora de definir novas
políticas, criando trilhas de carreira específicas para quem vai se manter no
remoto, no presencial e no híbrido. Uma vez que a infraestrutura adequada ao
trabalho de casa foi estabelecida, assim como a adoção de ferramentas para
comunicação e colaboração, o momento será de empatia e negociação. Empresas
através de seus líderes e colaboradores terão que chegar a um consenso sobre o
que funciona melhor para os dois lados.
#3 - Alta produtividade ou
esgotamento físico e mental?
Sem ter que ir ao escritório, muitos
profissionais passaram a iniciar a jornada mais cedo e terminar mais tarde. A
produtividade explodiu, assim como o esgotamento físico e principalmente,
mental. Uma pesquisa realizada pela Yoctoo apontou que mais de 40% dos
profissionais relataram piora na saúde física e mental durante a pandemia. Foi
uma mistura perigosa entre o excesso de trabalho – marcado principalmente por
uma rotina intensa de reuniões – com a ausência de atividades físicas, sociais
e de lazer, somadas ao medo da Covid-19.
Como consequência, as empresas
descobriram que era necessário aprender a lidar com a saúde dos colaboradores –
indo muito além dos convênios médicos. Muitas investiram em plataformas que
permitiam terapias à distância, atividades físicas para serem feitas dentro de
casa com o auxílio de um profissional da área, ao vivo e online, entre tantos
outros recursos que surgiram para driblar a situação emocional extremamente
negativa. Eis aqui um legado que deve perdurar, já que a pandemia evidenciou a
necessidade de cuidarmos mais de nós mesmos e das nossas relações, sejam elas
pessoais ou de trabalho.
4 – Carreira única ou Multicarreiras?
Enquanto alguns mergulharam
profundamente em suas carreiras atuais, outros se abriram para a possibilidade
de diversificar. Assim, nasceu o termo slash, cunhado
pela especialista em futuro do trabalho, Marci Alboher, que define o
indivíduo que possui mais de uma atividade em segmentos distintos, ao mesmo
tempo. Algo inimaginável para gerações anteriores.
Passando mais tempo em casa, abriu-se
espaço para reflexões do tipo: o que, de fato, é importante para mim? Com
empregos menos seguros e estáveis diante da crise, muitos buscaram um plano B –
que em alguns casos, após um período de adaptação, até se tornaram a primeira
opção. Mais que um complemento à renda, a diversificação nas carreiras
evidencia a necessidade de autorrealização, onde se cogita até a possibilidade
de ter um emprego para ganhar dinheiro e outro para trazer mais realização
profissional. Afinal, um emprego preenche o presente, uma carreira preenche uma
vida.
5 - Hard ou soft skills?
Se aprendemos algo sobre isso nessa
pandemia é que o conhecimento é perecível. Aquilo que resolvia o problema do
meu cliente até ontem, hoje pode já não servir de muita coisa. Nesse sentido, o
debate sobre as habilidades técnicas e comportamentais se reacendeu. E, mais do
que nunca, ambas precisam andar lado a lado.
As soft skills são
uma tendência, um diferencial. Muito disso se deve ao fato de que não adianta
ter bons técnicos, mas que não entendam sobre o negócio da empresa, o seu papel
dentro da organização e o impacto do que ela traz para o mundo. O pensamento
crítico segue sendo a principal competência do futuro. Temos que ser capazes de
enxergar o todo – e não somente as partes que nos cabem. Isso coloca em xeque a
maneira como fomos educados. Não temos que aprender algo para passar nas
provas. Temos que sair da bolha, ter repertório, experiências diferentes,
valores e, principalmente, atitudes positivas.
Por isso, termino esse artigo dizendo
que para 2022, a palavra de ordem será encontrar o equilíbrio entre todos esses
paradoxos. O mercado deve apresentar um cenário econômico mais favorável, com
uma maior tendência à estabilização do que vimos em 2020/2021. Caberá aos
profissionais e, especialmente aos líderes, estar atentos às oportunidades
dentro e fora de suas organizações, além de ouvir e observar o que atende
melhor os seus times para, assim, trazer mais leveza e eficiência na
transformação cultural que inevitavelmente suas empresas passarão neste novo
mundo pós-pandemia.
Paulo Exel - administrador de empresas com MBA em Gestão Estratégica de
Negócios e Certificação Profissional em Coach. Apaixonado por pessoas e
tecnologia, há 13 anos atua como headhunter de Tech & Digital. Desde 2017,
está no comando da operação da Yoctoo na América Latina. É palestrante e tem
diversos artigos publicados na mídia.
Yoctoo
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