Uma
pesquisa publicada na revista científica The Lancet demonstrou que a vacina
contra o HPV reduziu significantemente as taxas de câncer de colo do útero e
também as lesões pré-cancerígenas graves (CIN3), reforçando ainda mais a
importância da imunização contra a doença
Um estudo inglês,
publicado pela revista científica The Lancet na quarta-feira, 3 de novembro,
apontou que a vacina contra o HPV pode reduzir em até 87% as taxas de câncer de
colo do útero. Além disso, os resultados mostraram também que o imunizante é
capaz de diminuir os casos de lesões pré-cancerígenas graves (CIN3).
Aproximadamente, 90%
dos casos de câncer de colo do útero ocorrem por causa da infecção pelo
Papilomavírus Humano (HPV). A infecção sexualmente transmissível é a mais comum
em todo o mundo, atingindo de forma massiva as mulheres. Segundo o Ministério
da Saúde, 75% das brasileiras sexualmente ativas entrarão em contato com o HPV
ao longo da vida, sendo que o ápice da transmissão do vírus se dá na faixa dos
25 anos. Após o contágio, ao menos 5% delas irão desenvolver câncer de colo do
útero em um prazo de dois a dez anos.
"Na grande
maioria dos casos, o câncer de colo do útero é causado por uma infecção
persistente por alguns tipos oncogênicos do Papilomavírus Humano (HPV). A
infecção genital por HPV é muito frequente e, na maioria das vezes, é
assintomática e autolimitada, com grande parte das mulheres resolvendo esta
infecção até os 30 anos de idade. Em alguns casos, porém, pode haver a
persistência do vírus nas células do colo do útero, e isso promove as
alterações celulares que podem progredir para o desenvolvimento de
câncer", explica Marcela Bonalumi, oncologista do CPO Oncoclínicas.
Os resultados da
pesquisa foram feitos a partir da imunização de meninas de 12 e 13 anos, na
Inglaterra, que começou a ser realizada no país em 2008 com a vacina bivalente
- que protege contra os tipos 16 e 18 do HPV. Até o ano de 2010 houve uma
repescagem para adolescentes de 14 e 18 anos. Os pesquisadores fizeram também o
acompanhamento de mulheres de 20 a 30 anos com câncer de colo do útero neste
período. A partir de 2012, a Inglaterra passou a usar a vacina quadrivalente -
que atua contra os tipos 6, 11, 16 e 18 do HPV.
Para as que receberam
a vacina com 12 e 13 anos, a redução dos casos de câncer foi de 87% e das
lesões pré-cancerígenas graves de 97%. Já as que receberam com 14 e 16 anos,
houve a diminuição de 62% nos casos de câncer e 75% em lesões pré-cancerígenas
graves. Por fim, as que receberam o imunizante entre 16 e 18 anos tiveram uma
queda de 34% nas taxas de câncer e 39% em lesões pré-cancerígenas graves,
segundo o estudo. Vale lembrar que a comparação foi feita em relação à
população não vacinada.
De acordo com o
Instituto Nacional do Câncer (Inca), o tumor de colo de útero atinge mais de 16
mil mulheres no Brasil por ano - o que faz ele ser o terceiro tipo de câncer
mais prevalente entre a população feminina. Por ser considerada uma doença bastante
silenciosa, cerca de 35% dos casos são levados a óbito.
Prevenção é tudo!
Segundo a
especialista, evitar o contágio pelo HPV é a prevenção primária do câncer do
colo do útero. Como a transmissão ocorre através do contato, o uso de
preservativos (camisinha masculina ou feminina) durante a relação sexual
protege apenas parcialmente contra a doença. Não é possível afirmar que a
proteção seja total porque o contágio também pode ocorrer pelo contato com a
pele da vulva, a região perineal, perianal e a bolsa escrotal.
Diante dessa
realidade, Marcela Bonalumi ressalta a relevância do foco no incentivo à
vacinação contra o HPV, ferramenta essencial na luta contra o câncer do colo do
útero. "A partir da imunização contra o HPV, é possível prevenir não só o
câncer de colo do útero, mas também o de vulva, ânus e vagina nas mulheres e de
pênis nos homens. Além disso, essa proteção pode auxiliar na precaução de
lesões pré-cancerosas. Vale lembrar ainda que a vacinação deve acontecer antes
do início da vida sexual, justamente por conta da exposição ao vírus. Por isso,
é fundamental alertar e incentivar esse cuidado com informação de
qualidade".
Desde 2014, a vacina é
oferecida nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) de todo o Brasil para meninas de
9 a 14 anos de idade e meninos de 11 a 14 anos. A cobertura vacinal contra o
HPV tem sido decepcionantemente baixa em todo o mundo e, apenas 1,4% de todas
as mulheres elegíveis, receberam um curso completo da vacinação contra o HPV.
Além disso, há iniquidade no acesso às vacinas contra o HPV: em regiões de alta
renda, 33,6% das mulheres entre 10 e 20 anos receberam o curso completo da
vacina contra o HPV, em comparação com apenas 2,7% nas regiões de menor renda.
Percebe-se, portanto, que a população de países que carregam a maior parte da
carga de doenças relacionadas ao HPV em todo o mundo tem menos acesso às
vacinas.
"Combinada à
vacinação, a realização do exame de rotina ginecológica, através do
Papanicolau, anualmente durante dois anos consecutivos e então uma vez a cada três
anos, dos 25 aos 64 anos de idade, é um meio importante de se tratar as lesões
pré-cancerosas ou agir rapidamente contra o câncer do colo do útero. Mesmo as
mulheres vacinadas devem fazer o Papanicolau periodicamente, pois a vacina não
protege contra todos os tipos oncogênicos de HPV. A proteção vacinal cobre os
Papilomavírus Humanos dos tipos 6 e 11 (que causam verrugas genitais), 16 e 18
(responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero)",
destaca a especialista.
O plano estratégico da Organização Mundial de Saúde (OMS) para a eliminação desta doença propõe uma meta de incidência de câncer do colo do útero de quatro ou menos casos por 100.000 mulheres/ano. Para atingir a incidência alvo, a OMS propõe metas de 90% das meninas vacinadas contra HPV aos 15 anos de idade, 70% das mulheres rastreadas duas vezes na vida (aos 35 e 45 anos) e 90% de adesão às recomendações de tratamento para as lesões pré-câncer e invasivas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário