Nunca é tarde demais para encarar o mundo digital. Minha mãe me provou isso aos 83 anos, quando perdeu o medo da tecnologia e decidiu aprender a usar o celular. Um processo difícil e um pouco solitário, porque foi o isolamento da pandemia que a fez perceber como a tecnologia poderia ser uma aliada para diminuir a distância de familiares e amigos. O fato é que a presença digital já não diz respeito apenas aos jovens e adultos. E isso não é só um retrato momentâneo, é também uma tendência que mudará para sempre a forma como a sociedade consome produtos e serviços.
Sim, os 80 são os novos 50. As gerações mais velhas
estão encontrando na tecnologia meios para envelhecer melhor. Quando pensamos
na covid-19, concluímos que a utilização dessas ferramentas tornou-se essencial
ao grupo de risco. Minha mãe mesma está presente em mais redes sociais do que
eu. Isso mostra que idosos têm descoberto que o digital pode dispor de
ferramentas poderosas para minimizar o distanciamento social, dar autonomia e
desenvolver funções mentais. Eles querem estar por dentro do que acontece no
mundo, saber tudo sobre política, economia e saúde.
Mas, se para os jovens não é fácil acompanhar
tantas atualizações do universo digital, para os idosos essa tarefa se torna
ainda mais complicada. Só fui entender a dimensão dessa dificuldade quando
acompanhei de perto o contato inicial da minha mãe com a tecnologia. Foi aí que
percebi a necessidade de iniciativas, como cursos de capacitação para a
terceira idade, começando pelas funções do smartphone, que pudessem diminuir os
desafios e as barreiras que surgem na utilização de dispositivos. Enviar uma
foto ou um áudio, participar de uma conversa de vídeo ou ainda encaminhar um
arquivo são tarefas que se tornaram essenciais, mas não faziam parte da rotina
dessas pessoas.
E é sim possível tornar mais fácil o uso de
celulares e computadores. O primeiro passo seria as empresas de tecnologia se
preocuparem com a experiência do usuário e a interface digital. Fontes e áreas
de clique maiores, contraste de cores, atenção ao uso exagerado de elementos e
informações claras de uso são alguns poucos exemplos do que precisa ser
aplicado para facilitar a utilização de produtos digitais por idosos. Mais do
que nunca, as empresas de tecnologia têm o dever de pensar em soluções para
ajudar na inserção dos idosos nesse universo.
Estamos caminhando para um futuro cada vez mais
digital e idoso. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), o Brasil, em 2016, tinha a quinta maior população idosa do
mundo; em 2030, terá mais velhos do que jovens e, em 2050, a população acima
dos 60 anos será o dobro do contingente de crianças e adolescentes com menos de
14 anos. Até lá, a tecnologia já será uma parte intrínseca do nosso dia a dia e
não faltarão ferramentas para tornar a vida mais segura. Por isso, a inclusão
digital desse grupo mais vulnerável já é iminente e novos hábitos precisarão
ser incorporados a partir dessa virada de chave. Terceira idade e tecnologia
combinam, sim.
Ozires de Oliveira - gerente de Serviços e gestor de Ação e Responsabilidade Social no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI)
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