Opinião
Pessoas com algumas décadas de experiência, não raro, desenham paralelos
entre distintas épocas - eu ao menos sou assim. O acúmulo de vivências
permite-nos comparar momento X com momento Y, levando-nos a conclusões
particulares.
Sempre que retrocedo o pensamento à década de 70, quando cursava
doutorado em Cardiologia na Universidade Federal de São Paulo, vêm-me uma série
de boas lembranças. Recordo dos mestres que nos orientavam a cuidar dos pacientes
com humanismo, a valorizá-los e tratá-los com respeito.
Uma formação valorosa que posteriormente levei a milhares de estudantes
de Medicina (hoje médicos) para os quais ministrei aulas e com os quais compartilhei
conhecimentos. Nada é mais essencial em nossas carreiras do que olhar para os
pacientes como seres únicos, simplesmente como gente!
São absolutamente equivocados e maus profissionais os que veem um
enfermo só como um número de quarto de hospital ou a bandeira de um plano de
saúde, que nem sabem o nome dos que atendem. Atendem?
Essa convicção é marca que levo por onde passo. Agia e pensava igual e
coerentemente ao ser secretário executivo da Comissão Nacional de Residência
Médica; como diretor do Departamento de Residência e Projetos Especiais na
Saúde da Secretaria da Educação Superior do Ministério da Educação; na Escola
Paulista de Ciências Médicas, que fundei e tive a honra de dirigir.
Digo, com orgulho, que fiz de hospitais minha morada, para permanecer ao
lado dos pacientes em horas difíceis. O médico com M maiúsculo é assim.
A Medicina exige aprendizado contínuo, requer entrega e atualização.
Aliás, a atualização é ponto chave. É preciso estudar demais, ter coragem para
enfrentar as doenças mesmo quando escapam do conhecimento e resiliência para
enfrentar o desconhecido.
É possível aprender com os livros, mas avançamos tanto ou mais passando
noites ao lado dos pacientes. Isso é algo que sempre fiz, com satisfação. Nunca
deixei um paciente meu em estado grave sozinho.
A boa Medicina não combina com pressa. Se preciso, temos de ficar duas,
três ou quantas horas forem necessárias com o paciente. O importante é resolver
o problema; isso não se mede em tempo.
Minha área de atuação, a Clínica Médica, tem capacidade de resolver 80%
dos casos. O especialista é para coisas específicas, como a nomenclatura
indica. Daí a Clínica Médica ter papel primordial na saúde pública.
Hoje, por oportunismo, alguns ditos médicos, pessoas 100% carreiristas,
tentam mudar o nome da Clínica Médica, o que atenta contra um património dos
pacientes. Certamente o fazem por interesses escusos, inconfessáveis.
Sigo firme em defesa da correção. Por mim, não passarão. Meu compromisso
e o da Clínica Médica é com os pacientes e a saúde de qualidade.
Antônio Carlos Lopes - presidente da Sociedade Brasileira de
Clínica
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