A proximidade da
Black-Friday com as promoções irresistíveis é ansiosamente aguardada pelos
consumidores do país. Este tradicional evento que ocorre na última sexta-feira
de novembro (neste ano a data será no dia 26), também é ansiosamente aguardado
pelos varejistas em razão do aumento expressivo de vendas tanto nas lojas
físicas quanto nas virtuais. O aumento expressivo da digitalização do varejo
físico em razão da pandemia, aliado à facilidade de compras on-line pelo
consumidor, potencializou a demanda deste tipo de negócio, que não foi
plenamente acompanhado pelas operações logísticas no que diz respeito ao nível
de serviço das entregas desejadas pelos consumidores.
A ocorrência de falhas
no nível de serviço, tais como atrasos, mercadorias trocadas e avariadas são
comuns em situações de picos de demandas como a Black-Friday, por exemplo. A
necessidade que os principais operadores logísticos de market-place possuem de
contratação de mão de obra para suprir o aumento de demanda pontual é o
principal elemento que pode gerar os problemas de nível de serviço. Cabe
lembrar que os novos colaboradores contratados necessitam de treinamento
adequado e isto acarreta certo tempo para adequação às necessidades de
normalização das operações. Este tipo de problema ocorre na maior parte das
vezes no ambiente de operações do armazém onde os produtos estão estocados. As
falhas podem ocorrer na coleta de produtos para embalagem, na elaboração da
embalagem, no endereçamento do produto e no embarque do produto. É um conjunto
de operações realizadas por mão de obra nem sempre especializada a tempo de
assegurar uma entrega de "pedido perfeito" (produto certo, quantidade
certa, tempo certo e sem avarias), comumente conhecido no ambiente logístico
como indicador OTIF - On Time In Full (pedido entregue no prazo, na sua
totalidade e sem avarias).
Esse cenário apresenta
uma excelente oportunidade de implantação de automação dos processos de armazém
nas empresas que operam a logística do e-commerce. A elevada quantidade de
entregas, a grande quantidade de tipos de produtos e o excessivo fracionamento
de pedidos tornam o conjunto de operações de armazéns de e-commerce um ambiente
amplamente favorável à "Logística 4.0".
A denominação de
logística 4.0 é derivada da designação de "Indústria 4.0". Essa
expressão remete às bases de automação de operações de chão de fábrica, aí
incluída as etapas de logística. Quando se trata de ambientes complexos, tais
como as operações de armazéns que atendem e-commerce, a logística 4.0 é uma
solução que apresenta viabilidade técnica e econômica em curto prazo, se
levarmos em conta os prejuízos de falhas de nível de serviço como elemento de
compensação de custos. A logística 4.0 é um composto de uso de tecnologia, que
converge para o atendimento de pedido perfeito com um nível de qualidade
próximo à perfeição, também chamado de "Método Six Sigma", cujo
indicador de desempenho tem como alvo um erro aproximado de apenas 4 operações
para cada milhão de operações realizadas.
Para que a Logística
4.0 ocorra e os consumidores tenham seus pedidos atendidos à perfeição, é
necessária a realização de investimento pesado em equipamentos tecnológicos
avançados tais como: RFID e NFC (transponders, antenas coletoras e sistemas de
controle), robôs paletizadores, robôs de coleta, esteiras para separação de
pedidos de forma automática (picking), além de ferramentas computacionais tais
como pacotes dotados de inteligência artificial, adoção de blockchain para
rastreabilidade das informações captadas pelo RFID e NFC, pacotes de data
minning para captar dados que constam em Big-datas (grandes bancos de dados
gerados pelas informações dos blockhain) e que estão invisíveis aos olhos até
dos mais experimentados profissionais. Um estudo informal conduzido em aula na
Universidade Presbiteriana Mackenzie, apontou para um retorno de investimento
sobre a compra de equipamentos de automação de até 3 anos para robôs
paletizadores, com utilização em três turnos de trabalho).
A adoção da logística
4.0 seria um importante passo para que as operadoras logísticas erradiquem as
perdas por falhas no OTIF (entrega de pedido perfeita), principalmente nos
picos de demanda de consumo como o Black Friday, Natal, Dia das Mães, etc., e
com excelentes possibilidades retorno no curto e médio prazo.
Mauro Roberto Schlüter
- professor de
Logística da Universidade Presbiteriana Mackenzie Campinas.
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