Pesquisa do UNICEF em 21 países compara as visões de adolescentes e jovens com as dos adultos sobre como é ser criança e adolescente no mundo de hoje. Lançamento marca semana do Dia Mundial da Criança, comemorado em 20 de novembro
Nova Iorque/Brasília -
Adolescentes e jovens de 21 países
estão mais otimistas do que os adultos quanto ao futuro. No Brasil, no entanto,
esse índice de otimismo é um dos mais baixos entre os países analisados. É o
que revela pesquisa lançada nesta quinta-feira pelo UNICEF e o Gallup, em
comemoração ao Dia Mundial da Criança, celebrado em 20 de novembro. O estudo
compara a visão de adolescentes e jovens (15 a 24 anos) com a de adultos
maiores de 40 anos sobre como é ser criança e adolescente no mundo de hoje,
mostrando as diferenças entre gerações.
Nos 21 países analisados, adolescentes
e jovens são mais propensos do que os adultos a acreditar em um futuro melhor.
Ao serem perguntados se o mundo está se tornando um lugar melhor para cada nova
geração, 57% deles disseram que sim, versus 39% dos adultos. No Brasil, o
índice de otimismo foi o segundo mais baixo, atrás apenas do Mali, país da
África ocidental. Somente 31% dos adolescentes e jovens brasileiros, e 19% dos
adultos, acreditam que o mundo está melhorando. As entrevistas foram realizadas
entre fevereiro e junho de 2021. É importante notar que no Brasil foram
realizadas entre o dia 23 de fevereiro e o 17 de abril, o pior momento da
pandemia de covid-19 no país.
"Não faltam motivos para o
pessimismo no mundo de hoje: mudança climática, pandemia, pobreza e
desigualdade, aumento da desconfiança e crescimento do nacionalismo. Mas aqui
está um motivo para otimismo: adolescentes e jovens se recusam a ver o mundo
através das lentes sombrias dos adultos", afirma a diretora executiva do
UNICEF, Henrietta Fore. "Em comparação com as gerações mais velhas,
adolescentes e jovens do mundo permanecem esperançosos, com uma mentalidade
muito mais global e determinados a tornar o mundo um lugar melhor. Eles se
preocupam com o futuro, mas se veem como parte da solução".
Saúde mental e engajamento por um mundo
melhor
Nos países pesquisados, adolescentes e
jovens de fato relatam uma maior incidência de problemas de saúde mental, em
comparação com os adultos. Entre adolescentes e jovens, 36% se sentem
frequentemente nervosos, preocupados ou ansiosos, e 19% se sentem deprimidos ou
com pouca vontade de realizar atividades cotidianas. Entre os adultos, foram
30% e 15%, respectivamente.
No Brasil, esses indicadores são
significativamente mais altos: 48% dos adolescentes e jovens (41% dos meninos e
54% das meninas) se sentem frequentemente nervosos, preocupados ou ansiosos, e
22% dos adolescentes e jovens (15% dos meninos, 28% das meninas) dizem
se sentir muitas vezes deprimidos ou com pouca vontade de realizar atividades
cotidianas, versus 39% e 11% respectivamente dos adultos.
Porém, o estudo mostra também que a
juventude não é ingênua e quer se engajar por um mundo melhor. Adolescentes e
jovens afirmam que o acesso a direitos melhorou, mas destacam a urgência de
ações dos governos para reverter as mudanças climáticas; afirmam ser
fundamental investir em saúde mental; e querem participar das decisões que
impactam sua vida. Na média dos 21 países, 58% dos adolescentes e jovens
disseram ser muito importante os políticos escutarem crianças e adolescentes
para tomar decisões. O Brasil ficou acima da média, com 61% dos adolescentes e
jovens respondendo positivamente a essa questão.
"Depois da ruptura mais longa da
educação presencial nas escolas devido à covid-19, e considerando o aumento do
trabalho infantil, da violência doméstica e da pobreza, é encorajante ver que
os adolescentes e jovens do Brasil querem se engajar por um futuro
melhor", ressalta a representante do UNICEF no Brasil, Florence Bauer.
"Esses resultados devem servir como um apelo para que os tomadores de
decisões criem mais oportunidades para que os adolescentes e jovens contribuam
para o desenvolvimento pós-pandemia. Com a sua criatividade e capacidade de
gerar abordagens inovadoras a grandes desafios nacionais e globais, podem fazer
uma diferença muito importante".
Educação e trabalho
Nos 21 países, adolescentes e jovens
acreditam que a própria infância foi melhor do que a de seus pais. Eles afirmam
que a maioria das crianças e adolescentes de hoje tem mais acesso a saúde,
educação e proteção contra a violência do que as gerações anteriores.
O Brasil segue a tendência, com
destaque para a educação. Os brasileiros estão entre os que mais acreditam que
a qualidade da educação melhorou na última geração. O Brasil é, também, o
segundo país que mais acredita no poder da educação para a transformação
social. Mais da metade dos adolescentes e jovens brasileiros (59%) e dois
terços dos adultos (74%) citam a educação como o principal fator para o sucesso
- versus 36% e 34%, na média dos 21 países. Quando não citam a educação em
primeiro lugar, adolescentes e jovens brasileiros defendem que o trabalho árduo
é o fator mais importante para ter sucesso (27%).
Em todos os países, tanto adolescentes
e jovens (59%) quanto adultos (56%) concordam que as crianças de hoje sentem
uma pressão maior para ter sucesso. No Brasil, foram 69% e 63%,
respectivamente.
Mudanças climáticas
As mudanças climáticas estão entre as
grandes preocupações da juventude no mundo. Nos 21 países, quase três quartos
dos adolescentes e jovens que estão cientes das mudanças climáticas acreditam
que os governos devem tomar medidas significativas para enfrentá-las. A
proporção é ainda maior em países de renda baixa e média-baixa (82%), onde o
impacto das mudanças climáticas costuma ser maior. No Brasil, são 73%.
Benefícios e riscos da tecnologia
Nos 21 países, adolescentes e jovens
são mais propensos a usar a internet todos os dias, em comparação com os
adultos. No Brasil, 91% dos adolescentes e jovens dizem acessar diariamente a
rede, versus 67% dos adultos. Os dados brasileiros se assemelham à média dos
países ricos - 92% e 73%, respectivamente.
Quando perguntados sobre o uso da internet
por crianças, os adolescentes e jovens se mostraram mais positivos do que os
adultos. Nos países pesquisados, eles acreditam que a tecnologia traz
benefícios para crianças e as ajuda muito a aprender (72%) e se divertir (62%).
No entanto, a maioria dos adolescentes e jovens vê sérios riscos para as
crianças online, como assistir a conteúdo violento ou sexualmente explícito
(78%) e sofrer bullying (79%).
Adolescentes e jovens brasileiros estão
entre os que mais se preocupam com os riscos da tecnologia para as crianças. No
Brasil, 82% disseram ser muito arriscado uma criança conhecer uma pessoa
estranha na internet e ir encontrá-la pessoalmente - versus 71% na média dos 21
países. O Brasil é, também, um dos países em que adolescentes e jovens mais se preocupam
com a proteção de seus dados online (43%, versus 25% na média dos 21 países).
Confiança na ciência, na mídia, nos
governos e nas redes sociais
A pesquisa - conduzida durante o pior
momento da pandemia - descobriu que adolescentes e jovens confiam mais do que
os adultos nos cientistas (56% versus 50%), na mídia internacional (36% versus
30%) e nos governos (33% versus 27%) como fontes de informação segura. Com
relação às redes sociais, os níveis de confiança são baixos nos dois grupos -
17% entre adolescentes e jovens e 12% entre os adultos.
No Brasil, há uma grande diferença
geracional com relação à confiança no governo como fonte de informação, com um
índice de confiança de 14% entre adolescentes e jovens, e 23% entre adultos.
Um mundo mais global e solidário
A pesquisa revelou, ainda, que
adolescentes e jovens são muito mais propensos do que os adultos a se ver como
cidadãos globais e defender a cooperação internacional para enfrentar ameaças
como a pandemia de covid-19. Em quase todos os países pesquisados, a grande
maioria dos jovens relatou que seus países estariam mais seguros de ameaças
como a covid-19 se os governos trabalhassem em coordenação com outros países,
em vez de sozinhos.
Além disso, adolescentes e jovens - em
especial mulheres - lideram a pressão pela igualdade de tratamento das pessoas
LGBTQIA+. Eles querem um mundo com mais direitos, para cada criança e
adolescente, sem exceção.
Dia Mundial da Criança
"Adolescentes e jovens
personificam o espírito do século 21", disse Fore. "Enquanto o UNICEF
se prepara para comemorar seu 75º aniversário no mês que vem, e às vésperas do
Dia Mundial da Criança, é fundamental ouvirmos adolescentes e jovens sobre seu
bem-estar e como a vida deles está mudando".
Sobre a pesquisa
A pesquisa The Changing Childhood
Project é a primeira a perguntar a várias gerações sobre suas opiniões
sobre o mundo e como é ser uma criança e um adolescente hoje. Para o projeto, o
UNICEF fez parceria com a Gallup para entrevistar mais de 21 mil adolescentes,
jovens e adultos em 21 países entre fevereiro e junho de 2021. Todas as
amostras são baseadas em probabilidades e nacionalmente representativas de duas
populações distintas em cada país: pessoas de 15 a 24 anos e pessoas com 40
anos ou mais. A área de cobertura é todo o país, incluindo áreas rurais, e a
base de amostragem representa toda a população civil, não institucionalizada,
dentro de cada coorte de idade com acesso a um telefone.
Os países pesquisados são: Alemanha,
Argentina, Bangladesh, Brasil, Camarões, Espanha, Etiópia, EUA, França, Índia,
Indonésia, Japão, Líbano, Mali, Marrocos, Nigéria, Peru, Quênia, Reino Unido,
Ucrânia e Zimbábue.
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