A sexta-feira costuma
ser um dia de muitas alegrias para os brasileiros. "Sextou" tornou-se
um verbo em homenagem ao fim do expediente e a expectativa do final de semana.
Todavia, nem sempre a sexta-feira teve este mesmo sentido. Tradicionalmente, a
sexta-feira possui um sentido ligado à tristeza ou ao infortúnio. A sexta-feira
mais conhecida da História remete à morte de Jesus Cristo, único dia do ano em
que missas e cultos não se realizam. Na mitologia nórdica, há a história de um
banquete em que Loki, ao não ser convidado para um jantar organizado por Odim,
matou um dos convidados. No século XIV, o rei Felipe IV entrou em conflito com
a Igreja Católica e tentou adentrar a ordem religiosa dos Cavaleiros
Templários, sendo negada sua admissão. Descontente com tal decisão, o Rei teria
ordenado a perseguição dos templários em uma sexta-feira, 13 de outubro de
1307. De lá pra cá, a sexta-feira 13 ganhou maior notoriedade nas telas de
cinema, quando o assassino Jason aterrorizou diversas pessoas em suas várias
edições.
No caso da chamada Black
Friday, a primeira vez em que este termo apareceu foi em setembro de 1869,
quando Jay Gould e James Fisk, dois especuladores, ludibriaram o sistema
financeiro norte-americano ao especularem em torno da compra e venda da
distribuição do ouro, então principal fonte de lastro. Quando o governo
descobriu a engenharia trapaceira, interviu na correção da especulação,
aumentando a quantidade de ouro no mercado, o que fez com que os preços caíssem
e muitos investidores perdessem investimentos.
Embora passível de
discussões, o sentido contemporâneo da Black Friday surgiu através da Factory
Management and Maintenance - uma newsletter voltada para informações
relativas ao mercado de trabalho. De acordo com Bonnie Taylor-Blake,
pesquisador da Universidade da Carolina do Norte, em 1951, uma circular fez
rodar uma notícia que afirmava haver uma síndrome da sexta-feira pós-Dia de
Ação de Graças, quando muitos trabalhadores alegavam sentir diversos tipos de
enfermidades ao terem que trabalhar nessa data específica.
Nas décadas de 1950 e
1960, quando a cultura do consumo espraiou-se pelos EUA, sua população começou
a encher ruas e avenidas em busca das melhores ofertas. Porém, nesse período, o
termo Black Friday ficou conhecido apenas na região da Filadélfia,
atravessando algumas outras regiões em menor escala. Foi nos anos 1990, com a
explosão do neoliberalismo e o fim do comunismo enquanto sistema alternativo à
modernidade, é que a expressão Black Friday ganhou maior notoriedade e
relevância. A partir do barateamento mundial das mercadorias, quando diversas
fábricas e empresas migraram para países com baixo custo de produção, além do
desenvolvimento financeiro do sistema de crédito, a data passou a compor o
calendário de compras da sociedade norte-americana e de várias outras nações.
No Brasil, a primeira Black
Friday teve início no ano de 2010, quando o governo Lula estimulou os
consumidores a saírem de casa e consumirem à vontade, como uma forma de conter
os danos causados pela Crise de 2008. Como o sistema de crediário recebeu
grande suporte governamental, as empresas brasileiras resolveram adotar a data
como uma forma de aquecer o consumo antes do Natal, criando praticamente dois
Natais em três meses. Em uma década, a Black Friday tornou-se uma data
oficial da cultura do consumo nacional, sendo aguardada por muitos e aprimorada
ano após ano com a modernização das compras online.
Victor Missiato - doutor em História,
professor do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília e membro do grupo
Intelectuais e Política nas Américas (UNESP/Franca).
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