A
educação dos filhos permanece sendo um desafio que exige atenção, dedicação e,
sobretudo, muito carinho. Invariavelmente, o ritmo estressante do dia a dia nos
envolve de tal modo, que nos afastamos da família e dos filhos sem ter a real
percepção do quanto, quando e como a educação se dá.
A
falta da companhia dos pais junto a seus filhos, uma ausência que tem se
tornado regra e não exceção, e o déficit em quantidade e qualidade na relação
familiar, contribuem para que o afastamento físico se transforme num
afastamento socioemocional com consequências diversas, que podem se manifestar
no presente, mas também no futuro.
Conciliar
os compromissos profissionais e familiares nunca foi tarefa fácil, mas o
gerenciamento do tempo tem se mostrado fundamental no sentido de cultivar uma
boa relação com a família, o que demanda aprimorar a quantidade e,
principalmente, a qualidade dessa relação entre os seus membros. Diante da
inaptidão para cuidar dessa realidade relacional; muitos pais mergulham nos
seus afazeres, visando suprir materialmente e com atividades excessivas a
ausência no relacionamento afetivo com os filhos.
Nunca
é demais lembrar que as crianças aprendem também por imitação, observando
nossas atitudes, a expressão de nossos valores e ouvindo nossas palavras. As
crianças, desde cedo, aprendem o tempo todo com sua família, sobretudo, pelo
exemplo, pelo modo como os adultos agem e como lidam com os problemas. Não
raras vezes, as famílias podem formar “pequenos tiranos” – crianças que não
pedem, simplesmente exigem. Tal conduta dá margem para que elas cresçam desrespeitando
seus professores, avós, babás, cuidadoras e outras pessoas de sua convivência.
“Nascem” crianças que mandam em seus pais, com ansiedade demais e uma
impaciência tal que, normalmente, elas gritam e reclamam de qualquer esforço,
pois abdicaram de cultivar bons hábitos e as virtudes mais básicas da
cidadania.
Contra
esse caótico déficit de interioridade, eu acredito na força educativa dos pais
para formar filhos saudáveis e equilibrados. As ações e valores cultivados no
seio familiar são singulares no desenvolvimento do caráter e da personalidade
das crianças. Negligenciar esse tempo de aperfeiçoamento do caráter pode nos
aproximar, perigosamente, de um modo de ser, como dizia Zygmunt Bauman: “Em que
esquecemos o amor, a amizade, os sentimentos, o trabalho bem-feito. Assim, o
que se consome, o que se compra são apenas sedativos morais que tranquilizam
nossos escrúpulos éticos”.
Hoje,
uma das ações mais desafiadoras para os pais no ambiente familiar é estimular
seus filhos à aprendizagem socioemocional e ao estabelecimento de relações
sociais e afetivas ainda melhores. Em parte, esse aprendizado não pode ser
distorcido com permissividades demasiadas, a ponto dos pais se sentirem
culpados quando dizem um “não” ao filho ou, ainda, dos pais errarem ao não agir
com firmeza na educação deles, deixando-os livres para fazerem o que bem
entendem.
Pais
permissivos demais, seja pela falta de tempo ou pelo amor dedicado sem qualquer
discernimento, correm o risco de não contribuir a contento na educação dos
filhos, pura e simplesmente por não exercerem a sua natural autoridade de
adultos na relação, o que impacta na formação da criança e na convivência
familiar. Assim, formam filhos com comportamentos inadequados, que só sabem
reagir com choro, raiva ou palavras desqualificadas.
O
esforço cotidiano no lar deve ser o de ensinar as crianças a serem
responsáveis, a dormirem no horário adequado, a verem programas construtivos na
TV, a terem tempo reservado para estudar, a guardarem seus brinquedos, a
cuidarem de seus pertences, dentre outras ações que requerem um esforço
conjunto, reforçando a parceria família-escola.
Ao
cumprirem bem a missão de educar os seus filhos, os pais colaboram para que
pessoas melhores construam um mundo melhor, com seres humanos mais equilibrados
e responsáveis.
Sueli Bravi Conte - educadora,
psicopedagoga, mestre em Neurociência e mantenedora do Colégio Renovação,
instituição de ensino com mais de 35 anos de atividades que atua da Educação
Infantil ao Ensino Médio e tem unidades nas cidades de São Paulo e Indaiatuba.
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