Professores da instituição analisaram ações empresariais de ajuda às vítimas e concluíram que é preciso que as organizações assumam o papel mais ativo
Estudo sobre a participação das empresas em ações contra a
violência doméstica, realizado por professores da área de Comunicação da
Faculdade Armando Alvares Penteado (FAAP), identificou que as organizações têm
desenvolvido projetos relevantes para ajudar as vítimas. No entanto, os
programas são de curto prazo e não conseguem promover uma mudança efetiva de
cultura.
O estudo “Políticas
empresariais durante a pandemia – Eixo 2: violência contra a mulher” busca apresentar o alcance e a compreensão que o setor
empresarial possui sobre a ideia de violência doméstica, como percebe a mulher
vítima desta forma de abuso e contribui para o reconhecimento deste público
para sua condição. Também busca saber quais ações são praticadas pelas empresas
e se a comunicação é dirigida para a sociedade em geral e para seu púbico
interno.
Para tanto, os pesquisadores analisaram seis programas
viabilizados e mantidos por empresas de grande e médio porte, desenvolvidos
diretamente por elas ou por meio de organizações sociais parceiras.
De acordo com uma das pesquisadoras, a professora Vera
Pacheco, todas as ações analisadas são positivas, mas as empresas precisam ir
além, assumindo papel de agentes do processo, ou seja, utilizar a expertise
empresarial e os contatos políticos para encaminhar propostas transformadoras.
Para a professora Mônica Rugai Bastos, que também participou do
estudo, as empresas precisam tomar atitudes como a criação de grupos
colaborativos, a identificação de formas de intervir em comportamentos, por
meio da criação de legislação para discriminar os agressores, ou novas
propostas de educação. “É
preciso que usem sua influência de forma política para defender interesses
sociais mais gerais e não apenas seus interesses econômicos”, diz.
Confira as principais conclusões do estudo:
- As ações visando a violência psicológica, patrimonial e
sexual são as que mais têm presença nas empresas pesquisadas.
- Também são tomadas ações no campo da violência
patrimonial, de forma que uma rede de apoio possa dar a segurança mínima
que a mulher precisa para não se ver desprovida de seus recursos.
- No que se refere à violência sexual, uma das
áreas de ação é a de instrumentalizar as mulheres para que ajudem outras
mulheres que se encontram nas mesmas condições, o que cria um círculo
virtuoso de ações em cadeia de enfrentamento, conscientização e apoio a
outras vítimas.
- Apenas 2 entre 6 projetos pesquisados promovem ações em
relação à minimização dos efeitos psicológicos da violência sexual.
- No caso da violência física, 4 dos 6 projetos
agem no sentido da mulher poder alcançar autonomia financeira.
- No quesito violência moral, percebe- se que a
mulher vítima, na maioria dos casos, não é reconhecida como interlocutora
nas ações desenvolvidas pelas empresas, seja porque não contemplam esse
aspecto, seja porque suas ações são de apoio a ONGs com foco na situação
da mulher.
- Ao se analisar como os programas lidam com os
agressores, a esmagadora maioria não empreende a ação legal de busca de
punição pela agressão realizada.
- Não se observa a busca do engajamento da sociedade em
geral nestas ações, seja na
formação de laços de proteção ou instrumentalização de grupos de apoio às
vítimas. Tampouco se observa o chamado à reflexão da sociedade sobre esta
temática, o que também significa que os projetos não agem no campo
legislativo.
- Também não se pode observar nenhuma busca de parcerias
financeiras que possam suportar estas ações das empresas ou das ONGs.
- As ações empreendidas são positivas. No entanto,
não mudam as condições culturais e de mecanismos sociais que perpetuam a
presença destas formas de violência doméstica contra a mulher. As
ações têm o escopo imediato, em caráter de urgência, o que pode significar
a diferença entre a vida e a morte de uma mulher.
- Tais ações são importantes para criar condições para
que a mulher saia de casa e se afaste do agressor, para que tenha
possibilidades de se manter, e aos seus filhos, financeiramente. As
ações, portanto, têm efeitos relevantes a curto prazo.
- Algumas empresas, infelizmente poucas, construíram um
aparato interno para a apuração e a consolidação de dados sobre a
violência contra a mulher antes mesmo da pandemia.
- As ONGs assumem, então, as tarefas transformadoras e as
empresas financiam esse setor.
Disponível no
site da FAAP, o estudo é o segundo de uma série que
está sendo desenvolvida pelo Núcleo de Inovação em Mídia Digital da FAAP para
avaliar as diversas ações do setor empresarial no período da pandemia. O
primeiro abordou as iniciativas contra a pobreza e pode ser encontrado aqui.
O estudo “Políticas empresariais durante a pandemia – Eixo 2:
violência contra a mulher” tem coordenação dos professores Vera Pacheco, Mônica Rugai Bastos,
José Luiz Bueno e Diogo Bornhausen. Também contou com a participação dos
alunos Anne Liz Góes Bruno e Giovanna Henriques Souza.
Fundação Armando Alvares Penteado - FAAP
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