Desinformação e questões políticas atrasam o seguimento da
vacinação nos EUA e dá sinais de preocupação também entre os brasileiros
A meta do governo americano era vacinar 70% da população até o dia 4 de julho e o não cumprimento gera ainda mais preocupação quando se vê o crescimento de casos pela variante Delta no país. Estimativa-se que ela seja a responsável pelo maior número de casos por lá e, no Brasil, os primeiros casos foram observados há cerca de 30 dias e já foram registradas duas mortes. Nesta semana, a variante indiana do Coronavírus foi identificada pela 1ª vez em um paciente da cidade de São Paulo.
Se nos EUA uma parte considerável da população ainda não escolheu se vacinar, seja por desinformação ou por questões políticas, no Brasil a disponibilidade de vacinas ainda é o principal problema, mas há também o medo que a descrença nos imunizantes prejudique a cifra mágica de 70% de vacinados, considerada necessária para se atingir a proteção da população. Para o pneumologista do HC-FMUSP e professor de pós-graduação da Sanar, Felipe Marques, esses pensamentos são arriscados e podem trazer consequências graves. “Não se vacinar ou ficar escolhendo vacina é uma decisão que afeta a todos, cada dia perdido é mais uma chance das variantes se fortalecerem e o Brasil não pode permitir que aconteça uma terceira onda”, explica o especialista.
Nas
redes sociais e nas filas dos postos de vacinação, é comum ouvirmos relatos de
pessoas que estão tentando “escolher a vacina” na hora de se imunizar. “É
importante lembrar que todas as vacinas aplicadas aqui tem eficácia acima de
50%, que é o recomendado pela Organização Mundial de Saúde”, destaca o médico e
professor. Sobre as pessoas que estão optando por não se vacinar esperando uma
vacina que consideram “melhor”, a opinião do especialista é bem direta. “Adiar
o recebimento da primeira dose significa se manter exposto, inclusive a
variantes mais graves, sem nenhum tipo de proteção adicional, portanto é uma
péssima escolha, além de não haver coerência científica ou racional”, finaliza.
Cidades tomam medidas contra “sommelier de vacina”
Diante
dos casos cada vez mais comuns de negativas de vacina pelas pessoas, algumas
prefeituras têm tomado medidas intensas. No twitter, o prefeito de Recife, João
Campos, informou que quem se recusar a receber o imunizante será bloqueado.
“Vacina boa é vacina no braço. Quem se recusar a receber o imunizante contra
covid-19 no centro de vacinação terá o agendamento bloqueado por 60 dias. Cada
pessoa vacinada ajuda a salvar muitas vidas. É inaceitável atrasar o processo
coletivo por querer escolher marca”, explicou a autoridade municipal. Já em São
Bernardo do Campo, na grande São Paulo, quem se recusa a tomar a vacina na
tentativa de escolher uma farmacêutica, tem que assinar um termo de
responsabilidade e é colocado automaticamente no fim da fila. A medida gerou
ótimos resultados e o número de recusas caiu drasticamente, saindo de 222 para
20 por dia. Também no twitter, o prefeito Orlando Morando comentou a
iniciativa: “Aqui em São Bernardo é assim: vacinar é um direito seu, ninguém
faz nada obrigado. Mas também é um direito nosso te colocar no fim da fila,
porque a vacina está disponível, você não vai tomar porque não quer. Escolher
vacina nós não vamos permitir”.
Felipe Marques da Costa - Graduado pela Universidade Federal do
Ceará, residência em Pneumologia pelo HC-FMUSP (2016), preceptor do serviço de
pneumologia HC-FMUSP (2017), especialista em Terapia Intensiva HC-FMUSP (2018)
e Doença Pulmonar Intersticial, Líder da equipe COPAN de pneumologia no
Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo. Coordenador da Pós-Graduação em
Medicina.
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